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    Maurício Pestana: quando o racismo, o machismo e a homofobia caminham juntos

    Brasil de hoje ainda tem uma hierarquização na taxa de assassinatos e mortes violentas, colocando negros, mulheres e a população LGBTQIA+ no front desta guerra

    Ainda estamos longe de uma sociedade justa, igualitária, fraterna, que resultará diretamente em um país menos violento
    Ainda estamos longe de uma sociedade justa, igualitária, fraterna, que resultará diretamente em um país menos violento FG Trade/Getty Images

    Maurício Pestanada CNN

    Nesta última semana do mês de orgulho LGBTQIA+ e, portanto, muitas indagações serão realizadas, números serão levantados, e a grande pergunta que se vem fazendo ao longo deste mês estará ainda mais presente: o Brasil tem avançado em políticas públicas, uma vez que oficialmente essa faixa significativa da população é representada por milhões de pessoas?

    Sabemos que nosso país demorou décadas para colocar o quesito raça nos índices de pesquisas e muitas das conquistas de outros grupos discriminados vêm a reboque desses avanços da causa racial, mas quando chega nos grupos LGBTQIA+ as bases das conquistas raciais acabam sendo limitadas, pois, esse grupo sofre duplas, às vezes, triplas discriminações, como no caso das mulheres trans negras, que são discriminadas por serem pretas, mulheres e trans, em uma sociedade com valores hierarquizados no racismo, machismo e na homofobia.

    Qualquer política pública é geralmente antecedida por reivindicações e números, porém os dados desses grupos são bastante falhos em nosso país. Isso fica evidente em alguns falas dos representantes deste segmento, que são categóricos ao questionarem os números e afirmam: embora o Brasil seja o lugar que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo, poucas mortes são registradas por homofobia. Isto porque a principal fonte de informação dos pesquisadores é a mídia, que há pouco tempo tem demonstrado interesse em veicular mortes, nesses casos.

    Mesmo assim, os números são assustadores: Aqui, uma pessoa LGBTQIA+ foi morta violentamente a cada 32 horas em 2022. Ao todo, foram assassinadas 273 pessoas entre janeiro e dezembro do ano passado, de acordo com o Dossiê de Mortes e Violências Contra LGBTQIA+ no Brasil. Mais da metade das vítimas, 159 pessoas, foram travestis e mulheres trans, representando 58% dos assassinatos. Ao todo, 96 homens gays foram mortos de forma violenta, em 2022.

    A síntese desta falta de dados, de políticas públicas direcionadas a essa população e, principalmente, insensibilidade para este assunto, está na fala de alguém que sente isso na pele e deu uma declaração muito tempo atrás, mas que continua atual até os dias de hoje, seu nome Paullet Furacão, transexual, educadora social, que afirma:

    “Ser uma transexual é sofrer todos os estigmas possíveis em um país considerado o país da diversidade, do acolhimento e que tem políticas efetivas para sua população”.

    Imagine ser uma negra e ainda trans? É saber que eu preciso lutar duplamente para conseguir políticas efetivas. Pensar em uma travesti negra e em uma travesti branca é também pensar que as políticas não conseguem ser implementadas para a população negra.

    “Mesmo sendo uma transexual no Brasil, é muito mais fácil que as políticas possam alcançar uma população travesti branca, mas não acontecerá o mesmo fenômeno com as travestis e transexuais negras”.

    Ainda estamos longe de uma sociedade justa, igualitária, fraterna, que resultará diretamente em um país menos violento. O Brasil de hoje ainda tem uma hierarquização na taxa de assassinatos e mortes violentas, colocando negros, mulheres e a população LGBTQIA+ no front desta guerra, que só será vencida com educação e políticas públicas reais, palpáveis contra todo tipo de discriminação e racismo.