Infelizmente tragédia de Petrópolis pode estar apenas começando, diz especialista
Em entrevista à CNN, Pedro Cortês alertou para a alta probabilidade de que mais chuvas intensas atinjam a região no final de semana
As fortes chuvas que atingiram Petrópolis, na região serrada no Rio de Janeiro, já causaram a morte de mais de 100 pessoas e destruíram grande parte da cidade. Para o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Cortês, “infelizmente essa tragédia pode estar apenas começando”.
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (17), o especialista alertou para a previsão do aumento de chuvas na região neste final de semana. “Deveria ter uma ação forte do pode público de retirar essas pessoas para evitar que elas venham a morrer, porque novos deslizamentos poderão ocorrer em função dessas chuvas”, avaliou.
O professor considera que a tragédia de Petrópolis é até mesmo pior do que a ocorrência de um terremoto, já que na região serrana do Rio, “a situação permanece em função da ocorrência de novas chuvas e da dificuldade em remover essas pessoas que estão em situação de risco”.
De acordo com Cortês, trata-se de um “desastre anunciado”, pois “uma semana antes já se sabia que a região teria chuvas intensas”. Embora o volume exato da chuva não pudesse ser previsto, o professor afirmou que medidas emergenciais poderiam ter sido tomadas também em função de um levantamento realizado em 2017 que apontou a existência de mais de 15 mil residências em áreas de risco alto e muito alto para deslizamento de terras.
“Também não foi feita nenhuma obra que pudesse reduzir esses riscos, como desassoreamento de rios, contenção de encostas e reflorestamento. Absolutamente nada disso foi feito. É muito fácil para o poder público colocar a culpa no volume de chuvas”, disse Cortês.
Na visão do professor, outra medida que seria eficaz para prevenir o desastre é o combate à ocupação desordenada da região. “Ninguém vai morar em áreas de risco deliberadamente. Para que isso não acontecesse mais, para que as pessoas pudessem ser retiradas seria necessária uma política habitacional para que o governo oferecesse habitações dignas para essas pessoas, seja por meio da ocupação de imóveis desativados ou aluguel emergencial e construção de residências.”
Cortês explicou que a ocupação de encostas em áreas de declividade alta constitui um “altíssimo risco”. Ele avaliou que a profundidade do solo nessas regiões é baixa, o que faz com que logo abaixo exista uma face rochosa por onde o solo pode facilmente deslizar. “Esse tipo de ocupação deveria ser proibido e objeto de ação direta pelo poder público”, afirmou.
Segundo o professor, o Brasil está acostumado com medidas de “reação aos eventos”, e não de “prevenção”. “O que falta efetivamente é a prevenção, e isso envolve fiscalização, obras de contenção de encostas, reflorestamento e políticas habitacionais e sociais”, disse.
Para Cortês, o aquecimento do planeta contribuiu para a tragédia de Petrópolis, visto que as altas temperaturas colocam mais energia nos oceanos e na atmosfera, “fazendo com que os processos naturais sejam intensificados”.
“Nós ainda temos mais de um mês de verão pela frente, então infelizmente essas chuvas poderão se intensificar”, alertou.
Veja imagens do impacto das chuvas em Petrópolis
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Veículos arrastados pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Lucas Lamela
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Funcionários trabalham para retirar lama de suas lojas na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico da cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente é visto no Rio Quintadinha, na Rua Washington Luiz, no caminho do centro histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Veículo arrastado pela enchente que atingiu o município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Destruição causada pela chuva no Centro Histórico de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. • Foto: Estadão Conteúdo
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Cidade de Petrópolis (RJ) foi atingida por fortes chuvas na noite desta terça-feira (15) • ESTADÃO CONTEÚDO
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Diversas ruas da cidade foram alagadas e veículos foram arratados pela água • Gabrielle Ravasco
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Muitos locais da cidade estão cobertos de água das chuvas e lama • Gabrielle Ravasco
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A força das chuvas foi o suficiente para arrastar veículos no centro de Petrópolis • Gabrielle Ravasco
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Veículos amontoados após inundações na cidade • Gabrielle Ravasco
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Dois ônibus são arrastados em Petrópolis após as fortes chuvas • Cleber Rodrigues/CNN
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Carro submerso em rio depois de fortes chuvas em Petrópolis, RJ • Ricardo Moraes/Reuters (16.fev.2022)
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Árvores caídas e carros destruídos pelas chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Junior/FotoArena/Estadão Conteúdo
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Ministério da Saúde calcula destruição de locais de atendimento à população em Petrópolis • Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Casa e carro são destruídos pelas fortes chuvas em Petrópolis (RJ) • Carlos Elias Júnior/FotoArena/Estadão Conteúdo (17.fev.2022)
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Trabalhos das equipes de resgate em Petrópolis (RJ) • Cleber Rodrigues/CNN (17.fev.2022)
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