Morte de policial embasou ocupação no Salgueiro, aponta relatório da PM
Informação está no relatório da operação que deixou nove mortos em comunidade de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio
O relatório interno do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sobre a operação que terminou com nove mortos no Complexo do Salgueiro, no último domingo (21), em São Gonçalo, afirma que a morte do sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, na véspera, foi uma das justificativas para o início da ação.
O dado aparece no campo “justificativa da absoluta excepcionalidade da operação”. O item existe porque o Rio de Janeiro está sob efeitos do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A norma estabelece restrições para a realização de operações policiais em favelas do estado durante a pandemia de Covid-19. Elas podem ocorrer, desde que em casos excepcionais e se comunicadas previamente ao Ministério Público (MP-RJ).
O órgão confirmou ter recebido a informação por parte da Polícia Militar. O relatório, obtido pela CNN, diz:
“A injusta agressão resultou na morte do segundo sargento da Polícia Militar 83.225 L.R.S., tornando-se imperiosa a atuação dessa Unidade Especial a fim de restabelecer a ordem na área conflagrada em questão, busca identificar e prender os responsáveis pela morte do agente da lei e providenciar a retirada em segurança dos policiais que permanecem no interior da comunidade”, diz um trecho da justificativa.
O documento cita ainda outros detalhes da ação, como a participação de 75 policiais do Bope. O objetivo descrito é o de “reprimir ações de ataque às viaturas policiais de serviço”.
Também foi citada a frota utilizada na operação: incluiu dois veículos blindados para transporte de pessoal e de uma ambulância. O último veículo seria utilizado “para socorro imediato de policiais e civis, caso haja necessidade”, aponta o relatório, assinado pelo major Carlos Eduardo da Silveira Monteiro, do próprio Bope.
Contudo, os corpos dos mortos foram encontrados no manguezal da comunidade, e foram removidos manualmente da área alagada por vizinhos e familiares, o que resultou em críticas de moradores e de entidades de defesa dos direitos humanos.
As armas dos policiais envolvidos na operação foram entregues na quarta-feira (24) à Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, para a realização de perícia. Foram oito fuzis, entregues três dias depois da ação.