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    Guarulhos quer ser “cidade de fronteira”, após número de afegãos quase dobrar em um mês

    Imigrantes acampam no aeroporto enquanto centros de acolhida estão no limite

    Mathias BroteroBianca CamargoBeatriz Gabrieleda CNN , em São Paulo

    Em meio a cobertas servindo como divisórias de um acampamento improvisado e sapatos espalhados pelo chão, diferentes grupos de afegãos tentam descansar, após longas viagens em busca de segurança e de uma nova vida. É o caso de Zahra Yousofi. A enfermeira e sua família chegaram do Irã, na tarde de terça-feira (4). A primeira noite no Brasil foi no chão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

    “Esperamos nos mudar para um abrigo em breve, porque aqui não temos privacidade. E muitas pessoas estavam dormindo lado a lado ontem à noite aqui. Nós éramos cerca de 20 pessoas nesta área ontem à noite. Não temos privacidade”, conta Zahra.

    Ao menos 28 afegãos aguardam por acolhimento, no aeroporto, de acordo com a atualização mais recente do Posto Avançado de Atendimento ao Migrante, da prefeitura da cidade. O número pode mudar, à medida que novos voos chegam e vagas em centros de acolhida são abertas.

    Dados da gestão municipal apontam que desde janeiro do ano passado, 2.844 afegãos foram atendidas no posto. O pico foi em novembro de 2022, quando 416 afegãos se apresentaram ao local. Desde janeiro deste ano, o número vem aumentando. Em fevereiro, foram 186 atendimentos e no mês seguinte, o dado quase dobrou: 360 afegãos passaram pelo posto.

    Com o aumento, nem todos os imigrantes conseguem encontrar abrigo. De acordo com a Prefeitura de Guarulhos, “todas as 127 vagas de acolhimento da cidade e também as 50 do Governo do Estado na cidade estão no limite”.

    Sem ter para onde ir, não há alternativa senão ficar acampado no aeroporto. “É difícil, mas temos que tolerar, porque não temos escolha. Não podemos voltar para o nosso país”, continua Zahra.

    Muitas vezes o auxílio fica por conta de voluntários que acompanham as chegadas, como Marcela Silva, conhecida como Aisha, que leva comida e produtos de higiene pessoal aos afegãos.

    A fiscal de supermercado ajuda desde agosto do ano passado e conta que imigrantes chegam a ficar acampados durante semanas e até meses. “É uma situação precária. Não tem banho, não tem comida, não tem café da manhã adequado”, explica.

    A prefeitura afirma que garante alimentação com café da manhã, almoço e jantar, além de água, cobertores, atendimentos socioassistenciais e de saúde, mas Aisha relata que há vezes em que faltam refeições.

    “Como nós muçulmanos estamos no mês do Ramadã, que é o nosso mês sagrado, nós jejuamos o mês inteiro. Porém, quem está aqui no aeroporto não faz esse jejum. Então a prefeitura está entendendo que não precisa mandar almoço. Mas tem dia que manda almoço e tem dia que não manda janta”, expõe Aisha.

    A reportagem identificou algumas marmitas no local, na tarde desta quarta-feira (5), mas após o relato de Aisha, a CNN entrou voltou a entrar contato com o poder municipal. Até a publicação desta reportagem, não houve resposta.

    Guarulhos quer ser “cidade fronteiriça”

    Com um número cada vez maior de afegãos chegando ao aeroporto, o prefeito de Guarulhos, Gustavo Costa, o Guti (PSD), pediu ao Ministério de Portos e Aeroportos que o município da Grande São Paulo seja considerado cidade de fronteira do Brasil, mesmo que não faça divisa com nenhum outro país. A solicitação foi protocolada na pasta, no dia 23 de fevereiro.

    O pedido tem como objetivo facilitar o recebimento de recursos para o atendimento de imigrantes e refugiados na cidade, já que Guarulhos conta com o maior aeroporto da América do Sul.

    A ideia do prefeito é desenvolver junto ao Governo Federal e o estado de São Paulo uma política permanente de recepção aos refugiados.

    O Ministério de Portos e Aeroportos informou, por meio de nota, que recebeu o ofício do prefeito de Guarulhos. O comunicado afirma ainda que o pedido foi encaminhado a um grupo de trabalho do Ministério da Justiça, para dar encaminhamento à solicitação.

    Enquanto isso, imigrantes seguem em busca de assistência. De pé, em frente ao acampamento, onde estão cinco outros familiares que vieram com ela, Zahra diz que se preocupa, pois seus recursos financeiros acabaram. Ela ainda aguarda outros oito integrantes da família, que seguem no Irã. “Espero estar segura com minha família, encontrar um emprego e ter uma vida normal”.

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