O Grande Debate: Nelson Teich agiu certo em pedir demissão?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla discutem a saída de Teich após o ex-ministro da Saúde não concordar com Bolsonaro em aumentar o uso da cloroquina
No Grande Debate da noite desta sexta-feira (15), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho abordaram a saída do agora ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, que não aceitou a pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para assinar um decreto que facilitaria o uso da cloroquina para o tratamento de pacientes com Covid-19.
Para Caio, Teich agiu certo ao se manter fiel a seus ideais. O debatedor comparou sua saída com a do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, afirmando que Teich saiu de forma “digna, sem causar pânico, diferente de seu antecessor que saiu fazendo festa”.
Caio então citou a experiência do uso da hidroxicloroquina aliado à azitromicina nos hospitais do grupo Prevent Senior, que conseguiu diminuir a taxa de mortalidade do grupo de risco de 15% – taxa dos tratados no serviço público – para 10%, segundo ele, graças ao uso precoce da combinação de medicamentos com um reforço de vitaminas. “A hidroxicloroquina está longe de ser a cura, mas não podemos descartar experiências de sucesso”, disse.
Augusto também elogiou a postura de Teich por ter sido “coerente, corajoso” e ter honrado “seu diploma ao não se curvar ao irresponsável presidente”. Ele disse também não ser contra a hidroxicloroquina, mas questionou a insistência do presidente em colocar o medicamento no protocolo do SUS, uma vez que ela já foi liberada pelo Conselho Federal de Medicina para uso em casos de Covid-19.
“A lei orgânica de saúde prevê que, para um novo medicamento entrar no protocolo do SUS, ele precisa passar por evidências científicas que comprovem sua eficácia. Por conta disso Teich não se curvou ao presidente. Porque Bolsonaro perdeu um ministro por conta disso?” disse Augusto.
Caio elogiou a fala de saída de Teich, em que disse ter deixado pronto um programa de testagem em massa. “O plano estratégico é muito importante, trazendo critérios objetivos para a flexibilização do isolamento. Que essa transição de ministros seja feita da forma mais eficiente e que o trabalho feito até agora não seja deixado de lado.”
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Mudando de assunto, Augusto voltou suas atenções para a economia, questionando a preocupação de Bolsonaro com a reabertura de negócios ao dizer que, para uma reação econômica brasileira, “é necessário ter estabilidade, política, institucional e econômica”. Ele também questionou as instabilidades geradas pelo governo diante dos péssimos resultados da bolsa e do dólar na última semana.
“A cada dia neste governo temos uma novidade ruim, e isso gera instabilidade no mercado. A bolsa hoje caiu e o dólar subiu, impactados pela saída do ministro. A imagem do Brasil mundo afora é péssima, e o investidor estrangeiro foge do país pela instabilidade. Tenho dificuldade em imaginar as razões e a estratégia do governo federal numa medida como essa de hoje”.
Já Caio disse imaginar que a intenção do presidente não é “acientífica” e disse que no momento é preciso despolitizar a pandemia, especialmente a hidroxicloroquina.
“A hidroxicloroquina é usada por todas as nações do mundo, e até pouco tempo era vendida sem receita. A humanidade conhece os efeitos colaterais da droga. Alguns estados do Brasil já liberaram a hidroxicloroquina para tratamento precoce. É um remédio barato e acessível. O mais importante no momento é não ser preconceituoso, com um remédio que já teve amostragem de eficácia”.
Ele ainda criticou a falta de alinhamento do governo no assunto da saúde, dizendo que estes ruídos causam consequência econômicas que deveriam ser evitadas. “Faltou um alinhamento melhor com o nomeado sobre as bandeiras que Bolsonaro apoia, que são completamente defensáveis.”