Fiocruz iniciará até fevereiro ações de combate à Covid-19 nas favelas do Rio
Atividade será o lançamento de um edital público de R$ 17 mi para contemplar projetos que tenham o compromisso de reduzir os efeitos da pandemia
Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) implementará a primeira ação do programa de combate à Covid-19 em favelas do estado. A atividade será o lançamento de um edital público de R$ 17 milhões para contemplar até 140 projetos que tenham o compromisso de reduzir os efeitos da pandemia de Covid-19 nas comunidades de todo o estado por até três anos. A fundação coordena a iniciativa, que reúne instituições científicas diversas, como universidades e laboratórios, além de sindicatos e lideranças comunitárias.
A ação faz parte do “Plano de Trabalho Estratégia Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro”. Os projetos precisarão estar dentro de sete áreas: apoio social, comunicação e informação, saúde mental, ações que favoreçam a observância das medidas preconizadas pelas autoridades sanitárias, apoio à testagem, educação e promoção de território saudável e sustentável.
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Coordenador executivo do plano da Fiocruz, o professor Richarlls Martins, do Núcleo de Estudos e Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH/UFRJ), explica que as ações terão impacto em cerca de 700 mil domicílios, onde vivem 17% da população do estado. Isso equivale a 2,9 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE.
“O objetivo é mitigar os efeitos econômicos, sanitários e sociais da pandemia nas comunidades. No indicador de impacto social e comportamental, o projeto pode auxiliar numa mudança de paradigma, produzindo novos modelos de intervenção na saúde pública, que podem ser utilizados em epidemias e endemias, como dengue e Chikungunya. O projeto tem o potencial de produzir mudança no que tange à mobilização social e capacidade de produzir criar novas respostas públicas para pensar políticas para esses segmentos”, entende o pesquisador.
Acesso às informações de contágio em comunidades é difícil
A Fiocruz recebeu no fim de dezembro uma doação de R$ 20 milhões da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para o programa. Embora o estado tenha 439.345 casos confirmados de Covid-19, e 25.617 mortes, de acordo com o último Boletim Coronavírus divulgado pelo governo do estado. Mas há dificuldade para se obter dados oficiais da incidência da doença nas comunidades.
Os painéis e boletins municipais, que alimentam o estadual, restringem as ocorrências por bairro ou distrito, o que dificulta o acesso às informações exatas. Por isso, uma rede de líderes comunitários e laboratórios de dados criou o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. Eles juntam dados oficiais e os complementam com uma rede de voluntários, que mapeia os diagnósticos em comunidades dos 92 municípios. Até o momento, o serviço aponta para 28.110 casos confirmados e 3.035 mortes.
Diretora executiva da rede de Comunidades Catalisadoras (ComCat), responsável pelo painel, Theresa Williamson explica que o serviço, tocado exclusivamente por voluntários, foi lançado em julho, diante da ausência de informações oficiais sobre a pandemia nas comunidades. A atualização acontece a cada uma ou duas semanas, mas o aumento de localidades contempladas torna a atividade mais lenta e trabalhosa.
“Víamos mortes ocorrendo diariamente em comunidades, mas isso não aparecia nos jornais. Depois, surgiram painéis locais, importantes, mas restritos às próprias comunidades. Geralmente, locais maiores e com a sociedade civil mais estruturada. Criamos então um painel unificado, com os mesmos critérios e metodologia, para divulgar os dados e embasar decisões. São áreas mais vulneráveis, as pessoas não têm a opção de ficar em casa”, analisa.
De acordo com o painel, o Complexo da Maré lidera o ranking de casos confirmados. Em suas 18 comunidades, há o registro de 2449 diagnósticos e 158 mortes.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde disse que aderiu ao painel do governo do estado para divulgação de informações sobre a pandemia do coronavírus na capital, e justificou, por meio de nota: “a ação tem o objetivo de alinhar todos os dados, usando mesma metodologia e fontes de dados, além de dar maior transparência às informações”.