Mulher que agrediu casal gay é intimada pela polícia a prestar depoimento
Policiais militares que atenderam a ocorrência na madrugada de sábado (3) também devem ser ouvidos. Vítima acusa agentes de negligência
A polícia identificou a mulher acusada de agredir um casal gay em uma padaria no centro de São Paulo, na madrugada de sábado (3). O caso é investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais contra a Diversidade Sexual e de Gênero e outros Delitos de Intolerância (Decradi) como “preconceito de raça ou cor” e “lesão corporal”.
A mulher será ouvida pelas autoridades, assim como os policiais militares que atenderam a ocorrência. Em entrevista à CNN, uma das vítimas, Rafael Gonzaga, relata negligência por parte dos agentes por falta de agilidade no envio de viaturas ao local e por não realizarem prisão em flagrante. “Foram quatro chamadas para o 190 implorando para eles mandarem uma viatura”, conta.
Rafael e o namorado Adrian Grasson relatam socos e chutes, além das ofensas homofóbicas. As vítimas foram ouvidas e requisitado exame de corpo de delito, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP).
A polícia analisa as gravações que viralizaram nas redes sociais e afirma que realiza diligências. O objetivo é identificar novas testemunhas e obter demais evidências que auxiliem na elucidação dos fatos.
Relembre o caso
Nas redes sociais, viralizou um vídeo que registra uma confusão em uma padaria, no centro de São Paulo. Uma mulher grita ofensas homofóbicas e agride um casal de homens que chegava no estabelecimento após uma festa.
Em entrevista à CNN, uma das vítimas, Rafael Gonzaga, conta que viveu um pesadelo. “Ninguém merece passar por uma situação dessa. Ninguém merece viver o que a gente viveu. Eu estava feliz, só querendo descansar e eu cheguei em casa com o rosto ensanguentado”, relata.
Rafael conta que a confusão começou com uma tentativa de estacionar o carro no estabelecimento. Os homens aguardavam o desembarque de passageiros: um homem e duas mulheres, para adentrar a vaga. A vítima conta que a suposta agressora cruzou os braços no local da vaga e, neste momento, foi retirada pelo homem que a acompanhava para o lado do veículo.
A mulher novamente voltou para frente do carro e empurrou o retrovisor do veículo da vítima e disse: “É só você fechar essa me*** que consegue estacionar”. Após ser contida pelo homem que a acompanhava, ela passou a gritar frases homofóbicas.
A suposta agressora atirou em um cone de trânsito em direção ao casal e o comportamento violento se estendeu para dentro da padaria. “Ela veio para cima da gente com uma série de ofensas, de baixo calão e cunho homofóbico”, afirma Rafael.
As vítimas relatam chutes e tapas por parte da suposta agressora, que não teve a identificação divulgada pela polícia.
“Sou homofóbica mesmo, sou da família tradicional”
No boletim de ocorrência, as vítimas relatam que a mulher disse: “Sou homofóbica mesmo, sou da família tradicional, eu tive educação não sou igual aí”, ao agredir o rosto da vítima Adrian com a unha, e com um soco no rosto de Rafael.
Já no exterior da padaria a autora dos ataques ainda teria dito: “Eu tenho uma arma no carro e eu vou resolver essa situação…”. A polícia foi acionada pelos homens, mas não realizou prisão em flagrante.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a equipe policial registrou uma notificação de ocorrência, com as versões dos envolvidos, para encaminhamento à delegacia e orientou as vítimas sobre prazo para representação criminal, conforme a Lei 13.964/19.
Em nota, a padaria Iracema informou que lamenta profundamente o acontecido no estabelecimento e repudia veementemente qualquer forma de discriminação e desrespeito. “Informamos que estamos à disposição das autoridades policiais para quaisquer informações e ou depoimentos e que qualquer tipo de intolerância não será aceita em nossas dependências.”
Veja nota enviada pela acusada de agressão:
Nos últimos dias, surgiu à mídia fatos que ocorreram no dia 03/02/2024 envolvendo a Sra. Jaqueline Ludovico, na Av. Angélica.
Os fatos encontram-se sob investigação das autoridades policiais, e nesse momento não há que se antecipar às conclusões da Polícia e do Poder Judiciário, oferecendo julgamento dos fatos, antes de devidamente apurados.
Neste momento, o que se cabe afirmar é que há duas versões dos fatos. A história completa e a verdadeira complexidade dos eventos exigem uma abordagem mais sensível e equilibrada, que reconheça a situação de vulnerabilidade da Sra. Jaqueline e a injustiça de julgá-la apenas com base em fragmentos de informações.
A versão dos fatos da Sra. Jaqueline será apresentada as autoridades cabíveis.
No mais, imperioso salientar que a Sra. Jaqueline e sua família, vêm, desde então, sofrendo linchamento virtual.
A exagerada e parcial forma como o caso tem sido tratado e divulgado através da internet e dos meios de comunicação de massa não só comprometem a integridade da investigação em curso, mas também colocam em risco a segurança e o bem-estar da família da acusada, entre eles seus dois filhos menores, que vem sofrendo ameaças constantes.
Neste momento delicado, é imprescindível que se resguarde a privacidade e a dignidade da família da Sra. Jaqueline, especialmente dos seus filhos menores envolvidos, garantindo-lhes o direito a um julgamento justo e imparcial, sem o peso indevido da pressão pública e do linchamento virtual.
Sendo o que se apresenta para o momento, como procuradores, subscrevemo-nos
Dra. Adriana Sousa
Dr. Paulo Eduardo
Dr. Tiago de Mello
*(Sob supervisão de André Rigue)