MP denuncia desmanches e centros de reciclagem na região da Cracolândia em SP
Denúncia com mais de 80 páginas descreve modos operandi de empresas; 25 pessoas foram denunciadas
O Ministério Público de São Paulo denunciou 25 pessoas, nesta quarta-feira (30), responsáveis por integrar núcleos de desmanches e centros de reciclagem, usados ilegalmente para práticas de crimes, na Favela do Moinho Velho, no centro de São Paulo.
A investigação do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) revelou uma complexa operação de lavagem de dinheiro, vinculada a uma organização criminosa que atuava na região central de São Paulo.
A denúncia, que soma 80 páginas, apresenta uma série de pontos contra 25 pessoas, envolvidas em práticas criminosas, na região da Cracolândia, em São Paulo. Entre as acusações estão a imputação dos delitos de formação de quadrilha, receptação qualificada, exercer atividade sem licença ambiental e lavagem de dinheiro.
O MP aponta que a região de Campos Elíseos, Luz e Santa Efigênia são exemplos da deterioração moral e violações sistêmicas de práticas criminosas. A denuncia destaca a articulação do Primeiro Comando da Capital, na cooptação da região central, tornando o local um espaço que fortalece suas atividades criminosas.
De acordo com a denúncia, os denunciados agiram em conjunto, com objetivos comuns e de forma contínua, na exploração ilegal de ferros-velhos e empresas de reciclagem. Além da exploração ilegal, o grupo praticava crimes ambientais, receptação qualificada e outros delitos relacionados.
Sobre as investigações
Nas ações dentro dos ferros-velhos, a denuncia destaca a receptação e venda de produtos frutos de ilícitos, que circulavam para proveito próprio dos estabelecimentos investigados.
As empresas de reciclagem eram utilizadas como fachada para ocultar a origem ilícita dos recursos e realizar a lavagem de dinheiro. Os crimes ocorreram entre 2018 e 2023, com diversas movimentações financeiras sendo realizadas ao longo desse período.
Os membros da organização criminosa dissimulavam os valores provenientes de crimes como organização criminosa e receptação qualificada por meio de movimentações financeiras em contas bancárias e empresas.
Os valores eram divididos em diversas transações para dificultar o rastreamento e a identificação da origem ilícita dos recursos. Parte do dinheiro era utilizado para a aquisição de bens, como imóveis, para ocultar a origem ilícita dos recursos.
Sobre os crimes
Para o MP, o Primeiro Comando da Capital (PCC) estabeleceu um forte controle sobre a região, explorando o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Além do tráfico de drogas, a região da Cracolândia se tornou um centro para o comércio ilegal de peças de veículos, exploração de trabalho infantil e trabalho com condições análogas à escravidão.
Durante a descrição das atividades, a denúncia elenca uma série de eventos envolvendo a exploração de crianças e dependentes químicos, submetidos a atividade laborais em troca de crack e “cachaça”.
O ciclo vicioso apontado pelas investigações, mostram a pobreza, a dependência química e a falta de oportunidades como condicionantes que levam as pessoas a se envolverem com o crime, perpetuando o ciclo de violência e degradação. Neste sentido, a organização criminosa explora a vulnerabilidade das pessoas em situação de rua, oferecendo drogas e outras formas de sustento em troca de lealdade.