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    Marido da cantora Perlla é preso em operação da PF contra pirâmide financeira que gerou prejuízo de R$ 4,1 bilhões

    Organização usava as redes sociais para captar recursos das vítimas

    Vianey Bentesda CNN , em Brasília

    A Polícia Federal (PF), com apoio da Receita Federal e da Agência Nacional de Mineração (ANM) deflagrou, nesta quarta-feira (19), operação para desarticular uma organização responsável por montar um esquema criminoso de pirâmide financeira internacional envolvendo 80 países, que gerou prejuízos de mais de R$ 4 bilhões. Foram presos preventivamente, até o momento, cinco dos seis líderes da organização, entre eles o empresário Patrick Abrahão, marido da cantora Perlla.

    A PF também cumpre 41 mandados de busca e apreensão, e mais o bloqueio de US$ 20 milhões e o sequestro de dinheiro em contas bancárias, imóveis, carros, ouro, joias, mina de esmeralda, lanchas e criptoativos em posse de pessoas físicas e jurídicas investigadas, por determinação da 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande (MS), nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Santa Catarina.

    As investigações iniciaram no ano passado, com a prisão de dois envolvidos, quando seguiam para o Paraguai, com escolta armada. Os policiais encontraram com eles esmeraldas no valor de US$ 100 mil, escondidas e sem origem, e com nota fiscal cancelada.

    Diante disso, foi descoberto um esquema de pirâmide financeira que obteve recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em mais de 80 países.

    A organização criminosa usava massivamente as redes sociais, marketing, e reuniões por diversos estados e países, centenas de “team leaders” arregimentados, além de ter estrutura e apoio de entidade religiosa que pertencia a um envolvido, buscando captar recursos e, com isso, gerir uma empresa que oferecia pacotes de investimentos/ aportes financeiros entre US$ 15 mil e US$ 100 mil, com promessa de ganhos diários altíssimos.

    Eles diziam, inclusive, que estavam legalizados na Estônia, e que seriam sócios de duas instituições financeiras, mas todas as empresas do grupo não existiam.

    Os envolvidos não tinham autorização para captação e gestão de recursos no Brasil, na Estônia ou em qualquer país, e com alertas de entidades financeiras em vários países como Espanha, Panamá e outros, da ausência de autorização e que se tratava de esquema de pirâmide financeira.

    A organização prometia lucros de 20% ao mês e 300% ao ano, por transações no mercado de criptoativos por supostos traders à serviço da empresa, e que utilizavam para multiplicar o capital investido e, mais instando os que ingressavam no negócio para captar investidores, num mecanismo que chamavam “binário”, propiciando ganhos percentuais sobre os valores investidos por novas pessoas atraídas pelo esquema.

    A ilegalidade foi se sofisticando, englobando supostos investimentos decorrentes de lucros vindos de minas de diamantes e esmeraldas que a empresa teria no Brasil e no exterior, em mercados de vinhos, de viagens, em usina de energia solar e de reciclagem. Em seguida, o grupo criminoso criou, em 2021, duas criptomoedas, sem lastro financeiro.

    Foi identificada a manipulação de mercado para valorizar uma das moedas em 5.500% em apenas 15 horas, com o pico de até 38.000%, nos dias seguintes. Isso era para manter a pirâmide financeira o maior tempo possível em atividade, já que as criptomoedas eram usadas para pagar investidores.

    Logo após a alta meteórica e especulativa feitas pelos envolvidos, as criptomoedas perderam o valor de mercado e a cotação rompeu diversas casas decimais abaixo do centavo de dólar, o que resultou em perda de liquidez.

    A organização ostentava nas redes sociais com milhões de seguidores no mundo, mostrando o sucessos pessoal e de investimentos, com demonstração de viagens para Dubai, Cancun e Europa.

    A PF aponta que o grupo criminoso movimentava o dinheiro utilizando contas bancárias de envolvidos, empresas fantasmas, de parentes, e de terceiros, e auxílio de uma entidade religiosa que teria movimentado R$ 15 milhões, que também captava investidores, para esconder e lavagem de dinheiro dos recursos obtidos.

    Um dos líderes da organização foi preso em Cuba, fazendo com que o grupo parasse os pagamentos dos valores naquele país, alegando na redes sociais, que o governo de Cuba teria impedido a empresa de ajudar o país.

    Após essa situação, a organização impôs dificuldades para realizar pagamentos aos investidores lesados, como forma de garantir seus lucros, e dar prazos maiores para o resgate, o que impedia saques dos valores aportados pelos investidores.

    Ainda segundo as investigações, os envolvidos combinavam “ataque hacker”, o que aconteceu de fato no fim de 2021, onde os líderes da organização criminosa alegaram grande prejuízo financeiro com a ação, e seguraram o dinheiro dos investidores, e propondo a suspensão de todos os pagamentos argumentando a necessidade de uma auditoria financeira.

    Alguns meses depois, o grupo comunicou a conclusão da auditoria e anunciaram uma reestruturação da empresa, mantendo o esquema e migração para uma nova rede, para que os investidores realizassem novos aportes e continuação do negócio.

    Mas o CEO da empresa ameaçava os investidores, dizendo que se procurasse ou fizesse boletim de ocorrências seria identificado, processado e não receberia o valor investido de volta.

    Os investidores faziam reclamações nas redes sociais, em sites e páginas criadas pelo grupo com intuito de recuperar o dinheiro investido. Mas os envolvidos alegavam problemas no mercado de criptomoedas, e assim que fosse resolvido, os investidos seriam pagos.

    Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro por operar sem autorização, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, usurpação de bem mineral da União Federal, execução de pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a autorização, permissão, concessão ou licença, falsidade ideológica e estelionato por meio de fraude eletrônica, com penas que podem chegar a 41 anos de prisão, sem prejuízo do perdimento dos bens e de multas ambientais e tributárias a serem apuradas.

    A operação tem esse nome em razão de alguns dos investigados serem detentores também da nacionalidade espanhola e por terem, artificiosamente, engendrado um plano para montar uma bilionária pirâmide financeira, com o seu próprio banco e a sua própria “casa da moeda”, fabricando dinheiro através de criptoativos próprios sem qualquer lastro financeiro e se apropriando de dezenas de milhões de dólares em seu benefício, impondo prejuízo em mais de 1,3 milhão de pessoas em mais de 80 países.

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