Não podemos perder o Enem ou enfraquecer o Inep, diz ex-presidente do Instituto
Avaliação de Maria Inês Fini à CNN acontece após declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizendo que o Enem "começa a ter a cara do governo"
A menos de uma semana para a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, a ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, afirmou à CNN nesta segunda-feira (15) que a sociedade brasileira não “pode perder o Enem e muitos menos enfraquecer o Instituto”. O Inep, vinculado ao Ministério da Educação (MEC), é responsável pela gestão da prova.
“É fundamental que você compreenda que o Inep produz estatísticas. Como você faz a política no MEC sem esses dados? Com os exames nacionais, como o Enem, nós oferecemos subsídios para monitoramento da qualidade de serviços educacionais”, afirmou à CNN.
Segundo ela, não se trata do Instituto ter uma “autonomia” em relação ao Ministério da Educação, mas sim “gestores que conheçam os mecanismos de administração das equipes e estruturas do Inep”.
“Como você coloca no cargo de coordenação pessoas alheias a essas estatísticas e cultura de avaliação do Inep? Só podia dar errado”, disse a ex-presidente do Inep.
A avaliação de Maria Inês acontece após declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na tarde desta segunda-feira (15), dizendo que o Enem “começa a ter a cara do governo“.
Bolsonaro respondia sobre uma crise institucional no Inep. Nas últimas semanas, dezenas de profissionais do Inep pediram demissão com a alegação de que havia ingerência no órgão, que é responsável pela realização do exame.
“O presidente vai ter que explicar a declaração. Bolsonaro tem que ter um fundamento para dizer que o Enem tem a cara do governo. Ele está publicamente afirmando que houve interferência”, disse a ex-presidente do Inep.
Ela, no entanto, garantiu que o exame foi “muito bem preparado” e que não houve o que ela chamou de “invasão” do banco de itens da prova.
“Não houve invasão do banco de itens para adicionar novos itens. O que houve, e isso tem que ser devidamente esclarecido, foram tentativas sucessivas de retirar questões. O exame se baseia em um arcabouço enorme amplamente divulgado de conteúdos avaliados no exame. A simples retirada de itens não deve incomodar os estudantes, porque quem se preparou para o mais seguramente se sairá bem no menos”, ressaltou.
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No primeiro ano, em 1998, apenas duas universidades no Brasil utilizavam a nota do Enem como método de classificação para o vestibular • Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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O MEC passou a conceder isenção da taxa de inscrição aos estudantes da rede pública em 2001.houve um salto no número de participantes, e no ano seguinte o Enem registrou 1.829.170 inscritos • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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15/01/2009: Foto de interno da Fundação CASA, em Itaquera, que faz faculdade com bolsa de estudo integral através do programa ProUni. Em 2004, o programa começou a usar a nota do Enem para concessão de bolsas de estudos integrais e parciais aos participantes • Sérgio Neves/Estadão Conteúdo
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Em 2011, a participação no Enem seria obrigatória para quem quisesse financiar seus estudos por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) • Foto: Agência Brasil
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Estudantes realizam manifestação contra a fraude no processo do Enem 2009. Os manifestantes seguiram da Câmara Municipal, na Praça da Cinelândia, até o Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Educação, no centro do Rio de Janeiro • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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Estudantes protestam contra as falhas no Enem em 2010. Alguns estudantes colocaram fogo em cartões de respostas e foram até o Palácio Capanema, sede do Ministério da Educação (MEC) • Fábio Motta/Estadão Conteúdo
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Estudantes fazem manifestação no vão livre do MASP, em São Paulo devido aos problemas ocorridos no Enem 2010. Vazamento dos dados dos candidatos foi um deles • Jonne Roriz/Estadão Conteúdo
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A correção das redações do Enem passou a ser mais rigorosa em 2013. As providências foram tomadas para que casos como inserção de receita de miojo ou hino do Palmeiras - que receberam nota acima 500 - não sejam tolerados • Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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O segundo dia de aplicação do Enem 2020 teve 55,3% de faltas, abstenção recorde no exame, segundo o Inep. A pandemia adiou a prova de 2020 para janeiro de 2021, mesmo assim, muitos alunos não se sentiram preparados ou seguros para fazer a prova • Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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Desde 2020, o participante pode escolher entre fazer o exame impresso ou o Enem Digital, com provas aplicadas em computadores, em locais de prova definidos pelo Inep. O MEC anunciou o lançamento da modalidade em 2019 • Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Dezenas de servidores do Inep, órgão responsável pelo Enem, pediram demissão coletiva de seus cargos em resposta ao que classificam de “má gestão” do instituto, órgão ligado ao Ministério da Educação • Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
“O que nos temos que fazer é garantir a tranquilidade, o exame foi muito bem preparado. Há todo um esquema montado em 24 anos do Enem que não se improvisa. Tem que ter gente preparada”.
O Enem 2021 será realizado nos dias 21 e 28 de novembro. Serão duas modalidades: impressa e a digital — é o segundo ano de aplicação da modalidade digital do exame. Nesta edição, as duas versões serão nas mesmas datas. Os itens das provas e o tema da redação serão iguais nos dois modelos.
Milton Ribeiro pode ser ouvido na Câmara
A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados decide nesta terça-feira (16) se convoca o ministro da Educação, Milton Ribeiro, para prestar esclarecimentos sobre o Enem, a interferência do governo na prova e a debandada de servidores do Inep, responsável por cuidar das provas do Enem e do Enade.
A presidente da Comissão, deputada professora Dorinha (DEM-TO), afirmou à CNN que a declaração é “muito grave”, e que, por isso, entende que o pedido da convocação de Milton Ribeiro para prestar esclarecimentos será aprovado. A reunião está marcada para às 14h desta terça.
Presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, o deputado Professor Israel (PV-DF) usou o Twitter para criticar a declaração do presidente em Dubai.
“Bolsonaro confessou, com todas as letras, que o governo realmente interferiu nas questões do Enem, como relataram os servidores do Inep. O Enem não pode pertencer a governo algum, é uma política de Estado e deve ser respeitado como tal”, avaliou.