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    Maurício Pestana: diversidade e inclusão além das fronteiras de raça e gênero

    Muitas vezes, caímos na armadilha de não nos atentar a grupos que são excluídos por motivos variados como religião, origem social ou regional

    Governo tem demonstrado dificuldade em dialogar com população evangélica
    Governo tem demonstrado dificuldade em dialogar com população evangélica Pedro Lima/Unsplash

    Maurício Pestana

    Sempre que me indagam sobre o tema “diversidade e inclusão”, na maioria das vezes, é para falar de raça, um tema recorrente no Brasil, uma vez que o racismo em nossa sociedade é tão nefasto que abarca outros preconceitos sobre educação e origem social. Caso tenha também interfaces de gênero, o racismo é potencializado com os elementos do machismo.

    Mas em um país continental e tão diverso como o nosso, para falar de diversidade e inclusão, é necessário pensar em uma dimensão muito maior do que as empresas e a sociedade têm lidado com o tema nos últimos anos.

    A exclusão de raça e gênero é tão gritante que, muitas vezes, caímos na armadilha de não nos atentar a outros grupos que também são excluídos de maneira geral por motivos variados como religião, origem social ou regional e até linguística, caso carreguem algum sotaque.

    Parecem poucos, mas são indivíduos que, de certa forma, acabam excluídos de vagas de emprego, oportunidades de ascensão em uma empresa e não aparecem nos programas de diversidade e inclusão em um país com tanta disparidade entre negros e brancos, homens e mulheres e grupos historicamente excluídos como LGBTQ+ e PCDs.

    Um fato nesta semana ilustrou bem este problema, em uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial.

    É obvio que é incomparável o governo dele com o anterior, do ponto de vista de raça e gênero. Hoje, mulheres e negros se fazem presentes, inclusive mulheres negras como ministras, algo antes inimaginável no governo Bolsonaro. Ou seja, embora a quantidade ainda deixe a desejar, temos um governo infinitamente mais representativo em termos de raça e gênero, coisa que antes era quase inexistente.

    Porém, nesta reunião, foi exposto um problema: em um país de maioria cristã, com um contingente expressivo de evangélicos, o governo não consegue falar com este segmento da sociedade.

    Parece estranho, mas este dilema expõe uma realidade que pode ser crucial para quem trabalha e deve estar atento ao tema diversidade e inclusão. Será que estamos realmente falando com todos os segmentos da sociedade?

    Citei os cristãos, mas e os de religiões com pouco poder político, econômico e midiático, como é o caso das religiões de matrizes africanas? Como são tratados os seus adeptos quando vão para uma entrevista de trabalho em uma sexta-feira em que, por preceito religioso, alguns se vestem de branco? E como são tratados na entrevista ou no ambiente de trabalho? A sua empresa já pensou ou trabalha com o tema da intolerância religiosa?

    O Brasil é um país diverso no sentido mais amplo da palavra. Somente há pouco tempo se deu conta e assumiu o seu racismo e tem avançado muito em políticas de igualdade racial e de gênero. Porém, tem de estar atento a todo tipo de preconceito.

    A inclusão e o diálogo têm que ser pensados em todos os níveis, levando-se em consideração as diferenças étnicas, sociais, raciais, de gênero, religiosas, regionais e daí por diante. Só assim seremos uma nação verdadeiramente democrática e inclusiva.