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    Fuvest: mesmo com medidas de proteção, candidatos temem contágio por Covid-19

    Especialistas consideram o protocolo de biossegurança da prova razoável, mas alunos ainda se sentem inseguros

    Estudantes durante a prova do vestibular da Fuvest
    Estudantes durante a prova do vestibular da Fuvest Foto: Marcos Santos/USP Imagens

    Luana Franzão*, da CNN, em São Paulo

    Em meio ao aumento de casos da Covid-19 em todo o país, mais de 130 mil candidatos a uma vaga na USP (Universidade de São Paulo) participam da primeira etapa do vestibular 2021, realizado pela Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), neste domingo (10), na seleção mais disputada do país.

    Apesar de terem conhecimento dos protocolos de proteção contra o novo coronavírus nos locais de prova, a ideia do deslocamento e de passar cinco horas em uma sala, com várias pessoas, ainda parece arriscada para muitos desses estudantes.

    “É difícil estar 100% seguro saindo de casa e por muitas horas dividindo espaço com outras pessoas, mas acredito que os protocolos me ajudam a me sentir mais confortável com essa exposição”, afirma Lucas Faria, que presta o vestibular para o curso de medicina na USP neste ano.

    Maria Laura Bassan, que tenta uma vaga no curso de pedagogia, diz que ainda tem muitas aflições.

    “Eu não acho muito seguro fazer as provas dos vestibulares, tendo em vista a quantidade de horas que as pessoas ficarão em uma sala pouco arejada, com uma ou duas janelas e uma porta estreita. Sem contar os banheiros, em que muitas pessoas utilizarão as mesmas cabines e muitas delas não terão a higiene correta e necessária”.

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    Alguns alunos destacam que a Fuvest foi uma das organizadoras que fez menos alterações no formato neste período de pandemia.

    A estudante Clara Toscano, candidata do curso de jornalismo, lembra que universidades como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista) diminuíram a quantidade de questões na prova de 2020 e, por consequência, o tempo para fazê-la. “Outra coisa que acredito ter sido boa foi a divisão dos dias da Unicamp”, disse.

    A universidade dividiu a aplicação das provas em dois dias – 6 e 7 de janeiro – por área de conhecimento do curso desejado pelo candidato. Alunos que buscavam cursos de Ciências Humanas e Exatas prestaram o exame no dia 6. Os que tentaram cursos das Biológicas e da Saúde fizeram a avaliação no dia 7. A instituição teve que produzir duas provas diferentes para a primeira fase.

    A candidata também destaca que fez algumas seleções de universidades particulares digitalmente e achou a experiência positiva.

    O médico no Hospital das Clínicas e assessor de biossegurança da Fuvest, Matheus Torsani, afirma que essa estratégia não é viável para a Fuvest, pois a prova não transita pela internet em nenhum momento antes da divulgação dos resultados e, atualmente, a instituição acredita que não há maneira de fazer isso sem prejudicar os padrões de segurança da avaliação.

    Outro ponto no formato do vestibular da USP tem preocupado estudantes. Não haverá reaplicação das provas da Fuvest e a fundação orienta que o aluno com sintomas da Covid-19, ou que teve contato com infectados, não vá ao local de prova e aguarde o próximo ano para refazer o exame.

    “Com certeza, muitas pessoas vão negligenciar os sintomas para poder comparecer à prova, justamente por ser em um único dia e pela concorrência. Existem pessoas que precisam dessa vaga, porque se não for pela universidade pública, não têm condições de ingressar em nenhuma outra. A faculdade faz a diferença na vida das pessoas. Muitos estão dispostos a passar por isso, mesmo com medo, para tentar um futuro”, afirmou Maria Laura Bassan.

    Isabella Navarro, que presta a prova para uma vaga na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), afirma que o fato de não haver reaplicação do exame aumenta sua aflição. “Dá insegurança saber que provavelmente tem gente doente fazendo a prova”.

    O médico assessor da Fuvest afirma que essa é uma questão ética do aluno. “É uma responsabilidade ética do candidato não procurar o local de provas estando sintomático”, diz Torsani.

    Ele afirma que a decisão do formato da prova foi da Pró-Reitoria da USP, que considera prejudicial ao exame a confecção de várias versões diferentes da prova.

    “A aplicação de várias versões do exame afetaria sua qualidade, segurança e não garantiria uma seleção adequada. É uma escolha, mas é baseada no fato de que não poderíamos garantir um exame adequado e isso não seria bom nem para a universidade nem para os candidatos”.

    Aluno fazendo Fuvest
    Aluno presta prova da Fuvest em 2019
    Foto: Marcos Santos/USP Imagens

    Medidas de segurança

    Em busca de reduzir o risco de infecção pelo vírus, a Fundação Universitária para o Vestibular estabeleceu um protocolo de biossegurança para a realização do exame. Algumas das principais medidas estipuladas são:

    • Uso de máscaras durante toda a duração da prova (podendo apenas ser retirada para ingerir líquidos);
    • Fornecimento de saquinhos de papel para armazenar as máscaras usadas;
    • Limpeza prévia das carteiras e disponibilização de lenços com álcool 70% para higienização pelo próprio estudante, se assim desejar;
    • Álcool em gel disponível nas salas e nos banheiros;
    • Fiscais de prova devem usar EPI’s: face shield, máscara e luvas;
    • Afastamento das carteiras em 1,5m;
    • Janelas abertas nas salas e ares condicionados desligados;
    • Portões abertos uma hora antes do início da prova, para evitar aglomeração na entrada;
    • Consumo de alimentos apenas em um local específico indicado pelos fiscais.

