Onça-pintada ferida em incêndios no Pantanal é tratada com células-tronco
A fêmea, batizada de Amanaci, é uma das incontáveis vítimas dos piores incêndios já registrados no bioma
Atingida por um dardo com tranquilizador, a onça-pintada enjaulada se ergue com um rosnado angustiado nas patas queimadas e enfaixadas.
A fêmea, batizada de Amanaci, é uma das incontáveis vítimas dos piores incêndios já registrados no Pantanal, o maior pântano do mundo. Verdadeira joia de biodiversidade, a região abriga a maior população de onças-pintadas da Terra.
Amanaci foi uma das sortudas. Resgatada por voluntários, ela foi levada a uma fazenda de Goiás administrada por uma ONG que se dedica a proteger felinos selvagens ameaçados de extinção.
Ela está sendo tratada com a medicina veterinária mais avançada, recebendo injeções de células-tronco que aceleram a recuperação de tecido queimado e a regeneração de novos tecidos.
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“O resultado é surpreendente. A gente espera colher ainda mais frutos positivos e vê-la se apoiando nas quatro patas, andando e comendo, com a qualidade de vida restabelecida dentro de pouco tempo”, disse a veterinária Patricia Malard.
As células-tronco foram tiradas de Amanaci duas semanas antes e cultivadas em um laboratório antes de a primeira injeção ser dada no sábado. Enquanto ela estava desacordada, seus curativos foram trocados.
“O que eu sinto de ver os animais assim é revolta e muita tristeza por ver o que eles passam e por quanto eles sofrem e também um estranhamento de por que as coisas chegam nesse ponto? Por que não há uma prevenção?”, disse Cristina Gianni, fundadora do santuário Instituto NEX (No Extinction), onde 23 onças-pintadas estão sob cuidados.
“As queimaduras nas patas, é fácil a gente se colocar no lugar e imaginar a dor que é estar pisando em brasas”, disse ela em uma entrevista.
Gianni disse que nunca viu tantas mortes e sofrimento causados à vida selvagem como os dos incêndios no Pantanal neste ano, e acusou as autoridades brasileiras de não fazerem o suficiente para evitá-los.
O Pantanal ocupa mais de 150 mil quilômetros quadrados e se estende à Bolívia e ao Paraguai.
Os incêndios são os piores desde que os registros tiveram início, em 1998, e ameaçam a vida selvagem da região, que inclui antas, pumas, capivaras e onças-pintadas.
A entidade World Wildlife Fund diz que o Brasil pode ter cerca de metade das 170 mil onças-pintadas que se acredita ainda viverem.
No caso de Amanaci, é cedo demais para dizer se ou quando ela poderá voltar à vida selvagem. Por enquanto, ela se limita a despertar e observar o novo cenário.