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    Fogo já impactou 85% das espécies que vivem na Amazônia, diz estudo

    Segundo o Inpe, a Amazônia já registrou 41.136 focos de incêndio em 2021; apenas nos primeiros quatro dias de setembro, foram 1.709 focos

    Giovanna Bronzeda CNN , em São Paulo

    O Dia da Amazônia foi celebrado neste domingo (5). A data, instaurada pela lei 11.621 em dezembro de 2007, foi criada para conscientizar sobre a importância do bioma e da floresta amazônica, que abriga uma das maiores biodiversidades do país.

    No entanto, o desmatamento e queimadas continuam pela região e, segundo estudo, cerca de 85% das espécies que vivem na Amazônia já foram afetadas. De acordo com dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia já registrou 41.136 focos de incêndio em 2021.

    Apenas nos primeiros quatro dias de setembro, foram 1.709. Em agosto, foram 28.060 – 7% mais do que a média mensal de 26.223 pontos de queimadas.

    Já segundo o MapBiomas, cerca de 16,4% da área total da Amazônia – que corresponde a mais de 690 mil km² – foi queimada entre 1985 e 2020.

    E o fogo atinge mais do que apenas a vegetação da região. Segundo estudo “Como desregulamentação, seca e aumento do fogo impactam a biodiversidade amazônica”, publicado na revista Nature na última quarta-feira (1º), 85,2% das espécies da Amazônia já foram impactadas pelo fogo.

    De acordo com o estudo, o bioma, que abriga 10% da biodiversidade do planeta, os incêndios afetaram o habitat natural de mais de 85% de espécies de plantas e animais em risco de extinção.

    O estudo foi feito com estimativas de sensoriamento remoto de fogo e desmatamento, que foram então cruzados com os dados de estimativas de alcance abrangente de 11.514 espécies de plantas e 3.079 espécies de vertebrados que habitam a Amazônia.

    “O desmatamento tem causado grande perda de habitat e os incêndios agravam ainda mais esse impacto já substancial na biodiversidade amazônica”, escreveram os pesquisadores.

    “Desde 2001, de 103.079 a 189.755 km2 da floresta amazônica foram atingidos por incêndios, potencialmente impactando cerca de 77,3 e 85,2% das espécies listadas como ameaçadas nesta região. Os impactos do fogo nas áreas de distribuição de espécies na Amazônia podem chegar a 64%, e consequências maiores são tipicamente associadas a espécies que possuem áreas de distribuição restritas”.

    Ou seja, as queimadas, além de reduzirem os animais que vivem no ambiente, também afetam o meio ambiente, reduzindo a área habitável e criando um novo ecossistema, que poderá não ser benéfico para todos. Dessa forma, animais podem migrar ou, caso não seja possível, chegar à extinção.

    Árvores em chamas na Amazônia
    Tronco de árvore em chamas na Amazônia: pressão de estrangeiros contra desmatamento / Foto: Ueslei Marcelino – 23.ago.2019/ Reuters

    Espécies em risco

    Das espécies apontadas como em risco na Amazônia pela União Internacional pela Conservação da Natureza (International Union for Conservation of Nature), 236 das 264 espécies de plantas que estão na região foram atingidas pelas queimadas.

    Também foram impactadas 83 das 85 espécies de pássaros, 53 das 55 espécies de mamíferos, 5 das 9 espécies de répteis e 95 das 107 espécies de anfíbios. Dentre os animais atingidos, estão, por exemplo, o macaco-aranha-da-cara-branca, o pássaro ficheiro e a anta.

    Em entrevista à CNN Brasil, o pesquisador Paulo Brando, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), falou sobre como os incêndios afetam os animais.

    “Quando o fogo ocorre nessas áreas grandes da Amazônia, tem o potencial de causar mudanças no ambiente. Por exemplo, às vezes um réptil não consegue mais sobreviver naquela condição climática, ele deixa o ambiente e acaba causando um ‘desbalanço’ em todos os animais que coexistem ali. Algumas espécies podem se dar melhor e dominar aquele espaço enquanto outras quase desapareceram nesse tempo.”

    Caso o fogo continue a atingir a região cada vez mais a cada ano, é possível que a fauna e a flora da Amazônia tenham perdas inestimáveis. Para isso, é necessário pensar em meios de preservar o meio ambiente e, por consequência, aqueles que ali habitam.

    Para reverter a situação, segundo o pesquisador, é preciso “reduzir a pressão de caça dos animais, pois assim possibilita que as florestas se regenerem mais rapidamente”.

    E o próprio ecossistema já atua para isso: pássaros e mamíferos levam sementes que ajudam no reflorestamento. A anta, por exemplo, consegue carregar cerca de 10% do necessário para uma área degradada pelo fogo.

    Segundo Brando, um meio de garantir a proteção é com áreas demarcadas: “Na Amazônia, o principal meio de proteger a biodiversidade é através de áreas protegidas e terras indígenas que são extremamente eficientes em barrar o desmatamento”.

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