Moradores de favelas do RJ vivem até 29 anos menos que habitantes de áreas nobres, diz estudo
Pesquisa também mostra que morador da capital fluminense vive seis anos mais em comparação com quem vive em municípios pobres


A população que mora em favelas do Rio de Janeiro vive entre 29 e 23 anos a menos na comparação com moradores dos bairros mais nobres do país. A constatação faz parte de estudo feito pela Casa Fluminense a pedido da CNN.
Os pesquisadores tomaram como base para mediar a pesquisa a favela da Rocinha, localizada na zona sul do Rio de Janeiro. Apesar de estar numa das áreas mais nobres do país, a maior favela do Brasil, com 130 mil habitantes, de acordo com o último Censo do IBGE, foi avaliada em 2000 com índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,732, sendo a 120ª colocada entre as 126 regiões analisadas no município do Rio de Janeiro.
Esse cenário pode estar ainda pior. De acordo com os pesquisadores, a pandemia da Covid-19 aumentou a discrepância entre o rico e o pobre, sobretudo em moradores de comunidades do Rio de Janeiro.
A base desse levantamento atualizado pela Casa Fluminense foi divulgada em 2020, através do Mapa da Desigualdade da instituição. Todos os dados do estudo foram retirados do DataSUS, plataforma do Ministério da Saúde.
Comparação
O estudo também compara o tempo de vida de moradores da Rocinha com quem mora a poucos metros da favela, nos condomínios de luxo de São Conrado, mesmo bairro onde está localizada a Rocinha.
A diferença é estarrecedora: quem mora em São Conrado, mas fora da Rocinha, vive 23 anos mais do que um morador da comunidade.
A pesquisa contemplou ainda moradores de outros municípios do Rio de Janeiro considerados mais pobres. Quem reside em Queimados, região metropolitana do Rio, por exemplo, vive, em média, 58 anos, ao passo que quem mora na capital tem média de vida de 64 anos, seis anos mais.
“Abismo”
Para o economista e coordenador executivo da Casa Fluminense, Vitor Mihessen, a pandemia aumentou ainda mais o “abismo” na expectativa de vida entre moradores de locais nobres em comparação a regiões com menor infraestrutura.
Ele detalhou, entre os motivos, a dificuldade no acesso à informação sobre o novo coronavírus e as prevenções.
“A pandemia aumentou a diferença entre a classe dominante e os mais pobres. Seja desde conseguir as informações necessárias até o acesso a hospitais preparados para o tratamento do vírus. A questão do isolamento social é outro fator. As pessoas com menos poder aquisitivo não puderam fazer isolamento e seguir os protocolos como previstos. São cinco ou seis pessoas morando em um mesmo cômodo. E por fim, essas pessoas também não puderam trabalhar em casa, fazendo home-office, determinados trabalhos somente são feitos de forma presencial. Ou seja, esses indivíduos pegaram ônibus, encontraram pessoas, tiveram mais propensão de pegar o vírus”, completou.
O Mapa da Desigualdade da Casa Fluminense apontou ainda que o município de Niterói tem os melhores índices do estado e que seus moradores vivem, em média, 70 anos, seis a mais do que quem mora na capital e 12 anos mais de municípios pobres do Rio.
“Os niteroienses vivem, em média, 12 anos a mais que os moradores de Queimados. Os principais fatores para essa discrepância são os índices de violência, os patamares de pobreza e a renda média populacional”, destaca um trecho da pesquisa.