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    Leroy Merlin deixou de marcar reunião prometida após caso de racismo em MG, dizem denunciantes

    Segundo a defesa das mulheres que fizeram a denúncia, representantes da loja disseram que marcariam reunião, mas não houve retorno

    Mathias BroteroMarcia Barrosda CNN , em São Paulo

    O advogado de defesa das duas mulheres negras que denunciam um caso de racismo em uma unidade da Leroy Merlin, em Belo Horizonte, afirma que representantes da loja entraram em contato com suas clientes e afirmaram que telefonariam para marcar uma reunião, mas não houve retorno.

    “[Eles] Desconversaram, minimizaram, falando que tudo não tinha passado de um mal entendido, talvez um defeito de software”, disse o advogado Gregório Andrade, à CNN.

    “[Afirmaram] Que queriam ter uma conversa pessoalmente, e que voltariam a falar nesta quarta-feira, mas não houve qualquer tipo de retorno.”

    Em nota enviada nesta quarta-feira (16), a Leroy Merlin afirmou que entrou em contato com uma das clientes citadas, na terça-feira (14), “para ressaltar as práticas de estorno da companhia”.

    “Na ocasião, [a equipe da empresa] combinou uma nova ligação para reforçar as informações e prestar demais esclarecimentos, contudo não obteve sucesso nas tentativas. Por essa razão, a empresa segue buscando o contato na data de hoje (16)”, diz a nota.

    “A companhia reforça que a operação de pagamento não foi concluída até o momento e que o estorno foi realizado pelo parceiro financeiro, de maneira automática, para todos os clientes que tiveram o pagamento via Pix não processado, o que reitera que a devolução do valor foi realizada no mesmo dia para a conta da consumidora”, afirma a Leroy Merlin.

    Entenda o caso

    O episódio aconteceu na segunda-feira (13), em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, em uma das lojas da rede de material de construção, onde as pedagogas Marcela Cristina Alexandre e Danielle Fernandes da Silva faziam compras.

    Segundo o advogado, Marcela realizou o pagamento por produtos comprados utilizando o serviço pix. Apesar de o valor ter sido debitado de sua conta, o sistema interno da empresa travou e não reconheceu o pagamento.

    Uma funcionária da loja teria pedido para as pedagogas irem ao Serviço de Atendimento ao Cliente, onde foram informadas que teriam de esperar por 40 minutos.

    Após meia hora, as pedagogas pediram para falar com a gerente da loja, mas foram informadas que a pessoa que ocupa o cargo não estava lá no momento.

    Depois de quase uma hora aguardando uma orientação, as clientes tiveram que deixar da loja, por causa de um compromisso que tinham.

    Segundo o advogado, as pedagogas receberam então uma orientação para deixar as mercadorias na loja. Mesmo após terem reforçado que o pagamento havia sido realizado, as duas teriam sido seguidas pela loja, até o estacionamento.

    Em um vídeo que que circula nas redes sociais, é possível ouvir uma pessoa questionar o fato de haver imagens estarem sendo gravadas do carro das clientes, mas não do aparelho celular, que tinha um comprovante da compra feita por elas.

    De acordo com a defesa das pedagogas, na tarde em que o caso aconteceu, representantes da empresa chamaram as clientes para conversar e posteriormente reembolsaram a compra de Marcela. O advogado afirmou, no entanto, que a cliente irá devolver os produtos.

    Ele reforçou que o caso não trata apenas do fato de Marcela não poder levar os itens para casa, ainda no primeiro momento. Para ele, o que aconteceu com Danielle e Marcela é um caso de racismo estrutural e institucionalizado.

    “Que ela [empresa] faça ações que visem o combate ao racismo, não mandando os seguranças embora. A gente não quer isso. A gente não quer mais um preto desempregado”, afirmou Gregório Andrade.

    “A luta é para além. A luta é para que um pai de família possa sair para comprar as coisas e não ser molestado. Há necessidade de uma política interna de reestruturação para o não racismo (…) Talvez esse tipo de racismo seja um tipo de racismo sutil. A pergunta que se faz é a seguinte é ‘eu, branco, de terno, teria esse tipo de tratamento’?”

    A Polícia Civil disse que a vítima registrou um boletim de ocorrência e que o fato segue sob análise da Delegacia Especializada de Investigação de Crimes de Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlatadas.

    Nota da empresa

    A Leroy Merlin afirmou, por meio de nota, que no momento da compra, a cliente realizou o pagamento via pix, mas por uma inconsistência sistêmica a ação não foi concluída, o que ocasionou um transtorno.

    A instabilidade foi identificada em outras lojas da rede e reportada ao parceiro responsável.

    Como prática, quando a companhia não identifica o pagamento é fornecido ao cliente o comprovante com a garantia do estorno em até 48 horas, o que foi feito com outras pessoas durante esse período da instabilidade. Contudo, a consumidora não aceitou o documento, segundo a empresa.

    Diante da negativa, os responsáveis pela Leroy Merlin foram acionados e permitiram a saída da cliente com o produto.

    A companhia diz entender que deve aprimorar as tratativas e a comunicação para elucidar os processos, que se aplicam a todos os clientes, evitando que casos como esses não se repitam.

    Ela destacou ainda que o estorno foi realizado e reitera que repudia todo e qualquer ato de discriminação.

    A empresa afirmou também que ainda está apurando sobre a suposta reunião com as clientes.

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