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    Nuvem de gafanhotos é um fenômeno comum? Especialistas explicam

    Segundo o Ministério da Agricultura, fenômeno se aproxima da fronteira da Argentina com o Brasil

    Nuvem de gafanhotos preocupa agricultores brasileiros
    Nuvem de gafanhotos preocupa agricultores brasileiros Foto: Baz Ratner - 21.fev.2020 / Reuters

    A nuvem de gafanhotos que se aproxima do Brasil vinda da Argentina está despertando muitas dúvidas nos brasileiros a respeito do perigo que esses insetos representam.

    Nessa terça-feira (23), o Ministério da Agricultura disse, em um comunicado, que foi informado pelas autoridades argentinas sobre a nuvem de gafanhotos, que já está próxima da fronteira com o Brasil, e segue monitorando a situação para verificar as medidas que serão tomadas caso ela realmente chegue ao país.

    A possibilidade da chegada desses insetos preocupa principalmente os agricultores, já que os gafanhotos são conhecidos por destruírem plantações. Os gafanhotos da nuvem em questão são da espécie Schistocerca cancellata e o fenômeno não é novo. Esta praga existe no Brasil desde o século 19 e causou grandes perdas a lavouras de arroz e feijão no sul do país nos anos 1930 e 1940. 

    Dori Edson Nava, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e doutor em Entomologia (ramo da biologia que estuda os insetos), afirmou que a presença desses animais é normal em regiões semidesérticas, sendo comum principalmente na África e na Ásia. Na América do Sul, há algumas ocorrências, mas em intervalos de tempo muito grandes.

    Na segunda-feira, a nuvem de gafanhotos invadiu a região norte da cidade de Santa Fé, na Argentina. Horas depois, os insetos avançaram na área de Perugorria, na província de Corrientes, que faz fronteira com o Rio Grande do Sul.

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    Segundo Nava, para que uma migração como a atual ocorra, são necessárias algumas condições ambientais para o deslocamento dos insetos, como um período sem chuvas e com muito calor. “A seca interferiu na vegetação e a população [de insetos] aumentou. A quantidade de insetos que tinha no local era muito grande em relação ao alimento. Isso foi um estímulo para eles migrarem”, ajudados pelas altas temperaturas e os ventos.

    O pesquisador explicou ainda que os gafanhotos têm três fases da vida: ovo, ninfa e adulto. Os maiores danos causados por esses insetos ocorrem quando eles estão na fase ninfa “porque os insetos estão crescendo e precisam se alimentar. O adulto se alimenta bem menos que na fase jovem”.

    Para Nava, monitorar esse tipo de situação é muito importante “para dar pistas e demarcar o problema”. Ele disse também que os gafanhotos, em situações normais, são considerados uma praga secundária no Brasil, e são muito comuns na parte sul do país.

    O governo da cidade de Córdoba, na Argentina, informou que cerca de 40 milhões desses insetos podem cruzar uma área de um quilômetro quadrado. Além disso, a passagem deles leva à destruição da plantação, já que eles “comem pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas podem consumir em um dia”.

    Causas

    De acordo com o Ministério da Agricultura brasileiro, especialistas ainda estão tentando identificar os motivos precisos que levaram ao retorno da praga. A suspeita mais provável até agora é a combinação de fatores climáticos, como temperatura, índice de chuvas e velocidade dos ventos.

    Mas o especialista Magno Botelho, professor de biologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou que há outros fatores que também podem contribuir para a formação dessa nuvem, como diminuição das populações de predadores naturais e abundância de alimento na região. “Por esse fato essas nuvens não acontecem com frequência. Esses fatores precisam coincidir para termos a ‘tempestade perfeita’”, disse ele.

    Botelho ressaltou que a nuvem atual ainda é muito recente e não há muitas informações a respeito. “Sabemos apenas que se originou no Paraguai e depois seguiu rumo à Argentina”, disse. De qualquer forma, ele afirmou que, em algumas semanas, deve perder força e os animais se dispersarão. “Isso vai depender das condições que encontrarem pelo caminho. Se vai ter alguma frente fria, se vão encontrar plantações agrícolas no ponto, inimigos naturais, etc.”

    Rastro de destruição

    O especialista disse que esses gafanhotos não são prejudiciais diretamente aos seres humanos, e sim às plantações, pois se alimentam principalmente de folhas e caules. 

    Vale ressaltar que o problema dos gafanhotos não afeta exclusivamente a América do Sul. De acordo com informações do Comitê Internacional de Resgate (IRC, em inglês), uma agência de ajuda humanitária, nuvens como essa que se aproxima do Brasil destruíram recentemente milhares de hectares de plantações em países como Quênia, Uganda, Sudão do Sul, Etiópia e Somália. 

    A agência informou que os gafanhotos conseguem causar muita destruição em questão de minutos. Em março, uma infestação no oeste de África danificou mais de 25 mil km de lavoura.

    Para Botelho, a melhor forma de combater a nuvem de gafanhotos seria com pesticida, mas a eficácia desse método ainda é controversa já que, segundo ele, esses insetos se locomovem muito rapidamente.

    Navas afirmou que a pulverização aérea de inseticida no momento que a nuvem pousa seria o mais eficaz. Contudo, para ele, o ideal mesmo “seria controlar esses insetos na fase jovem, quando não têm asas e não migram”.

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