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    “Não deu para salvar nada”, diz mãe, com bebê de 7 dias em seus braços em São Sebastião

    De acordo com o governo estadual, 1.730 pessoas estão desalojadas e 766 permanecem desabrigadas após fortes chuvas no litoral paulista

    A cozinheira Zuleide Pereira Alves, de 38 anos
    A cozinheira Zuleide Pereira Alves, de 38 anos Renata Cafardo/Estadão Conteúdo

    Renata Cafardodo Estadão Conteúdo

    A cozinheira Zuleide Pereira Alves, de 38 anos, escapou da enxurrada de lama que destruiu a sua casa com uma bebê de 7 dias, o marido e outras duas crianças. Ela morava no bairro de Topolândia, no morro do Juramento, em São Sebastião. Perto da meia-noite de domingo (19), Zuleide ouviu um estrondo, que pensou ser um trovão.

    “Aí começou a descer tudo, a lama vinha trazendo pedaço de casa, geladeira, fogão, botijão de gás”, conta. Ela só conseguiu pegar a bolsa da bebê. As crianças salvaram uma blusa de frio cada. “Foi desesperador”.

    A família se abrigou na casa de um vizinho, mais alta, segundo ela, e esperou acordada a noite toda por socorro. Moradores da comunidade avisaram os vizinhos para também deixarem as casas e, quando amanheceu, eles desceram o morro.

    “O medo era a gente estar descendo e a lama levar a gente, estava na altura da cintura. Um poste de energia estava entortando, quase pegando na água”. Na segunda-feira (20), Zuleide e a bebê Rhillary Vitória, que nasceu no dia 12, estavam abrigadas em uma escola municipal de São Sebastião com outras 30 pessoas.

    Segundo a secretária de Educação da cidade, Marta Braz, outras nove escolas estão servindo de abrigo e recebendo doações. A que recebeu mais desabrigados foi a da Barra do Sahy, por onde passaram cerca de 500 pessoas à noite. Essa praia também registrou o maior número de mortos.

    “Minha maior preocupação era ela”, diz Zuleide sobre a menina, sua sexta filha. “Não deu para salvar nada.” Ela disse que não voltou mais para sua casa, onde morou quase a vida toda. “Agora é segurar na mão de Deus e ver o que vem pela frente”.

    Sem fralda

    A ajudante de cozinha Julia Amaral, de 26 anos, também tem uma bebê de pouco mais de 1 ano e está abrigada na escola por medo de voltar para a casa no mesmo morro.

    “Vim pegar fralda para minha filha porque tudo ficou na casa”, disse. A escola recebeu água, comida, fraldas de moradores e empresários da região.

    Outros moradores da Topolândia também disseram que esperaram ajuda na noite de sábado e não foram resgatados. Fabio da Silva Ferreira, de 26 anos, disse que foi a comunidade que deu o alerta para que as famílias deixassem as casas. “Não teve uma sirene, ninguém bateu na porta para avisar, acho que foi negligência”, afirmou.

    Ferreira também perdeu tudo no deslizamento e diz que desde 2016 as casas estavam ameaçadas. “Essa ajuda que estão dando agora é o mínimo que podem fazer.”

    Segundo o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), a prefeitura “já tinha emitido todos os alertas com a Defesa Civil” quando as chuvas fortes começaram no sábado.

    “O que não se esperava era a densidade dessas chuvas que ultrapassaram 600 milímetros”, afirmou em pronunciamento no Teatro Municipal, em que estavam presentes também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Tarcísio de Freitas.

    Segundo ele, a primeira equipe da prefeitura foi ao bairro da Topolândia às 5 horas de domingo. “E a partir de lá começamos a entender o tamanho da tragédia que tinha acometido o nosso município”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.