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    Jair Oliveira e Frei Davi esperam ‘mudanças sensatas’ após atos contra o racismo

    Após manifestações pela morte de George Floyd nos EUA, ambos defendem a educação como ferramenta de transformação para a sociedade

    O músico brasileiro Jair Oliveira, o “Jairzinho”, filho do também cantor Jair Rodrigues, falou com a CNN sobre os atos contra o racismo que acontecem em todo o mundo desde o assassinato de George Floyd em Minnesota, nos Estados Unidos. Jair espera que a mensagem dos atos seja mais duradoura e que esta reflexão entre na sociedade de maneira definitiva. “Eu torço para que isso seja o começo de uma discussão pacífica, sensata, inteligente sobre como diminuir e eliminar estas discriminações tão horrorosas que a gente tem visto. E isso teve que partir da morte violentíssima de uma pessoa que tinha seus sonhos, sua família”.

    Jair Oliveira conta que vem de uma família muito miscigenada, e, inclusive, sua avó materna é japonesa. “Eu amo tanto a minha avó japonesa, quanto a minha avó africana. Cresci com o ensinamento do amor, empatia e respeito. E não faz sentido, para mim, qualquer discriminação. Para mim, o amor está acima de tudo”.

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    Presidente da ONG Educafro, que luta para ampliar a inclusão de negros e negras nas universidades públicas, Frei Davi também participou da conversa e questionou o porquê das manifestações brasileiras contra o racismo não estarem acontecendo na mesma intensidade dos Estados Unidos. “O grande problema nosso é que o sistema político colonial, e os sistemas que prosseguiram dominando o Brasil, sempre trabalharam contra a consciência do povo negro. E aí eu uso uma frase de um grande educador mundial, que diz que todo oprimido hospeda dentro de si as vontades do seu opressor. E o opressor jogou aqui em nós a ideia de que somos um povo único, que todo mundo é igual e não há diferença. Olha o discurso do atual governo federal que diz ser contra cota. Ou seja, essa metodologia de manipular a mente do povo afro brasileiro está deixando a gente com pouca energia para fazer, como o resto do mundo, manifestos fortes e grandes. No entanto, a energia aqui no Brasil está se potencializando”, diz. 

    Ele acredita que as lutas no resto do mundo estão acelerando a consciência do povo afro brasileiro, e comenta sobre a importância do Prouni e das cotas para garantir que a população negra possa chegar à universidade. “Apesar do trabalho do Prouni e das cotas, hoje, em 2020, nós, afro brasileiros, não somos nem 20% dos alunos da universidade”. Ele fala sobre um movimento que está havendo, atualmente, em todas as universidades estaduais e federais contra as fraudes de brancos que se autodeclaram negros para conseguirem vagas de cotas raciais.

    Transformação

    Jair Oliveira defende que a transformação do cidadão em pessoas melhores deve ser trabalhado na educação primária, pela via da educação. O músico desenvolve, junto à atriz Tânia Khalill, o ‘Grandes Pequeninos’: “O nosso projeto valoriza esse respeito às diferenças e temos algumas músicas que falam sobre isso, porque é genuíno. É o que eu exercito dentro de minha casa com as minhas filhas. Eu sempre passo para elas que as diferenças estão aí e são importantes – as diferenças raciais, sexuais e religiosas – assim eu contribuo de alguma forma para que o futuro delas seja mais livre de preconceitos”. 

    Frei Davi traz o dado de que em 2019, em todos os Estados Unidos, 1.984 pessoas negras foram assassinados no país, já no Brasil, foram assassinadas 5.806. “Nosso drama de matança de policial contra negro é quase seis vezes maior”. Sobre isso, Frei sugere que os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro ofereçam um curso de formação antirracista aos policiais de seus estados. 

    Ele também enfatiza o contexto histórico segregacionista dentro das próprias igrejas católicas no Brasil. “O negro e o branco ficavam dentro da missa, nos primeiros bancos, os senhores de escravos, e atrás, em pé, os escravos. Dificilmente o sermão do padre era um sermão para dar força ao negro. Era um sermão para aumentar a contribuição financeira dos donos de fazenda para reformar e pintar a igreja”. Já nos Estados Unidos, ele conta que o povo branco, ao recusar que os negros fizessem parte de seus cultos, criaram igrejas para os negros, com pastores. “As igrejas negras evangélicas e católicas viraram fermento de formação e consciência de pertencimento a um povo (…) No Brasil, a hipocrisia domina na sociedade, na igreja, no governo, na câmara, nos tribunais, de modo que todos dizem que não há racismo. Mas cadê os bispos negros, cadê os ministros do STF negros, cadê os senadores e deputados negros? Cadê os juízes negros? A exclusão está aí gritante!”

    (Edição: André Rigue)