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    Maurício Pestana: o racismo ambiental e o ESG

    População mais vitimada pela degradação ambiental é população negra, segundo Benjamin Franklin Chavis Jr

    Maurício Pestanapara a CNN Brasil

    Da série de artigos que tenho escrito sobre ESG, até agora havia focado no “S” de social, por conta desta causa estar mais intrinsecamente relacionada à questão racial no Brasil, razão esta por que tenho me dedicado há mais de trinta anos a estudar procurando sempre apresentar soluções para enfrentamento das profundas desigualdades existentes aqui.

    Mas ao começar a escrever sobre a questão ambiental do ESG, eis que mais uma vez me deparo com a temática racial, mais precisamente com a luta dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 do século passado. Naquele período um cidadão afro-americano chamado Benjamin Franklin Chavis Jr, que chegou a atuar como secretário de Martin Luther King Jr., fez uma denúncia que se aplica por demais ao Brasil dos dias de hoje, principalmente quando pensamos na questão ambiental.

    Chavis Jr. elencou uma série de fatores que conduziram a uma só constatação: a população mais vitimada pela degradação ambiental, a que sofre um maior impacto por conta da falta de investimento em saneamento básico, despejo de resíduos nocivos à saúde, vulnerabilidade social naquele país da metade do século passado, era a população negra. Surgiam aí as bases teóricas do termo Racismo Ambiental, para descrever a maneira como as comunidades são segregadas e discriminadas com base em características como raça, cor, etnia e gênero dentro de determinadas regiões geográficas mais vulneráveis a catástrofes socioambientais.

    É fácil entender isso olhando para as principais vítimas dos desastres naturais que têm ocorrido em nosso país, se analisarmos as populações e as regiões urbanas que mais têm sido afetadas por enchentes e outros desastres naturais, em geral são localizações em que, por questões econômicas e sociais, vivem as pessoas mais vulneráveis social e economicamente da nossa sociedade, no caso dos grandes centros urbanos, as populações de baixa renda em geral pobre, preta e da periferia, a exceção só ocorre em poucos estados do Sul, onde a população é predominantemente branca.

    Três exemplos recentes ilustram bastante esta teoria: no Maranhão, 800 famílias quilombolas poderão ser expulsas de seu território para expansão do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), em convênio firmado com os Estados Unidos.

    Outro exemplo vem do Norte, na instalação de dois portos na beira do Rio Amazonas, próximo ao canal de entrada de água do Lago Maicá, que ameaça o modo de vida de 12 comunidades quilombolas, indígenas, pescadores e ribeirinhas, em Santarém. Os empreendimentos podem alterar a circulação dos barcos na região, além de impactar a pesca – umas das principais atividades econômicas das comunidades.

    Por último, um dos maiores desastres ambientais da história recente do Brasil comprova as teorias de racismo e injustiça ambiental: 84,5% das vítimas imediatas do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, eram negras; 58,8% dos 259 mortos e 70,3% dos 11 desaparecidos do rompimento da barragem em Brumadinho, também em Minas Gerais, declararam-se como não brancos e tinham renda média abaixo de 2 salários mínimos.

    Não há dúvidas de que a defesa do meio ambiente, a busca por sustentabilidade é essencial para todo ser vivo na terra e quanto mais nos aprofundamos nos conceitos do ESG, mais nos aproximamos com diversidade, inclusão, resultando em desenvolvimento sustentável para todos os seres, independentemente de cor, raça ou condição social e geográfica.

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