Maurício Pestana: símbolos e representatividade na Câmara dos Deputados
Bancada negra reúne parlamentares de diferentes partidos e tendências políticas e ideológicas na luta contra o racismo
Você já deve ter ouvido falar na bancada ruralista, aquele agrupamento de deputados dos mais diversos partidos, que, em dado momento, se juntam para defender pontos em comum e votam conjuntamente em defesa de seus interesses. Talvez tenha escutado falar da bancada evangélica e até mesmo da bancada da bala, que defende mais armamento, policiais e corporações militares, e assim por diante.
Mas, provavelmente, você tenha ouvido pouco da bancada negra. O grupo é novo e reúne diversos deputados dos mais diferentes partidos e tendências políticas e ideológicas, mas parte de um ponto de vista em comum: todos se autodeclaram pretos ou pardos e se posicionam conjuntamente na luta contra o racismo.
A bancada nasceu forte, conta com mais de 100 parlamentares e é composta por nomes de peso como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), veterano na política em Brasília, que já foi ministro dos Esportes. Tem outra veterana na Casa, Benedita da Silva (PT-RJ), que já chegou a ocupar o cargo de senadora e governadora pelo estado do Rio de Janeiro.
Mas a diversidade da bancada não para por aí. O grupo conta também com Erika Hilton (PSOL-SP), primeira deputada negra trans, e outros inúmeros deputados.
Em minha passagem por Brasília, tive a oportunidade de visitar o Congresso e conversar com o presidente da bancada, o deputado federal Damião Feliciano (União-PB), autor do projeto que criou o grupo. O encontro também foi acompanhado pelo deputado federal Orlando Silva, e pude entender a importância e a pluralidade da bancada, que já tem programadas várias ações para essa legislatura.
Em sua fala, o deputado Feliciano pontuou a defesa incondicional das ações afirmativas no Brasil e a manutenção incondicional da política de cotas nas universidades brasileiras – e lembrou que, desde que a lei foi instaurada no Brasil, mais de um milhão de negros tiveram a oportunidade de frequentar uma universidade graças a este sistema, que oferece mais diversidade ao mercado de trabalho brasileiro.
Mas o parlamentar também reforçou que ainda a muito a se fazer. “Veja o caso de racismo que uma porta-bandeira havia sofrido recentemente no aeroporto de Brasília, pouco depois de ser homenageada na Câmara dos Deputados”, lembrou.
Para o deputado federal Orlando Silva, a criação da bancada é mais uma conquista na luta pela igualdade em nosso país, ao lado da aprovação do feriado de 20 de novembro. O ex-ministro destacou que a bancada mostra que “símbolos e representatividade importam na construção de uma sociedade antirracista”.
Em um momento em que novamente as ações afirmativas, e principalmente as cotas raciais nas universidades, começam a receber fortes ataques de setores atrasados da sociedade brasileira, o encontro com os dois parlamentares de peso em Brasília, e as palavras expostas por eles, servem como alento pelo que parece vir por aí.