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    Ministério Público apura se contraventor é mandante da morte de Marielle Franco

    Rogério Andrade está foragido; Operação Calígula prendeu 12 pessoas e apreendeu R$1,8 milhão na casa de delegada

    A vereadora Marielle Franco em sessão da Câmara do Rio de Janeiro em maio de 2017
    A vereadora Marielle Franco em sessão da Câmara do Rio de Janeiro em maio de 2017 Foto: Divulgação

    Pedro Duranda CNN Rio de Janeiro

    A Operação Calígula, realizada nesta terça-feira (10), pode ajudar o Ministério Público do Rio de Janeiro a descobrir o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. O promotor Diogo Erthal confirmou em entrevista coletiva que uma das hipóteses com a qual o MPRJ trabalha é que o contraventor Rogério de Andrade seja o mandante do assassinato.

    À CNN, Erthal chamou o homem, que está foragido da Justiça, de “suspeito óbvio” do crime, pela ligação que ele já tinha com Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato de Marielle.

    Para os promotores, Lessa atuava como uma espécie de segurança de Andrade e foi chamado por ele a comandar a expansão dos negócios da organização criminosa na zona Oeste do Rio um mês depois do homicídio da vereadora, em abril de 2018.

    “A organização tinha o Lessa como elemento de grande confiança num momento muito próximo à morte de Marielle Franco”, disse o promotor. “O que chama atenção é a proximidade entre os fatos e um vínculo de confiança muito forte estabelecido entre eles no momento concomitante ao assassinato”, completou.

    Marielle Franco foi morta no dia 14 de março de 2018. Mensagens interceptadas pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) mostram que no mês seguinte, em abril, Rogério de Andrade procurou Ronnie Lessa. A proposta era abrir um bingo clandestino na Barra da Tijuca, zona oeste carioca.

    Em julho, três meses depois da negociação, o estabelecimento foi inaugurado no Quebra-mar, na Barra. No mesmo dia, a Polícia Militar fez uma operação e impediu o funcionamento do bingo, com apreensão de 80 máquinas de caça-níquel.

    Segundo o Gaeco, Lessa passa então a articular uma liberação para que o local volte a funcionar e a recuperação das máquinas apreendidas. Neste momento da investigação aparece o nome da delegada licenciada Adriana Belém, então titular da 16ª delegacia, da Barra da Tijuca, presa na tarde desta terça após a decretação de detenção preventiva pelo Tribunal de Justiça.

    Segundo a denúncia do MP, o pagamento de propina teria convencido a delegada a permitir que, em agosto de 2018, caminhões estacionassem na porta da delegacia para retirar as máquinas.

    Na casa dela, foram encontradas malas com dinheiro. Depois de quase nove horas contando as notas, os promotores finalizaram a soma de R$1.765.300 apreendido.

    Na casa de outro delegado licenciado, Marcos Cipriano, apontado como parte da organização criminosa, os promotores encontraram a decisão judicial que baseou a operação desta terça-feira. Como o documento era sigiloso, o vazamento de informações vai ser investigado.

    A reportagem da CNN tenta contato com a defesa de Adriana Belém e Marcos Cipriano, mas ainda não teve retorno.

    Para o MP, a abertura do cassino foi o primeiro ato de Lessa depois da morte de Marielle. Os promotores disseram que ele estava “frio” e “confiante” após o assassinato do qual é réu. A conclusão vem a partir da avaliação das mensagens trocadas entre Lessa e Andrade obtidas pelo MP.

    Além de prender doze pessoas, o Gaeco ainda apreendeu 17 celulares, 5 notebooks e 107 máquinas de caça níquel, desmontando duas casas de jogos ilegais: uma na Barra da Tijuca e outra no Recreio. Para os promotores, os locais ajudavam a financiar outras atividades criminosas.

    Números da Operação Calígula

    • 29 mandados de prisão
    • 119 mandados de busca e apreensão
    • 12 prisões
    • R$ 1,76 milhão apreendidos na casa da Adriana Belém
    • 17 celulares apreendidos
    • 5 notebooks apreendidos
    • 107 máquinas de caça níquel apreendidas

    Em entrevista à CNN, o advogado Ary Bergher, que defende Rogério Andrade, afirmou que citar o nome de Marielle para chegar até o cliente dele é ‘vergonhoso’.

    “É muito triste usar como cortina de fumaça um homicídio de uma vereadora, de uma moça negra, que tem uma história de vida, para tentar justificar essa operação midiática sobre jogo do bicho, sobre o Rogério. Até hoje os investigadores não conseguiram um lastro probatório sério para apresentar quem são os mandantes. Isso é vergonhoso”, disse.

    Em nota, a Polícia Civil afirmou que ambos os delegados alvos da operação não têm cargos atualmente. “Adriana Belém está afastada de licença e Cipriano trabalhando em outra instituição”.

    De acordo com a Civil, “a Corregedoria solicitará acesso às investigações para dar andamento aos processos administrativos necessários”.

    Já a defesa de Lessa afirmou que soube pela imprensa do ocorrido.

    “Nós ainda vamos nos inteirar do que está acontecendo. Saber se há alguma acusação, qual acusação e quais os elementos que subsidiam ela. Por enquanto, não temos como nos posicionar. Estamos no escuro”, afirmou.