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    Maurício Pestana: negros e o espaço real de poder no setor privado

    Disparidades criadas pela falta de políticas públicas estabeleceram barreiras quase instransponíveis, mas a luta pela equidade é de todos

    Maurício Pestanapara a CNN Brasil

    Nesta semana da Consciência Negra, grandes são as reflexões dos avanços e do quanto ainda é preciso conquistar para obtermos uma sociedade mais justa e igualitária. Neste contexto, há muito ainda a ser realizado tanto no âmbito público como privado.

    As ações afirmativas, como cotas nas universidades federais e serviço público, são as mais conhecidas entre nós e têm mudado o perfil desses espaços que começam a ter a cara e a cor do país em altos cargos. Também iniciativas do Executivo, como indicação de ministros negros, exemplo seguido também por alguns governadores e prefeitos apostando nesses talentos, nos dão a percepção de avanços no âmbito da inclusão.

    Mas, e na área privada. como caminham essas mudanças? Acompanho os avanços deste setor há mais de duas décadas, metade desses anos presidindo o Fórum Brasil Diverso, maior encontro do setor, que neste ano reuniu mais de 1.000 participantes, com cerca de 60 palestrantes vindos inclusive da Europa e Estados Unidos.

    É nítida a percepção na fala dos CEOs de algumas das maiores empresas do mundo, que passaram por lá e que estão, sim, preocupadas com a inclusão e diversidade racial nos seus quadros. Porém, entre a vontade, a meta e a realização, ainda há um caminho longo a ser percorrido.

    As disparidades, que a falta de políticas públicas como educação de qualidade para todos fez em nosso país, criaram barreiras econômicas e sociais quase instransponíveis para o setor privado. Exemplo disto é que, das 500 maiores empresas globais atuando no Brasil, não se chega a meia dúzia o número de CEOs negros, tendência seguida também em outros espaços de poder, como os conselhos de administração dessas empresas.

    Procurando compreender este problema de perto para também levar alternativas de mudanças, há quase dez anos tenho participado desses espaços institucionais na condição de conselheiro e presidindo comitês que auxiliam na pauta da diversidade e inclusão.

    Comecei pelo terceiro setor, onde participei do conselho administrativo do Museu Afro-Brasil e do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, um fundo de US$ 25 milhões, doados pela Fundação Kellog, e criado para auxiliar a equidade racial no Brasil.

    Porém, é no setor privado, nas instâncias de comitês e conselhos, que a lacuna negra é mais percebida, sobretudo nos conselhos onde a ausência se faz basicamente por três motivos: investimento financeiro – ser acionista conta ponto –, contribuição técnica – entender do negócio em pauta é importante –, e QI, quem indicou é importantíssimo também.

    Em um cenário onde o fator econômico é determinante nos quesitos assinalados acima, a ausência negra passa quase despercebida como nas outras instâncias de poder em nosso país.

    Disposto a romper com este ciclo, mesmo que de forma individual, e contando com aliados comprometidos com a mudança radical nesses espaços, há dois anos presido um comitê em uma empresa de educação, empenhado em levar diversidade e inclusão para a empresa e clientes e, neste ano, na qualidade de presidente do comitê Raça do Alicerce Educação e acionista da empresa, passo também a fazer parte do conselho de administração da empresa. Paralelo a isso, passo a ser acionista do principal financiador do Alicerce, que é o Fundo Rise, especialista em investimento em empresas de impacto ambiental, educacional e sustentável.

    São passos importantes, em que carrego os três fatores decisivos para participação no conselho: investimento financeiro, conhecimento técnico e QI, ou melhor, o QO – quem oportunizou, sem o qual não mudaremos nunca o quadro de exclusão. Afinal, a luta pela equidade e, consequentemente, uma sociedade mais justa, é de todos.

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