Mesmo em quarentena, 3 a cada 10 paulistanos estão saindo de seus bairros
O levantamento traz uma pista nova para o governo nos cálculos de isolamento e quarentena
Dados obtidos pelo monitoramento feito pelas operadoras de telefonia em parceria com o governo de São Paulo mostram que 3 a cada 10 pessoas que moram na capital paulista estão saindo diariamente de seus bairros em direção a outros locais da cidade.
O gráfico que ilustra a movimentação foi exibido para a reportagem da CNN nesta quarta-feira (15) na área onde funciona núcleo estadual de gerenciamento do coronavírus, no Palácio dos Bandeirantes. Ele é o resultado de uma análise do mapeamento de deslocamentos internos na cidade de São Paulo.
A régua para definir quem está ou não respeitando o isolamento social é a movimentação do sinal do celular. Os movimentos superiores a 200 metros no raio da casa onde a pessoa mora apontam a quebra da quarentena. O centro do raio é estabelecido de madrugada, quando o telefone fica imóvel e sem atividade porque o dono do aparelho está dormindo.
Metade dos habitantes de São Paulo está respeitando a quarentena a outra metade, não. Destes, 38,05% estão circulando dentro de seus bairros e 61,95% circulando para além dos limites do bairro onde moram. Isso significa que cerca de 31% dos moradores de São Paulo – ou três a cada dez – estão indo para além desses limites durante o dia.
“O positivo aqui é que tem muita gente que está se deslocando dentro do próprio bairro. Quando a gente faz pesquisas com a população, muita gente acha que está em quarentena. E aí a gente viu que ela se deslocou acima de 200 metros. Então na prática ela está em quarentena, mas precisou sair para um supermercado ou uma farmácia”, explica a Secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Patrícia Ellen.
Para a secretária, isso poderia ajudar a explicar o porquê de o estado de São Paulo ainda estar 20 pontos percentuais abaixo da meta de 70% de isolamento social, mas ainda assim não ter uma curva de transmissão do vírus vertiginosa. “Talvez isso seja uma das razões pelas quais o nosso índice de 50% [de isolamento social] ainda está sendo positivo e com ele a gente tem conseguido um controle adequado da pandemia”, disse à CNN.
Dados de celulares
O monitoramento feito pelas operadoras telefônicas leva em consideração a triangulação do sinal do celular nas antenas próximas de onde a pessoa está. Técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-SP) afirmam que a captação da localização do dono do aparelho celular independe da conexão com a internet ou sequer de ligações efetuadas e recebidas. Só pelo fato de o aparelho estar ligado e com sinal já é possível mapear o local daquela pessoa.
Os dados, no entanto, não vêm para o governo de forma individual. As operadoras, que já possuem essas informações, compilam os números em tabelas e pequenas áreas, mostrando a movimentação de grupos de pessoas e não de indivíduos. Nesta semana eles começaram a analisar dados mais específicos ainda, que analisam a cidade de São Paulo, bairros e microrregiões.