Mais de 1/3 das cidades de SP têm risco de colapso na saúde, diz levantamento
Na cidade de São Paulo, as medidas de isolamento têm sido relaxadas nas últimas semanas
Mais de um terço dos municípios paulistas têm alto risco de sofrer um colapso do sistema de saúde em meio à pandemia do novo coronavírus. Isso significa que essas cidades têm alto ritmo de contágio, taxa de subnotificação elevada e uma capacidade hospitalar (medida em dias para esgotar o número de leitos) limitada.
É o que aponta um levantamento do Farol Covid, iniciativa da Impulso, Instituto Arapyaú e InLoco, obtido pela CNN. Os dados foram atualizados no dia 24 de junho. O objetivo da base é auxiliar gestores públicos na tomada de decisão sobre como agir na pandemia.
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“Acreditamos que a ferramenta é um apoio importante para as gestões municipais agirem num contexto incerto e volátil e que os resultados serão colhidos pelas populações locais ao longo deste período de enfrentamento da crise”, diz Marcelo Cabral, que é gerente do programa Cidades e Territórios no instituto.
O grupo considera, para essas cidades em alto risco, que o ritmo de contágio é maior que 1,2 (um infectado pode atingir mais de uma pessoa), crescente, com subnotificação maior do que 70% (baixa testagem da população) e capacidade hospitalar ruim, abaixo de 30 dias, indicando que não há tempo de reação para evitar o colapso do sistema de saúde. Neste nível estão, por exemplo, a capital paulistana e cidades da região metropolitana.
“Não tem sido fácil para o tomador de decisão navegar os diferentes e legítimos interesses dos cidadãos, mas essa abordagem propõe uma saída justa: a prioridade é salvar vidas, sem incorrer em danos socioeconômicos desnecessários. Nem todas as cidades de um estado estão na mesma situação de pressão sobre o sistema de saúde, por exemplo, e, portanto, podem ter níveis de restrição diferentes”, diz a coordenadora de tecnologia e dados na Impulso, Ana Paula Pellegrino.
Na cidade de São Paulo, as medidas de isolamento têm sido relaxadas nas últimas semanas. A capital está atualmente na fase 2, de controle, que permite, por exemplo, abertura de atividades imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shoppings. No início de julho, a capital paulista irá para a fase 3, que permite a abertura de bares e restaurantes e salões de beleza, como foi anunciado hoje pelo governador João Doria.
As premissas do Farol Covid são diferentes das do governo, pois tentam prever o que pode acontecer nas cidades nas semanas seguintes. “O plano de São Paulo olha para dados do presente: avalia, por exemplo, a taxa atual de ocupação de leitos de UTI destinadas a pacientes com Covid-19. Nossa metodologia leva em conta o ritmo de contágio para entender por quanto tempo a capacidade instalada vai dar conta da demanda, num horizonte de até três meses”, explica Pellegrino.
A metodologia do grupo também considera tendências. Segundo os dados levantados pelas organizações, o ritmo de contágio ainda está aumentando em 320 municípios e caindo em 128 – não há dados para as outras 197 cidades. “Podemos ter menos casos essa semana quando comparado à semana anterior – o que não é o caso ainda para a outros municípios da regional da capital –, mas essa proporção está aumentando ou diminuindo? Na nossa metodologia, se a tendência for de aceleração no número de casos, por exemplo, isso será levado em conta para considerar o risco de colapso”, explica.
O levantamento aponta ainda que só 7,7% (50) das cidades têm risco médio, quando o risco de contágio é considerado bom (um infectado atinge menos de uma pessoa), mas com subnotificação insatisfatória (entre 50 e 70%), ritmo de contágio em tendência estável ou de queda e capacidade hospitalar boa (maior que 60 dias) ou insatisfatória (entre 30 e 60 dias).
Caso de cidades como Sorocaba e Vinhedo, no interior, e Ilhabela, no litoral norte do estado. Estar neste nível não significa que o município não possa piorar rapidamente a situação. Em Sorocaba, por exemplo, o comércio voltou a fechar na última semana, após a ocupação de leitos de UTI chegar perto de 100%.
“A piora em si pode ser imediata e temos visto cenas pelo país e pelo mundo. São extremamente preocupantes as aglomerações em shoppings, mercados e outros lugares fechados. O potencial desses episódios se tornarem ‘eventos super-contagiosos’– onde uma pessoa infecta simultaneamente muitas outras, aumentando o risco de um novo surto – é muito alta”, diz Pellegrino.
O levantamento não faz essas estimativas para 47,7% (310) dos municípios, pois não há registro de óbitos e, portanto, não é possível estimar os indicadores necessários para estabelecer o nível de risco. Há ainda 6,5% (42) cidades em que não há dados. De acordo com os pesquisadores, são cidades menores e no interior, e é possível que as mortes tenham sido notificadas nos municípios referências da regional de saúde e não propriamente na pequena cidade, que raramente conta com leitos de UTI.