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    MP-RJ classifica como suspeita investigação de homicídio que envolve Queiroz

    Caso teria acontecido há 20 anos na Cidade de Deus; ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro atuava como policial militar no Rio de Janeiro

    Leandro Resendeda CNN

    Uma investigação sobre uma morte que se arrasta há quase 20 anos e que, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), reúne vários equívocos, lacunas e suspeitas ganhou novos contornos nos últimos dias. No meio do caso, que teve movimentação na última semana, está o ex-policial militar Fabrício Queiroz, conhecido nacionalmente como ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), denunciado por operar um esquema de desvio de parte dos salários dos assessores do político quando ele era deputado estadual no Rio. 

    Queiroz e outros quatro policiais se envolveram na morte de Genesis Luiz Conceição da Silva durante incursão policial na Cidade de Deus, em novembro de 2002. 

    E até hoje o homem que foi atingido no tiroteio não foi ouvido pela Polícia. Mais: não houve perícia nas armas usadas, que sequer foram apreendidas, e dois policiais envolvidos no caso foram ouvidos apenas 18 anos depois do episódio de acordo com documentos obtidos pela CNN.

    Em dezembro de 2020, o MP solicitou que a Polícia Civil tomasse 12 providências na investigação do caso. Na semana passada, o inquérito retornou ao MP com apenas uma diligência cumprida: a tomada do depoimento do ex-comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar. Agora, o MP informou à CNN que o inquérito será devolvido para que, mais uma vez, seja tentada a produção de provas. 

    É o mais recente episódio de uma investigação que caminha a passos lentos e sobre a qual muito pouco foi feito. O MP pediu novas provas seis vezes entre 2002 e 2020. Já a Polícia Civil relatou o inquérito (ou seja, conluiu a apuração) três vezes entre 2019 e 2020. Em todas pediu, sem sucesso, que o inquérito fosse arquivado. 

    Anos antes de se tornar assessor de Flávio Bolsonaro, Queiroz era um policial respeitado e temido do 18º Batalhão da Polícia Militar, que cobre a área da Cidade de Deus. No dia 16 de novembro de 2002, relatou à Polícia que estava em patrulhamento de rotina com outros PMs quando revidou o que chamou de “injusta agressão”. Em meio ao intenso tiroteio, Genesis Luiz acabou morrendo e um outro homem – que até hoje não foi ouvido pela Polícia – ficou ferido.  

    Queiroz e o outro policial que prestou depoimento à época dos fatos descreveram Gênesis como suspeito e afirmaram que houve confronto. O MP, porém, lembra que ele tinha 19 anos e não tinha antecedentes criminais. Em 2020, sua mãe e sua irmã prestaram depoimento e afirmaram que ele estudava, trabalhava como auxiliar de pedreiro e, na noite em que morreu, tinha ido a um baile funk na Cidade de Deus. 

    Dos cinco policiais, Queiroz e mais um prestaram depoimento à época dos fatos. Dois só foram à Polícia em agosto de 2020 – 18 anos depois do caso. E até hoje um dos policiais ainda não foi ouvido pelos investigadores.

    Antes de encerrar a investigação ou que o caso prescreva, o MP quer que as armas usadas no crime sejam encontradas para serem periciadas e que o homem que sobreviveu seja ouvido pelos investigadores. A Promotoria também quer confirmar se o carro da Polícia Militar em que Gênesis foi levado após ser baleado demorou propositalmente a chegar ao hospital. 

    Fabrício Queiroz durante a prisão na manhã de quinta-feira (18) em casa em Atiba
    Fabrício Queiroz durante a prisão em junho de 2020 em casa em Atibaia
    Foto: CNN (18.jun.2020)

    Outro caso

    Meses após se envolver na morte de Gênesis, já em 2003, Queiroz se envolveu em outro episódio que terminou com uma pessoa morta. 

    O caso também ocorreu na Cidade de Deus, e Queiroz estava ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-policial militar acusado de comandar uma milícia na Zona Oeste do Rio e morto em fevereiro do ano passado na Bahia.

    A abordagem que terminou com a morte do técnico de refrigeração Anderson Rosa de Souza. A investigação segue em aberto e ganhou novo fôlego em 2020, após pedidos de produção de novas provas feitas pelo MP do Rio, que cita “grande probabilidade” de execução. 

    Outro lado

    Em nota, a defesa de Fabrício Queiroz afirmou à CNN que vê “odiosa perseguição”ao ex-policial militar. “Soa, no mínimo, estranha a notícia de reviravolta na investigação de fato ocorrido há cerca de 18 anos”. 

    “Em um piscar de olhos, todas as provas que comprovaram atuação lícita e legítima são subitamente desconsideradas e refeitas, na tentativa de amparar artificiosa incriminação, atuação que acaba por subverter a atividade investigatória legítima em instrumento de odiosa perseguição”, diz a defesa.

    A Polícia Civil ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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