“Não dá para esperar mais quatro anos por uma conclusão”, diz viúva de Marielle
Família da vereadora assassinada em 2018 se reuniu com o governador do Rio, nesta segunda-feira (14), que prometeu mais investimento na polícia civil e empenho nas investigações
Após quatro anos, os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes seguem sem uma conclusão e com a promessa de autoridades na resolução do caso.
Nesta segunda-feira (14), familiares das vítimas e representantes de organizações de Direitos Humanos se reuniram com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, na sede do poder executivo fluminense, para cobrar celeridade e resposta na investigação sobe os mandantes dos crimes.
O encontro, que durou pouco mais de uma hora, foi a portas fechadas. Na saída, familiares da parlamentar classificaram como positiva a conversa com o governador, apesar de não ter tido nenhum avanço no caso. A irmã da vereadora, Anielle Franco, disse que Cláudio Castro prometeu empenho nas investigações para descobrir os mandantes dos assassinatos.
“A gente entende que foi um crime muito bem-feito, infelizmente. Mas a gente vai seguir cobrando justiça e o nome dos mandantes”.
A vereadora Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, disse que não dá pra esperar mais quatro anos por uma conclusão.
“O governador se comprometeu de que o caso Marielle Franco e Anderson Gomes é prioridade, que terá mais investimento na Polícia Civil e que não vai haver politicagem em cima do caso, embora seja um ano eleitoral. Essa foi uma preocupação que a gente demonstrou”.
Por meio de nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou que nos últimos três meses colheu novos depoimentos relacionados a segunda fase da investigação, que busca apurar os mandantes dos assassinatos.
Já o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), destacou, em nota, a imparcialidade do órgão assim como o cumprimento do direito de todas as partes. No momento, o TJRJ aguarda a análise de um recurso impetrado pela defesa de um dos réus, em setembro do ano passado, que ainda não foi analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que recentemente foram realizadas diligências e reuniões de alinhamento junto à Forca Tarefa do Ministério Público do Rio, familiares das vítimas e membros da Anistia Internacional Brasil.
Durante toda o dia, foram realizados atos pela cidade para chamar atenção para os quatro anos do crime ainda sem uma solução. Na Câmara de Vereadores, a Anistia Internacional lembrou que depois de quatro anos, o processo segue sem conclusão. Na Igreja da Candelária, no Centro do Rio, foi celebrada uma missa em homenagem às vítimas.
A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram executados a tiros na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, na região central do Rio. As investigações seguiram diferentes linhas, mas até o momento nenhuma foi adiante.
O sargento reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz acusados de executar a vereadora e seu motorista seguem presos, desde março de 2019, aguardando julgamento. Segundo o inquérito policial, Lessa foi o responsável pelos tiros contra as vítimas e Queiroz o condutor do veículo, mas a motivação do crime até hoje é desconhecida.
Andamento do processo
Na tarde desta segunda-feira (14), o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogerio Schietti Cruz negou pedido para absolver o policial militar reformado Ronnie Lessa e manteve decisão que o mandou a julgamento no Tribunal do Júri pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.
Para o ministro, a “sentença de pronúncia”, mantida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), apresentou razões concretas tanto para negar a absolvição sumária quanto para submeter Lessa ao tribunal do júri, que ainda não teve uma data definida.
Ronnie Lessa foi pronunciado, em relação à morte de Marielle, pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e por uso de recuso que dificultou a defesa da vítima; e, em relação a Anderson Gomes, por homicídio qualificado pelo uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e pelo objetivo de assegurar a execução ou a ocultação de outro crime.
“Há registros de que Lessa estaria monitorando Marielle antes do dia do crime – por exemplo, em pesquisas online sobre os locais em que a vereadora costumava atuar, o seu partido político e os endereços que frequentava. Também estão nos autos, segundo o relator, indícios de que o policial reformado tentou dissimular as buscar realizadas antes da data de execução do crime”, disse o ministro.
Ainda de acordo com Schietti, “as informações do processo indicam que as vítimas foram emboscadas, tendo em vista que os executores monitoravam Marielle e sabiam que ela estaria em um evento no dia do crime”.