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    “Tem que ser com pau”: moradores de Copacabana criam grupos para caçar ladrões

    Ação de "justiceiros" em resposta aos episódios de violência é desaconselhada por especialistas

    Rafaela Cascardoda CNN

    Rio de Janeiro

    Após a recente escalada de violência em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, com episódios de assaltos e agressões, moradores do bairro organizam uma espécie de “força-tarefa” para combater a criminalidade com as próprias mãos. O grupo de “justiceiros” combina estratégias nas redes sociais e prevê até o uso de armas brancas. A atitude é criticada por especialistas ouvidos ela CNN.

    Através das redes sociais, um dos líderes do movimento, William Correia, gravou um vídeo convocando outros voluntários a irem para as ruas enfrentar os criminosos.

    “E aí, rapaziada de Copacabana, qual vai ser? Vamos deixar os caras fazer o que querem aqui no nosso bairro mesmo? Cadê a nossa rapaziada de 2015 que botou esses caras pra correr? E aí? Vai esperar ser o nosso pai, o nosso avô, teu pai, alguém da tua família? Tomar um soco na cara e ficar por isso mesmo, ninguém fazer nada? Polícia não pode fazer nada, prende e solta”, afirmou Correia em um trecho.

    A iniciativa ocorreu após a repercussão do assalto e da agressão sofrida pelo comerciante Marcelo Rubim Benchimol, de 67 anos, no último sábado (2). O idoso estava a caminho da academia, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, altura da Rua Dias da Rocha, quando percebeu que uma mulher estava sendo assaltada por um bando.

    Veja também: Policial troca tiros após tentativa de assalto no Rio de Janeiro

    Ele foi tentar intervir e acabou levando um soco e caindo ao chão desacordado. Após a queda, os criminosos reviraram os bolsos de Marcelo e conseguiram levar um celular. Com o rosto ainda machucado, ele prestou depoimento na delegacia de Ipanema na segunda-feira (4), mas afirmou que não confia no fim desse tipo de crime no Rio de Janeiro.

    A reportagem da CNN teve acesso a imagens cedidas pela empresa de segurança Gabriel, que tem acordo firmado com as polícias Civil e Militar, que mostram que o grupo que assaltou Marcelo em Copacabana já tinha realizado outro assalto, no Arpoador, também na zona sul, no mesmo dia.

    Os suspeitos também agrediram as vítimas, que, na ocasião, eram duas mulheres.

    A descrença de que possa haver uma solução para o problema de segurança pública do bairro não é compartilhada apenas por Marcelo, mas também está presente nas mensagens trocadas em grupos de moradores da região.

    Em alguns “prints” é possível observar moradores relatando violências sofridas e marcando uma reunião para “definir parâmetros e estratégias para a atuação no bairro”.

    Morador tenta marcar reunião para “definir parâmetros e estratégias para a atuação no bairro” contra assaltantes / Reprodução/Redes Sociais

    Em outro registro, alguns sugerem o uso da força e armas brancas para inibir os assaltantes.

    Morador sugere uso de “porrete” para agredir assaltantes na região / Reprodução/Redes sociais

    “Só o estado pode perseguir o infrator”

    A medida foi criticada pelo coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante-geral da PM analista em segurança pública.

    “Só o estado pode perseguir o infrator penal, que é apurar pela apuração penal e pela apuração processual. Após a apuração, feita em julgamento, só o estado pode julgar e punir. O uso da força deve ser legal, técnico e feito pelo agente capaz. O uso da força tem que ser legal e só pode ser em oposição a força contrária, contra agente ou terceiros”, afirmou Ubiratan.

    “Então esse emprego também tem que ser comedido, gradual, seletivo, de acordo com normas internacionais e nacionais do emprego da força. Não é um emprego punitivo, mas um emprego reativo para evitar-se um mal maior, para conter uma situação. Não cabe ao cidadão comum, independentemente dele acreditar ou não no organismo policial.”

    “Se ele não acredita que a solução é pela polícia, que se organize e apresente propostas e soluções. Há quem diga que o cidadão pode empregar a força quando ele está em legítima defesa. O emprego da força nesse caso é para preservar o direito que está sendo agredido. Se a sociedade se organiza em paralelo, o nome disso é milícia. É quando o cidadão decide cumprir a lei e a ordem à sua percepção paralelo ao poder do estado”, argumenta o ex-comandante-geral.

    Outro homem considerado um dos principais mobilizadores da iniciativa de moradores de Copacabana fez um apelo nas redes sociais. Ele pediu o engajamento das academias e de lutadores da região para o que chamou de “projeto de limpeza” e chaga a incitar a violência contra possíveis ‘assaltantes e desordeiros”.

    Homem faz apelo em uma rede social para unir forças em uma “força-tarefa” contra assaltantes na região / Reprodução/Redes sociais

    Uma das principais críticas dos participantes do grupo é em relação a soltura dos suspeitos após audiência de custódia. Muitos reclamam que eles são presos depois dos crimes, mas saem da cadeia em pouco tempo.

    Um dos casos mais recentes que chamou a atenção foi o do suspeito Alan Ananias Cavalcante, que, segundo a polícia, integra uma quadrilha que comete furtos e roubos na zona sul. O homem foi preso quatro vezes em menos de um mês.

    Em apenas um dia, Alan chegou a ser levado duas vezes para a delegacia. No último episódio, no fim de novembro, ele foi preso após assaltar e agredir turistas de São Paulo, em Copacabana.

    Antes disso, ele tinha sido preso suspeito de participação na morte do fã da cantora Taylor Swift, Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, de 25 anos, nas areias da Praia de Copacabana.

    No entanto, ele foi liberado em audiência de custódia pois não foi reconhecido pelos amigos que estavam com Gabriel no momento em que ele foi esfaqueado.

    A Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou, em nota, que “a região possui aproximadamente 25% de reincidência criminal em casos de roubos e furtos, ou seja a cada 4 criminosos presos por esses crimes um deles é reincidente”.

    A CNN entrou em contato com o Tribunal de Justiça para comentar as críticas da atuação do Judiciário e aguarda um posicionamento sobre o assunto.

    O que dizem as autoridades de segurança

    A Polícia Civil afirmou que tomou conhecimento da ação dos “justiceiros”, e que diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos.

    A Polícia Militar do Rio de Janeiro disse que atua na região para prender em flagrante qualquer envolvido em crimes e que possui policiamento reforçado para reduzir os índice criminais do bairro.

    “Frequentemente, as unidades operacionais que atuam no bairro fazem ações de revistas e abordagens a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de diversas ações que visam coibir o cometimento de roubos e furtos a patrimônio público e privado”, diz a nota enviada à imprensa.

    Nos últimos 10 dias, somente em Copacabana, a PM do Rio encaminhou 150 pessoas para delegacias da região e retirou 11 facas de circulação. Quatro pessoas foram presas e seis adolescentes infratores foram apreendidos.