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    Negros estão mais sujeitos a morte e internações por agressão no Brasil

    No cenário geral, segundo a pesquisa, homens negros internam mais por disparo de arma de fogo e mulheres negras por agressões envolvendo objetos cortantes

    Homens negros internam mais por disparo de arma de fogo e mulheres negras por agressões envolvendo objetos cortantes e penetrantes.
    Homens negros internam mais por disparo de arma de fogo e mulheres negras por agressões envolvendo objetos cortantes e penetrantes. Maxim Hopman/Unsplash

    Dayres Vitoriada CNN*

    Homens e mulheres negras são os mais internados e mortos em decorrência de casos de agressão no Brasil. É o que aponta o “Boletim Saúde da População Negra”, novo estudo realizado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em parceria com o Instituto Çarê.

    Ao investigar as principais diferenças em relação aos perfis raciais relacionados à saúde da população brasileira, a pesquisa analisou dados, de 2012 a 2022, que comprovam e revelam uma maior vulnerabilidade e indicadores de saúde desfavoráveis da população negra se comparada à população branca.

    No cenário geral, segundo a pesquisa, homens negros internam mais por disparo de arma de fogo e mulheres negras por agressões envolvendo objetos cortantes e penetrantes.

    Maioria dos casos de internação por agressão

    Para o levantamento, os autores da pesquisa, Rony Coelho e Manuel Mahoche, realizaram uma análise das taxas de internações por agressão e as segmentaram por raça/cor da pele.

    O perfil foi verificado a cada caso de internação de uma pessoa negra dentro de uma quantidade de 10 mil habitantes.

    Segundo o Boletim, na média móvel de 12 meses em dezembro de 2012, a taxa de internação para negros foi de 0,107 (por cada 10 mil habitantes). Já em dezembro de 2022, 10 anos depois, negros representavam 0,228 dos indíces, o que corresponde um aumento de aproximadamente 113%.

    Em números absolutos, em 2022, a cada 10 mil habitantes, negros totalizavam 1.146 das internações, já em 2022 eram 2.745. Ou seja, em um intervalo de 10 anos, o número de pessoas negras internadas por agressão mais do que dobrou.

    Em relação as causas das internações, homens negros internam mais por disparo de arma de fogo, ao passo que mulheres negras internam mais por agressões envolvendo objetos cortantes, penetrantes ou contundentes, segundo a pesquisa.

    Em 2012, o número absoluto de internações mensais de homens negros por disparos de arma de fogo variou de 206 a 334, com uma média de 272 casos. Em 2017, a média dos 12 meses chegou a 747 ocorrências, quase triplicando o número em relação a 2012. Em 2022, essa média diminuiu para 580, indicando mais de uma internação diária de homens negros por disparos de arma de fogo.

    Pernambuco, Pará e Roraima são os estados onde mais homens negros foram internados por agressão, quando comparado a homens brancos.

    Já no que refere-se às mulheres negras, a maioria das internações são causadas por força corporal e objetos cortantes. Em 2012, elas tiveram uma média mensal de 45 internações, que subiu para 104 em 2022, um aumento que corresponde a mais de 130%.

    Mortalidade por agressão maior entre negros

    Conforme os dados divulgados pela pesquisa, ao se observar os casos de mortalidade no país, pessoas negras ainda são os que mais morrem em decorrência de agressões.

    Em dezembro de 2012, a média móvel da taxa para negros era de 3,03 mortes para cada 100 mil habitantes e de 1,31 para brancos. Neste primeiro ano do levantamento, morreram por agressões, na média mensal, 3.188 negros contra 1.196 brancos.

    Já em 2017, ocorreu a maior média mensal de mortes. Foram 4.008 registros para negros e 1.166 para brancos. No último ano da série, 2022, esses números fecharam, respectivamente, em 2.712 e 747.

    Conforme observa-se a partir dos dados, a distância entre as taxas de mortalidade de negros e brancos ainda é significativamente grande.

    Em qualquer horário do dia, negros também são a maioria dos mortos por agressão. No entanto, a faixa horário entre 21h e 23h é a que a população negra mais é morta.

    Ademais, o estudo ainda aponta que as taxas de mortalidade de homens negros são bem maiores na faixa etária de 18 a 24 anos, se comparado a homens brancos entre a mesma idade.

    Ainda de acordo com o levantamento, homens negros morreram mais em vias públicas, seguido de ocorrências em hospitais e domicílios, especialmente por disparos de arma de fogo. Até 2018, as mortes de homens negros por disparo por arma de fogo em via pública eram mais que o dobro dos brancos.

    No caso de disparos por arma de fogo, mulheres negras apresentam taxas de óbito consistentemente mais altas em comparação com mulheres brancas. Em 2012, foram 814 mortes de mulheres negras em via pública, 631 em domicílio e 654 em hospitais. Para mulheres brancas, foram 302, 422 e 342, respectivamente.

    Em 2022, esses números foram 629, 603, 437 para mulheres negras e 207, 349 e 166 para mulheres brancas, respectivamente, para disparos de armas de fogos em via pública, domicílios e hospitais.

    No que diz respeito às mulheres, observa-se que, em geral, elas possuem taxas de mortalidade inferiores às dos homens, mantendo-se relativamente estáveis. Contudo, as mulheres negras exibem taxas maiores em comparação às mulheres brancas.

    Ao tratar o objetivo central para a existência do estudo, os autores da pesquisa afirmam que além de documentar as internações, buscam também contribuir para a formulação de estratégias eficazes e que combatam as desigualdades.

    “Com a inclusão sistemática do quesito raça/cor em registros de saúde e a formação de profissionais conscientes, almejamos promover uma assistência à saúde mais justa e equitativa”, conclui o boletim ao final do estudo.

    *Sob supervisão de Bruno Laforé