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    MPF recupera diamantes e ouro de Sérgio Cabral avaliados em R$ 20 milhões

    Após 3 anos de investigações, procuradores do Rio repatriaram 27 joias e 4,5 quilos do minério que estavam com empresa que faz guarda de valores na Suíça

    A CNN Brasil teve acesso a imagens exclusivas do tesouro secreto de Sérgio Cabral (MDB), ex-governador do Rio de Janeiro. São dezenas de diamantes e quilos de ouro revelados após três anos de investigação do Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro.

    As autoridades acreditam que o ex-governador possa ter uma fortuna muito maior escondida em bancos e cofres pelo mundo.

    “Foi a primeira vez que eu realmente senti algo ruim em relação a ele, no pessoal”, disse Leonardo Cardoso Freitas, procurador do MPF. “Quando vi todos aqueles diamantes se descortinando na minha frente, não foi uma sensação boa não.”

    Essa foi a reação do procurador da República após a revelação de um tesouro secreto com 4,5 quilos de ouro e 27 diamantes avaliados em R$ 20 milhões.

    Segundo o MPF, os bens que pertenciam ao ex-governador do Rio — e eram símbolos de um passado de luxo e ostentação — se tornaram a maior repatriação de bens e espécies feita no Brasil, mas podem representar apenas uma parte do que ainda deve ser revelado.

    “Difícil a gente estimar o fim do patrimônio que foi desviado e está oculto por essa organização criminosa. Este é um trabalho que talvez não tenha fim”, afirmou o procurador.

    Dos 27 diamantes, 12 tem certificação do Instituto de Gemologia da América (GIA, em inglês), que confere documentação sobre a qualidade de diamantes mais valiosos, puros, bem lapidados e de alta quilatagem – quanto maior os quilates, maior o peso e maior o valor de mercado.

    “Diamantes acima de 1 quilate já são considerados muitos raros e muito valiosos”, afirmou Jurgen Schnellrath, pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

    Barras de ouro de Sérgio Cabral recuperadas pelo MPF do Rio de Janeiro
    Barras de ouro de Sérgio Cabral recuperadas pelo MPF do Rio de Janeiro
    Foto: Reprodução/MPF-RJ

    “Diamante que venha acompanhado de um laudo do GIA passa inclusive a ter no mercado um valor acima de outros diamantes igualmente bons, mas que não tenham esse laudo.”

    Sobre as peças de ouro que faziam parte do tesouro de Cabral, o pesquisador explicou que esse é o tipo do minério mais valioso que existe. “É a maior pureza de ouro. Apenas um milésimo pode não ser ouro. É o ouro que serve de lastro financeiro, que vai ser depositado em banco”, disse.

    As pedras de diamante e os metais preciosos foram recuperados após três anos de investigação do MPF. Elas estavam em no cofre de uma empresa que faz a guarda de valores em Genebra, na Suíça.

    No dia 6 de março, uma operação conjunta entre as autoridades do Brasil e da Suíça repatriou os bens. Para o MPF do Rio, a demora foi incomum.

    “Foi um trabalho muito difícil, inédito e também com um nervosismo muito grande por transportar esses valores. Talvez a maior operação de repatriação (de bens físicos) do MPF”, revelou o procurador Freitas.

    O processo que apurava a localização e os valores dos tesouros secretos de Sérgio Cabral estava em segredo de Justiça, mas foi tornado público na sexta-feira (13). Nele são explicados os detalhes da escolta que passou por Suíça, Itália e Brasil, onde os objetos estão sob custódia da Caixa Econômica Federal.

    O MPF pedirá à Justiça a venda do ouro e dos diamantes para um futuro ressarcimento do estado do Rio de Janeiro e da União. Ainda de acordo com o Ministério Público, os bens foram comprados com dinheiro de origem ilegal, mas de forma lícita e com nota fiscal — provavelmente no mercado europeu.

    Diamantes de Sérgio Cabral com mais de 4 quilates recuperados pelo MPF
    Diamantes de Sérgio Cabral com mais de 4 quilates recuperados pelo MPF
    Foto: Reprodução/MPF RJ

    “Esses diamantes têm um valor muito grande. Não sei se o mercado brasileiro comporta a alienação dessas pedras”, explicou o procurador. “No mercado do país talvez não haja comprador para elas.”

    “Geralmente, uma pedra dessa quilatagem ou uma joia que tenha pedras desse quilate são usadas para investimento. Isso porque pedras de 3 ou 4 quilates serão muito raras no futuro”, completou Jurgen Schnellrath, pesquisador do Cetem.

    Esquema criminoso

    Cabral é réu em 31 processos e já foi condenado em 13, com penas somadas de 281 anos. De acordo com a Justiça, muitos dos crimes foram cometidos enquanto ele ocupava o cargo de governador do Rio.

    Dois supostos operadores procuraram as autoridades a fim de trazer informações sobre o esquema de corrupção que teria movimentado milhões de dólares. Os irmãos Renato e Marcelo Chebar assinaram um acordo de delação premiada e prometeram entregar a chave do cofre do tesouro de Cabral.

    “Esses colaboradores trouxeram cerca de US$ 100 milhões nessa colaboração”, disse o procurador do MPF do Rio. Os irmãos Chebar movimentaram dinheiro na Suíça, em Luxemburgo e nos Estados Unidos. Em colaboração, eles afirmaram trabalhar para Cabral por mais de dez anos.

    “Não caracterizaria como amizade [a relação com Cabral]. Eles eram operadores, obviamente, com uma relação profissional, de confiança. Mas não tinham vinculações formais com o estado do Rio de Janeiro. Eles trabalhavam na sombra”, completou.

    Em outros processos, Cabral é acusado de comprar mais de cem joias avaliada em R$ 6,5 milhões como presente para Adriana Anselmo, então mulher do político. Mas os procuradores não acreditam nessa hipótese.

    “Parece muito mais que era uma forma de investimento, de acautelamento do dinheiro deles”, disse. As gemas e metais serão usados como prova para corroborar a investigação o a deleção premiada.

    “Essa busca pelos valores da organização é uma busca perene. Isso a gente não vislumbra um horizonte, um fim para essa missão.”

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