Maurício Pestana: diversidade e inclusão por meio da linguagem neutra
Linguagem gramatical LGBTQIAPN+ vem substituindo, mesmo à revelia de uma revisão oficial, termos e palavras consideradas prejudiciais a uma política de maior diversidade e inclusão no nosso vocabulário



Os avanços da diversidade e inclusão nos últimos dez anos se expandiram para todas as áreas que podemos imaginar. Ciência, tecnologia, esporte, meio ambiente, serviços públicos e setor privado hoje debatem o preconceito, o racismo, machismo, homofobia, transfobia e as estruturas que foram elaboradas com viés discriminatório nessas e em outras áreas.
Com objetivo de revisar tais estruturas, sobrou até para a nossa gramática, questionada e até confrontada por muitas lideranças do movimento LGBTQIAPN+, a linguagem gramatical oficial desses movimentos que já há algum tempo vem substituindo, mesmo à revelia de uma revisão oficial, termos e palavras consideradas prejudiciais a uma política de maior diversidade e inclusão no nosso vocabulário.
Mas o que é a linguagem neutra e por que ela causa tanta polêmica? Esta linguagem tem como objetivo adaptar o português para o uso de expressões neutras, a fim de que as pessoas não binárias (que não se identificam nem com o gênero masculino nem com o feminino) e ou intersexo tenham representação.
Resumindo, é a substituição dos artigos feminino e masculino por um “e” em alguns casos. Assim, “amigo” ou amiga” virariam “amigue”. As palavras “todos” ou “todas” seriam trocadas, da mesma forma, por “todes”.
Pode parecer estranho, ou sem importância, a mudança ou substituição de algumas palavras para a linguagem neutra, mas isso tem causado grandes discussões entre defensores da linguagem neutra e setores mais conservadores da academia, que não veem uma defesa legal com bases acadêmicas para tal mudança.
Em 2021, o debate chegou a instâncias governamentais e a antiga Secretaria de Cultura, hoje Ministério da Cultura, publicou uma portaria, na época, proibindo o uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet, impedindo que obras que recebessem o incentivo da lei utilizem “elu”, “amigue”, “namorade”, por exemplo, que fazem parte da chamada linguagem de gênero neutro ou não binária.
Atentos a essa preocupação da linguagem como forma de inclusão ou exclusão, o Fórum Brasil Diverso 2023, que acontece nos dias 17 e 18 de novembro próximo, irá trazer, em uma de suas sessões um das maiores especialistas do tema no momento, Pri Bertucci, CEO da Diversitybbox e fundador do Instituto SSEX BBOX, que palestrará sobe o tema “Comunicação Inclusiva nos Negócios” – como comunicar sua marca de forma mais inclusiva.
A experiência de algumas décadas, trabalhando em várias frentes pela inclusão racial de pessoas negras no Brasil, tem me feito confrontar com temas e situações polêmicas e espinhosas como, por exemplo, no início deste século minha defesa incondicional das cotas raciais nas universidades brasileiras, porém, o tema da linguagem neutra parece desses assuntos que já estão e renderão debates calorosos entre todos, todas e todes e não tem como ficar fora das discussões, que mexem com o dia a dia de como nos expressamos ou passaremos a nos expressar.