Maurício Pestana: lideranças apontam futuro da inclusão no mundo corporativo
Fórum Brasil Diverso apresenta sempre reflexões e contribuições para o avanço da inclusão racial no setor privado brasileiro
O mês da consciência negra se encerra com diversas manifestações culturais, sociais, políticas. Eu me orgulho de presidir, há quase dez anos, o maior encontro de lideranças empresariais a debater o tema da equidade racial. O Fórum Brasil Diverso apresenta sempre reflexões e contribuições para o avanço da inclusão racial no mundo corporativo. Algumas reflexões das grandes lideranças do mercado sobre a pauta da diversidade e inclusão nos dão uma pista de como o tema tem avançado:
A entrada das cotas conseguiu qualificar muita gente, o que permite que hoje se coloque pressão sobre as empresas para elas agirem. Vejo avanços. Eles são suficientes? Não. Eles são na medida em que a gente precisa? Ainda não, mas para quem saiu do zero… Esse é um momento complexo, porque você começa a incomodar. Você ainda não tem representatividade na proporção que devia, mas já começa a incomodar. Para conseguir fazer com que a pauta chegue, você tem de falar do tema toda hora e aquilo incomoda, então gera reação, gera repercussão, gera comoção e uma série de coisas. Mas eu acredito que a gente esteja no caminho certo, embora não na velocidade certa. Esse é um problema não só das empresas, mas da sociedade. Quantas pessoas chegam em um restaurante de luxo e fazem o teste do pescoço? Olham para o lado e veem quantos negros estão lá. Eu faço isso constantemente por estar sempre nesse ambiente e invariavelmente eu sou o único.
Maurício Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science América Latina
Mauricio fez uma fala contundente, mas não foi o único:
Ter o meu pai, um homem preto e pobre, atuando no mercado mais branco e elitista que temos até hoje, abriu-me muitas possibilidades. Ele sempre dizia que para mim as coisas seriam 3 vezes mais difíceis, duas por ser preta e uma por ser mulher, mas que eu poderia ser o que quisesse”. “Meu maior sonho é poder olhar para os lados e ver pessoas como eu em todos os cargos e funções. Que nós possamos ser ‘mais do mesmo’ e não mais únicos.
Roberta Anchieta, diretora de Administração Fiduciária do Itaú/Unibanco
Maurício e Roberta são executivos negros do mais alto escalão que temos no mundo corporativo no Brasil, um CEO para América Latina da Bayer, divisão do poderoso negócio do agro, e Roberta, uma alta executiva do grupo Itaú, mas não foram só executivos negros que expuseram os avanços e desafios da inclusão racial no Brasil; destaque também para fala de pessoas brancas comprometidas com o tema:
Hoje nos dedicamos a reparar o que vem do passado. Incentivamos marcas a darem suporte aos atletas negros. Nas associações e federações, temos feito um trabalho de base para incentivar as crianças e os adolescentes com potenciais naturais
Fernando Machado, diretor geral da multinacional Rip Curl
Mas, sem dúvidas, a fala que realmente mostra o tamanho da responsabilidade, e o papel das grandes empresas, foi pautada pelo presidente da L’Oréal de Paris no Brasil, a empresa que é o quarto maior anunciante do mundo, como relatou seu CEO, tem um pensamento claro sobre o momento que a pauta da diversidade e inclusão está passando em nosso país e no mundo.
O consumidor, daqui a pouco, vai perder a paciência. Isso porque estão atentos a temas de diversidade, inclusão e sustentabilidade. Com a próxima geração, isso vai ser mandatório. Vão falar: ‘Se vocês não fizerem isso, eu não vou comprar de vocês’. Daí o risco para as empresas que não estão focadas nestas questões. Não há retorno a curto prazo. Fazer o certo, no final do dia, vai ter um pagamento, vai ter um retorno.
Em 2020, a L’Oréal definiu metas para ser mais sustentável até 2030. Desde o ano passado, todos os endereços do grupo têm neutralidade de carbono e melhoraram a eficiência energética, usando 100% de energia renovável. Somos ainda a primeira empresa da América Latina a montar um posto de abastecimento de biometano dentro de um centro de distribuição, em Jarinu, São Paulo. Todos os caminhões que fazem o trajeto entre fábricas e os centros de distribuição da L’Oréal são ‘verdes’ com relação às emissões de CO2
Pensando em metas de inclusão e diversidade, pretendemos que a frota seja dirigida também por mulheres.
Apesar de ser uma empresa super sustentável, e com isso em seu DNA, acho que ainda há um trabalho de letramento a ser feito. É um grande desafio ter todo mundo dentro da organização com o mesmo nível de entendimento e compromisso.
Marcelo Zimet, CEO da L'Oréal Brasil
Foram muitas as contribuições nos dois dias que sucederam o fórum, mas uma coisa já pode ser deixada como certa: a pauta da diversidade e da igualdade racial no meio corporativo é um caminho de progresso e evolução e, principalmente, sem volta.