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    O que a cultura da misoginia e o caso de masturbação coletiva têm em comum?

    A gente precisa educar melhor os nossos meninos e é preciso reeducar nossos homens

    Letícia Vidicada CNN

    Ser mulher no Brasil é um ato de coragem. E eu te explico por quê. Um dos motivos é porque não existe lugar seguro para as nossas meninas e todas as mulheres aqui. O tempo todo, a qualquer hora, em qualquer lugar e, às vezes, por pessoas que não esperamos ou situações que parecem impensáveis… bum! Somos vítimas da cultura da misoginia na qual a sociedade brasileira foi pautada.

    Digo isso porque a repercussão do caso de estudantes de medicina praticando um ato de masturbação coletiva durante uma partida de vôlei feminino é o retrato desta “triste e dolorida metáfora de um mundo que não cuida ou dá sinais de que pretende cuidar das mulheres”, como bem escreveu nesta semana a jornalista Julia Pessoa, especialista em gêneros e sexualidades.

    Um mundo onde dentro de um ambiente universitário – local que deveria ser de discussão e preparação para os futuros profissionais – “normaliza-se” a prática de um ato horrível e de total desrespeito às mulheres. Um mundo onde os corpos femininos são vistos como objetos de prazer e de poder. Um mundo patriarcal e falocêntrico que perpetua todos os dias a cultura do estupro e da misoginia.

    Apesar de darmos um passo e recuarmos dois, quando nos deparamos com casos como esses, uma coisa fica bem clara: que isso não é mais (e nunca foi) uma “brincadeira de meninos”.

    A gente não tolera mais tanta violência e muito menos esse pacto do Clube do Bolinha que se perpetua por séculos. E é mais do que hora da certeza da impunidade desses atos acabar. Isso é crime. Neste caso, crime de importunação sexual. A prática de um ato libidinoso, como essa masturbação coletiva, com objetivo de satisfação sexual e sem consentimento da vítima, isso é importunação sexual. É lei no Brasil há cinco anos e tem pena prevista.

    Infelizmente, segundo dados do Tribunal de Justiça de São Paulo, houve um aumento no número de processos de importunação sexual no primeiro semestre deste ano. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que o Brasil tem uma média diária de 13,6 novos casos de importunação sexual levados à Justiça. O crescimento desses casos é reflexo da cultura do estupro e da misoginia no país que minimiza a violência contra as mulheres, vê o corpo feminino como um objeto e normaliza o comportamento sexual violento que alguns homens tem.

    “O direito penal não é solução para misoginia. Educação sim”, é o que diz a promotora de justiça Fabiana Dal’Mas. Exatamente isso. A gente precisa educar melhor os nossos meninos – meninos porque temos uma geração toda pela frente que pode ser muito aliada na luta contra essa violência de gênero – e é preciso reeducar nossos homens – em especial, aqueles que ainda naturalizam e normalizam cenas como essas. De homem pra homem, vale um papo reto de que essa masculinidade tóxica não cabe mais. E, de mulher para mulher, fale e denuncie sempre. Temos direito a um mundo que seja mais seguro pra gente.

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