Não há como dissociar ameaças recebidas pelo repatriado com a disputa política no Brasil, diz advogada à CNN
A advogada Talitha Camargo da Fonseca disse que Hasan Rabee já recebeu mais de 200 mensagens após ser repatriado
À CNN, Talitha Camargo da Fonseca, advogada de Hasan Rabee – brasileiro que foi repatriado de Gaza e passou a receber centenas de ameaças pelas redes sociais desde que retornou ao Brasil – disse que não há como dissociar as mensagens recebidas por Hasan da disputa política em nosso país.
“Nosso país está polarizado e há uma barbárie em relação aos crimes digitais”, disse a advogada.
Segundo ela, há mais de 200 mensagens enviadas para Hasan com crimes de perseguição, injúria racial, ameaça de execução, difamação e calúnia, que serão levadas à área criminal e cível.
A CNN teve acesso a parte delas, nas quais Hasan é intimidado e chamado de terrorista. Também há muitas menções ao fato de Hasan ter aparecido ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Vamos levar a requisição de instauração de inquérito policial à Delegacia de Crimes Digitais, aqui de São Paulo, para que todos recebam as punições devidas e arquem com as consequências de danos morais”, falou.
Fonseca explicou que peticionou, junto ao Ministério dos Direitos Humanos, a entrada de Hasan no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), e que ainda nesta quinta-feira (16) enviará um pedido de escolta, caso haja necessidade, para o Ministério da Justiça.
Ela destaca o papel de Hasan na defesa dos direitos humanos ao mostrar a realidade durante o conflito na Faixa de Gaza, a situação de crise humanitária enfrentada pelos palestinos e a ter promovido a comunicação com o governo brasileiro durante as tentativas de resgate do grupo.
Ela também ressaltou que ele, assim como a maior parte dos outros repatriados, ainda tem familiares em Gaza para se preocupar.
“É uma desumanidade essas pessoas que acabaram de sair dum momento de guerra, onde tinham sua integridade física e psicológica violada, chegarem no país e continuarem com essa violência psicológica”, acrescentou Fonseca.
Em nota, a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que “as denúncias estão sendo apuradas e serão encaminhadas para a investigação da Polícia Federal (PF)”.
Medo de sair de casa
Hasan e a família chegaram em São Paulo na quarta-feira (15), mas estão com medo de sair de casa. O comerciante também tem evitado usar as redes sociais. “A gente saiu da guerra, fugiu da morte. Chegou aqui e encontrou outra guerra com ameaça e pressão”, disse Hasan à CNN.
O comerciante diz que, ao se deparar com as ameaças no Brasil, se arrependeu de ter feito os vídeos. “Eu me arrependi de gravar os vídeos e coloquei minha família em risco sem saber”, disse.
Hasan lamenta que ainda não conseguiu sair com as filhas, de 5 e 3 anos, para passear por medo de ser reconhecido na rua. Enquanto estava em Gaza, as meninas pediam para ir ao shopping. Hasan chorou ao contar sobre isso em entrevista na CNN na terça-feira (14).
“É muita pressão. Minha esposa está com medo. A gente estava precisando ir para shopping, mas não tem como ir agora. São muitas mensagens de ameaça, mais de 200. Estou cansado demais”, contou.
Para Hasan, além do preconceito contra palestinos, ele virou alvo principalmente por agradecer ao governo federal e o presidente Lula. “O que estão fazendo é um jogo político porque eu agradeci o presidente Lula. Estão fazendo um jogo sujo comigo e minha família”, disse.