Pacientes de anestesista procuram polícia e pedem investigação por suspeita de estupro
Após reconhecerem Giovanni Quintella Bezerra nas reportagens veiculadas, ao menos três outras mulheres que foram sedadas por ele durante parto já buscaram a Delegacia da Mulher
Ao menos três pacientes de Giovanni Quintella Bezerra já foram à Delegacia da Mulher, para pedir uma investigação após terem reconhecido o médico anestesista na televisão.
Giovanni, de 32 anos, foi preso em flagrante nesta segunda-feira (11) depois de ter estuprado uma paciente sedada durante uma cesariana, no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, cidade da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Na manhã desta terça-feira (12) duas pacientes foram ouvidas pela polícia. Também prestaram depoimento duas médicas e outros seis funcionários do Hospital da Mulher.
Uma das pacientes, Naiane Guedes, que foi sedada por Giovanni há um mês, quando teve filho por cesárea no mesmo hospital na Baixada Fluminense, disse que reconheceu o anestesista na mesma hora que viu as imagens circulando na mídia. Segundo a mãe, ela nunca desconfiou ou imaginou que algo do tipo pudesse ter acontecido, mas relatou algumas situações incomuns.
“A gente confia na equipe que está nos atendendo. Nunca pensei… A gente não imagina. Quem não está intencionado para o mal, não imagina que o mal possa acontecer dessa maneira. Depois que ele me deitou, fez a sedação inicial e inseriu os remédios na veia, ficou falando o tempo todo no meu ouvido antes de eu apagar. Isso eu não achei correto. Eu tenho três cesárias e nas outras duas anteriores eles falavam normal. Nunca muito próximo do meu ouvido desse jeito”, relembrou.
Naiane, que é profissional da área de saúde, narra que após o nascimento do filho o marido precisou sair da sala onde ela estava. Foi quando Giovanni disse que ela precisaria ser sedada, após a mãe ter relatado um incômodo forte entre o ombro e a nuca.
“Ele disse que isso era normal, que era decorrente de uma laqueadura e que iria precisar me sedar. Depois não escutei mais nada”, disse. Segundo Naiane, não era possível imaginar, naquele momento, que algo de errado poderia ter acontecido.
“Só após a reportagem sair eu percebi que eu poderia ter sido uma possível vítima, mas ainda não tenho certeza. Quando eu o reconheci através das reportagens foi horrível. Passei mal, chorei. Porque não sou só eu, podem ser outras também. Estamos em um momento especial, confiando nossa vida a um profissional e estamos sujeitas a isso. Ele era tão descarado, tinha tanta certeza da impunidade, que fazia a poucos metros da equipe médica, com apenas um pano”, desabafou.
A mulher fez um apelo para que outras mulheres que realizaram algum procedimento com o médico procurem a polícia para que se abra uma investigação. Naiana também parabenizou as enfermeiras que filmaram o estupro que resultou na prisão de Giovanni.
“Dei um abraço nas enfermeiras, porque ter esse feeling vai além da profissão. Elas não aprendem isso. Humanidade não se aprende em sala. Elas tiveram uma atitude exemplar.”
Outra mulher que foi à delegacia nesta terça-feira, e que não quis ser identificada, relatou uma situação parecida com a que ocorreu com Naiana. Apesar de ressaltar que é difícil afirmar se houve qualquer coisa de anormal, a cuidadora, de 37 anos, estranhou alguns procedimentos.
“Foi um procedimento de cesariana e no momento que finalizou o parto eles pediram que meu companheiro se retirasse do centro cirúrgico. Nesse momento o dr. Giovani disse que iria me dar um sedativo para eu relaxar. Eu fiz algumas perguntas para saber qual o motivo”, conta.
Segundo a mulher, sua ida ao hospital foi uma emergência. “Uma gravidez delicada e fiquei preocupada quando ele me disse que precisaria me dar o sedativo. Ele disse que estava tudo bem que era somente para eu relaxar. No momento exato que ele aplicou a medicação eu apaguei. Eu acordei com ele saindo da sala e lembro de forma muito vaga, com visão muito embaçada ainda, ele passando na lateral da maca, limpando as mãos, ou tirando a luva, não sei exatamente qual era o movimento que ele estava fazendo.”
Ainda segundo a cuidadora, o que a deixou preocupada foi justamente esse momento de apagão após a sedação. Ela relata que já tinha passado por um outro procedimento de cesárea e que não havia apagado dessa forma. Porém, ela jamais havia imaginado uma situação de abuso. Questionada sobre como foi sua reação quando reconheceu o médico, ela disse que foi um susto enorme.
“Passa um filme na cabeça. O que ele fez comigo no momento do apagão? O que aconteceu? Será que ele conseguiu e chegou a fazer alguma coisa? É isso que se passa na minha cabeça agora. É dolorido demais. A gente não está saindo na noite com uma roupa indecente. Não estamos em um lugar que […] é a desculpa que usam né. Olha como ela sai, como ela fica, como se comporta. Eu não estou em uma situação dessa para usarem como desculpa”, desabafou.
O médico anestesista está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na capital, e unidade de triagem do sistema prisional fluminense. Agora, os peritos querem analisar vestígios de crimes semelhantes que possam ter sido praticados pelo médico em partos anteriores ao do flagrante.
De acordo com o Código Penal, o estupro de vulnerável tem pena de oito a 15 anos de reclusão, e se caracteriza quando a vítima é menor de 14 anos, enfermo ou deficiente intelectual, sem discernimento para a prática do ato ou sem condições oferecer resistência.
*Com informações de Stéfano Salles e Thayana Araújo