Mesmo fechadas, escolas de São Paulo são alvo de seis furtos por dia
Computadores, cabos, câmeras, alimentos e móveis estão entre os itens mais furtados
Mesmo fechadas, as escolas estaduais paulistas foram alvo de seis furtos por dia neste ano. Computadores, cabos, câmeras, alimentos e móveis estão entre os itens mais furtados. É o que mostra um levantamento feito pela CNN a partir de dados obtidos com diretorias de ensino por meio da Lei de Acesso à Informação e no sistema Conviva São Paulo, que reúne dados de ocorrências nas escolas. Só entre janeiro e setembro deste ano foram registradas 1.454 ocorrências de furto, sendo 1.203 delas entre o dia 23 de março, quando as escolas foram fechadas, até o dia 8 de setembro. O número é maior do que em todo o ano de 2019, com 1.412 ocorrências.
As regiões com maior quantidade de ocorrências estão na zona leste e norte de São Paulo. São mais de 600 escolas alvos deste tipo de crime, sendo que 220 delas foram vítimas mais de uma vez. A reportagem encontrou escolas que tiveram mais nove episódios de furto durante a pandemia.
Em agosto, a Polícia Civil prendeu integrantes de uma quadrilha que furtava computadores de escolas e diretorias de ensino. Boletins de ocorrência mostram que o grupo vinha praticando crimes desde 2016. Os policiais descobriram que o equipamento ia parar em uma loja de informática em Santa Ifigênia, na região central de São Paulo. Lá os computadores eram revendidos como se fossem novos. Quando a polícia foi ao local, encontrou os itens ainda com o selo do patrimônio do governo de São Paulo colado nas máquinas.
O secretário executivo de educação do Estado, Haroldo Corrêa Rocha, afirmou que o aumento reflete uma melhoria feita no sistema de registros, que agora tem preenchimento diário compulsório, e não necessariamente um aumento na criminalidade dentro dos prédios públicos. “Mesmo se a escola não tem um registro, tem de ir na plataforma e dizer que não houve caso naquele dia”, afirmou.
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O governo estadual afirma que tem apostado na instalação de câmeras nas unidades e interligação com um centro de comando que reúne vários órgãos estaduais, incluindo a segurança pública. “Todas as escolas receberam um valor personalizado para receber os equipamentos. Se não tinha, começou a receber a partir deste ano”, disse o capitão William Thomaz, assessor de segurança escolar da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo. O governo estadual também incentivou parcerias com a Secretaria da Segurança Pública, como o programa Vigilância Solidária Escolar, que prevê a criação de grupos de Whatsapp que reúne, pais, funcionários da escola e policiais.
Vigilância por Whatsapp
Em uma escola da zona norte da capital, uma sequência de furtos em um só fim de semana de 2019 trouxe enorme prejuízo à comunidade escolar. “Eles levaram notebooks, rádios, torneiras do bebedouro, estouraram todos os extintores de incêndio, as mangueiras. Levaram escadas de alumínio, carrinho de mão, enxada”, afirmou o diretor Flávio Maggiore. “É triste você saber que o pouco que a escola pública consegue manter de qualidade, em alguns minutos, em alguns ocasiões, são destruídos por indivíduos sem escrúpulo”, disse ele, que ainda se recupera dos prejuízos. Neste ano, com a adoção do grupo, não houve registro de furtos na pandemia na unidade. “A comunidade passou a se vigiar.”
Este tipo de ação deve ser usada com cautela, segundo especialistas. Para Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, a medida pode ajudar a aproximar a polícia dos moradores, criando confiança e trazendo responsabilidade para o coletivo. Mas para que funcione, é preciso tomar cuidado com alguns fatores. “A questão é como controlar o excesso de vigilantismo que pode surgir desse tipo de medida. As pessoas têm medo e vieses. Muitas vezes o suspeito tem cor. Você dá brecha para preconceitos raciais, inclusive. É preciso adotar este tipo de medida porque vincula toda a comunidade, mas é preciso ter critérios claros, oriente, não alimente visão preconceituosa sobre quem pode ser o suspeito e haja uma prestação de contas clara. Os policiais que pilotam o grupo têm de ser gente muito séria e comedida para não alimentar uma lógica persecutória”, disse.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a Polícia Civil investiga os casos apontados pela reportagem e está à disposição dos órgãos de ensino, tanto estadual quanto municipal. Afirmou ainda que a Polícia militar acompanha a dinâmica das comunidades escolares com o programa ronda escolar e que a variação nos índices de criminalidade embasam os itinerários das radiopatrulhas e os programas de policiamento complementares para a área. Afirmou ainda que o governo lançou no ano passado o programa Escola Mais Segura, com reforço na segurança a partir de reuniões entre comandantes de batalhões e delegacias regionais de ensino para discutir medidas preventivas, além de uma linha direta das escolas com a PM para agilizar o atendimento.