    De acordo com Matheus Torsani, as medidas foram delineadas a partir de um estudo extenso da literatura médica e inspiradas nas orientações de agências regulatórias.

    “Em linhas gerais, no vestibular da Fuvest, seguimos o que nós temos de cientificamente mais preciso e mais atual e, somado a isso, recomendações de entidades como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), sobretudo, as instruções do próprio Plano São Paulo”, explica.

    Segundo especialistas, as medidas são razoáveis e, se cumpridas corretamente, devem podem proteger os envolvidos no maior vetsibular do país.

    Jamal Suleiman, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, afirma que “essas medidas oferecem um ótimo nível de segurança, visto que nas salas não haverá interação entre os alunos — como cantoria, conversas e contato físico”.

    Ele também destaca que esta é uma estratégia a ser pensada para uma eventual volta às aulas durante a pandemia.

    “Essa é uma excelente estratégia para a retomada de aulas presenciais, desde que se garanta reformulação do espaço interno das escolas e testagem em massa com correspondente rastreio e isolamento dos casos”.

    A infectologista, também do Emílio Ribas, Fabiane El Far Sztajnbok afirma que é preciso analisar como se dá o contágio da doença para compreender as decisões tomadas.

    “Em ambientes fechados, uma das principais formas de transmissão da Covid-19 é pelo perdigoto, que criamos através da fala. Quando falamos, produzimos gotículas de saliva que podem conter o vírus. Por isso, o uso da máscara e o distanciamento das carteiras evita esse tipo de contaminação. Além disso, imagina-se que, durante uma prova de vestibular, poucas pessoas conversem na sala”, explicou.

    Ela também chama a atenção para a importância de se manter a circulação de ar dentro da sala, com janelas e portas abertas.

    “Quando tossimos, espirramos, falamos alto ou cantamos, podemos criar o que se chama de aerossol, minúsculas partículas que ficam flutuando na sala e podem conter o vírus. Este aerossol não é filtrado pelas máscaras comuns, apenas pelas hospitalares, a N95. Em um ambiente arejado, essas partículas se dispersam mais facilmente e o risco de infecção diminui”.

    Em relação ao consumo de alimentos e líquidos, momentos em que as máscaras são retiradas, Sztajnbok reforça a importância do revezamento entre os candidatos para fazê-lo.

    “Retirar a máscara por um momento para beber água, por exemplo, não representa grande risco, desde que o restante da sala permaneça de máscara e distanciada.”

    Matheus Torsani, que atua diretamente na Fuvest, explica que, apesar de todas as medidas serem voltadas para evitar o contágio da doença, ainda que alguém infectado esteja no local de prova, é primordial que qualquer um que tenha sintomas da Covid-19 ou tenha tido contato com algum caso confirmado, não compareça ao local de prova.

    Fuvest
    Candidata procura seu nome na lista da prova de ingresso da USP em 2019
    Foto: Marcos Santos/USP Imagens

    Bastidores

    O assessor de biossegurança da Fuvest explica que, além das medidas anunciadas para a aplicação da prova, uma série de outras providências foram tomadas para evitar o contágio em outros processos da prova, como a distribuição e a correção, por exemplo.

    “A nossa preocupação de estabelecer um protocolo foi no antes, no durante e no depois”, disse.

    Uma parte do protocolo foi estabelecer um monitoramento de sintomas a todos os colaboradores da Fundação.

    “Todos os dias, os funcionários da FUVEST que iriam trabalhar presencialmente tinham de responder um formulário indicando se tinham sintomas ou não, e se tiveram contato com alguém com caso confirmado de Covid. Se algum mínimo sintoma fosse identificado, o funcionário era afastado, e era feita a testagem. Não houve nenhum caso de transmissão dentro da Fuvest de Covid-19”.

    A prova de ingresso da USP é composta por duas fases: uma com 90 questões de múltipla escolha e a outra com questões dissertativas de áreas específicas do conhecimento.

    Torsani destaca as providências para evitar o contágio na fase de correção dessas etapas.

    A primeira, de múltipla escolha, é corrigida por uma por uma máquina que lê os gabaritos entregues pelos alunos, portanto, poucos funcionários estão envolvidos no processo.

    Já na segunda fase, a correção é feita de forma manual por bancas de corretores, o que exigiu um replanejamento da estratégia usada anualmente.

    Todos os anos, a avaliação das provas da segunda fase da Fuvest são feitas apenas dentro do prédio da Fundação. As mudanças estão focadas em criar um ambiente seguro dentro do próprio edifício.

    “Temos um grande espaço, onde podemos respeitar o distanciamento adequado, e haverá um rodízio das bancas de correção”, explicou o assessor de biossegurança.

    Sede da Fuvest
    As provas da segunda fase são corrigidas todos os anos apenas dentro da sede da Fuvest
    Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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    Datas importantes

    A prova da primeira fase da Fuvest ocorre neste domingo (10), a partir das 13h. Os portões estarão abertos desde o meio-dia, e a Fundação recomenda que o candidato chegue cedo e se encaminhe diretamente para a sala onde fará o exame, para evitar aglomerações nas portas e calçadas dos locais de prova.

    A lista de classificados para a segunda fase será divulgada no dia 1º de fevereiro, e as provas desta etapa estão marcadas para os dias 21 e 22 de fevereiro. O resultado dos convocados para a matrícula será revelado em 19 de março.

    Na Fuvest 2021, são disputadas 8.242 vagas para cursos da Universidade de São Paulo. Outras 2.905, pelo SISU (Sistema de Seleção Unificada), decididas a partir da nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

    (*Supervisão de Sinara Peixoto)