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    Manutenção da escravidão foi central para Independência, ressalta jornalista

    À CNN Rádio, Tiago Rogero, criador do projeto Querino, comentou a relação entre a elite escravagista e o movimento liderado por Dom Pedro

    Independência do Brasil completou 201 anos hoje
    Independência do Brasil completou 201 anos hoje Imagem: Shutterstock

    Ricardo Gouveiada CNN

    A Independência do Brasil, que completa 201 anos nesta quinta-feira (7), foi um processo que avançou graças a uma garantia de que a escravidão seria mantida no país. A constatação vem de Tiago Rogero, jornalista e um dos idealizadores do podcast do projeto Querino, que conta a história brasileira por uma perspectiva da população negra.

    Rogero explicou que a própria viagem que Dom Pedro fazia quando passou pelas margens do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, tinha como objetivo o encontro com proprietários de escravizados, para que fosse garantido que a exploração de pessoas cativas continuaria em vigor no Brasil independente de Portugal.

    “A manutenção da escravidão foi algo central naquele momento”, afirmou em entrevista à CNN Rádio. “E os números de importação de africanos escravizados saltam depois da Independência. A escravidão não só é mantida, como aumenta nos anos seguintes,” completa Rogero.

    O jornalista também lembra que personagens negros deste período não tiveram suas histórias enaltecidas pela maior parte dos livros. É o caso da escravizada liberta Maria Felipa de Oliveira, que fez parte da resistência contra Portugal, que se recusava a entregar os territórios na Bahia para o novo Império de Dom Pedro.

    “As tropas brasileiras eram formadas por pessoas do povo, majoritariamente pobres e negras, que guerrearam por mais de um ano. E a Maria Felipa de Oliveira foi uma dessas pessoas que guerrearam, principalmente na região da Ilha de Itaparica, onde ela cresceu e é lembrada até hoje pela população local, mas não tanto no nosso panteão de heróis nacionais”, conta.

    Tiago Rogero ainda apontou que a política de inclusão de negros e indígenas nas universidades brasileiras fortaleceu pesquisas que ressaltaram uma ótica mais completa do que a “versão que a gente aprende na escola”.

    “Essa versão majoritariamente branca, eurocêntrica e masculina, não dá conta de explicar as complexidades do Brasil, esse país em que as pessoas negras são mais da metade da população, mas, por outro lado, ocupam a base de todos os indicadores socioeconômicos. Não dá conta de explicar um país que é tão rico por um lado e, por outro, tem 30 milhões de pessoas passando fome. E a maioria entre elas é negra.”

    Veja também: ONG pede R$ 100 milhões ao Google por “simulador de escravidão”

    Com produção de Bel Campos