Operação policial no Complexo do Alemão dura cerca de 10 horas e deixa 18 mortos
Helicóptero da polícia foi atingido por tiro; uma metralhadora antiaérea foi apreendida
Dura mais de nove horas uma operação policial no Complexo do Alemão – um conjunto de comunidades – , na zona norte do Rio de Janeiro, comandada pela Polícia Militar (PM), com apoio da Polícia Civil.
A ação começou por volta das 5h desta quinta-feira (21) e até o momento são 18 mortes confirmadas pela PM. Entre elas, um policial, uma mulher de 50 anos que estava dentro de um carro na região e três homens apontados como suspeitos pela polícia.
Desde o começo da manhã, moradores da região registram em vídeo os confrontos no complexo de favelas. Um dos vídeos que circulam pelas redes sociais mostram um helicóptero da polícia sendo alvo de disparos enquanto sobrevoa a área.
Devido ao tiroteio, diversas vias estão bloqueadas, e, segundo a Secretaria Municipal de Transporte do Rio (SMTR), 13 linhas de ônibus tiveram o itinerário alterado em consequência da operação. Algumas creches também não estão funcionando.
Ainda de acordo com a Polícia Militar, 400 policiais da corporação e da Polícia Civil participam da ação, além de quatro aeronaves e 10 veículos blindados. Entre as armas apreendidas, a polícia encontrou uma metralhadora ponto 50 – capaz de derrubar helicópteros.
A corporação afirma que a operação tem como objetivo coibir um “grupo criminoso que vem empreendendo roubos a bancos e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades”. Foi informado ainda que a base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão foi atacada e que óleo foi derramado em algumas vias para impedir o acesso dos agentes.
Segundo a PM, o cabo Bruno de Paula Costa foi ferido por traficantes que teriam atacado a base da UPP de Nova Brasília, no Complexo do Alemão.
Ele chegou a ser socorrido no Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos. O cabo tinha 38 anos de idade e estava na Polícia Militar desde 2014. O policial era casado e deixa dois filhos.
Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) disse que está acompanhando a operação no Alemão e que vai adotar as medidas cabíveis. Segundo o MP, o órgão foi comunicado da operação pela PM do Rio às 5h40 e que a “análise do cumprimento da ADPF nº 635 será realizada posteriormente com a remessa da comunicação ao promotor natural”.
Diversos moradores relataram pânico e medo diante dos confrontos e que tiveram suas residências invadidas por policiais, para que os agentes pudessem utilizar os locais como ponto estratégico de ação. A PM ainda não se posicionou sobre estes relatos.
Uma moradora, que preferiu não se identificar, disse estar consternada após horas de confronto.
“É muita tristeza. Tem muitos feridos e mortos, muita gritaria e pedidos de ajuda. Há muitos moradores feridos que estão presos em casa, pois não tem como sair. A população está adoecida. Matam vinte e mil se revoltam. Há mães desesperadas tentando socorrer filhos feridos. Queria que o governador saísse e evitasse essa chacina”, desabafou.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), prestou solidariedade em suas redes sociais ao policial morto durante a operação.
“Toda vez que um policial é assassinado em combate é um pedaço de cada um de nós que morre junto. É uma derrota da sociedade. Vou continuar combatendo o crime com todas as minhas forças. Não vamos recuar na missão de garantir paz e segurança ao povo do nosso estado”, escreveu.
Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, somente neste ano foram registrados 19 tiroteios no Complexo do Alemão. O saldo é de ao menos cinco mortes e sete pessoas feridas.
Destes 19 registros em 2022, sete tiroteios aconteceram durante ações ou operações policiais, que já deixaram quatro mortos e um ferido, contando com os números preliminares da operação de hoje.
*com informações de Pedro Duran, da CNN