Famoso padre de Goiás é suspenso por investigação do Ministério Público
Segundo os investigadores, a associação fundada pelo padre teria movimentado o equivalente a R$ 1,7 bilhão e usado doações para compra e venda de imóveis
O Ministério Público de Goiás investiga uma suposta organização criminosa que teria beneficiado um dos padres mais populares do Brasil, o líder católico Robson de Oliveira Pereira.
Segundo os investigadores, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), fundada pelo padre, teria movimentado o equivalente a R$ 1,7 bilhão e usado doações dos fiéis para a compra e venda de imóveis, como fazendas, apartamentos e casas de luxo, como uma adquirida na praia de Guarajuba, no município de Camaçari, na Bahia, avaliada em R$ 2 milhões.
Entre os possíveis crimes cometidos pelo padre e por dirigentes ligados a Afipe estão apropriação indébita, lavagem de capitais, sonegação fiscal, falsidade ideológica e organização criminosa.
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Até a última sexta-feira (21), dia em que foi deflagrada a operação do MP-GO que cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em imóveis ligados ao padre, ele presidia a Afipe, entidade responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, cidade na Região Metropolitana de Goiânia.
Um dia depois da operação, ele divulgou em suas redes sociais um vídeo onde nega as irregularidades e diz que preferiu se afastar temporariamente da presidência da Afipe para colaborar com as apurações do Ministério Público.
O padre começou a ter seu nome envolvido em escândalos há três anos. De acordo com os promotores, ele determinou o pagamento de mais de R$ 3 milhões para um grupo não revelar informações pessoais e amorosas.
Segundo a polícia, as mensagens usadas para a tentativa de extorsão não eram verdadeiras, mas a denúncia deu origem às investigações do Ministério Público de Goiás contra o padre e a associação.
Na operação, batizada de vendilhões, um dos alvos do MP foi a nova Basílica de Trindade. O local passou a ter a obras comandadas pela Afipe em 2012. O projeto da nova Basílica é grandioso e prevê até o maior sino do mundo tinha previsão de conclusão das obras em 2022. Mas recentemente a previsão foi revista e a obra só deve ficar pronta em 2026.
Segundo as investigações, a entidade movimentou mais de R$ 1,7 bilhão desde o início da construção.
“É um volume que pressupõe algum tipo de irregularidade ou ilegalidade porque mesmo se o Brasil todo resolvesse ser bondoso e caridoso com a construção dessa nova Basílica e fizesse as doações, dificilmente chegaria aos bilhões que estão sendo investigados”, disse o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda.
As doações para a associação veem de milhares de fiéis devotos do pai eterno. De acordo com o MP, a entidade arrecada cerca de R$ 20 milhões. O advogado do padre Robson, Pedro Paulo de Medeiros, explicou como Afipe investe os valores recebidos.
“O dinheiro arrecadado também pode ser objeto de negociações para gerar mais ativos, mais lucros, para se fazer mais evangelização. E nisso se compra imóveis, rádios, TVs e constrói-se a Basílica, tudo com o dinheiro que é a única fonte de renda da Afipe, que são as doações de fiéis.
Segundo a arquidiocese de Goiânia, a igreja católica foi “surpreendida” com a ação do poder judiciário e do MP. A arquidiocese disse que não houve desvios nem o uso de laranjas, e afirmou que está à disposição dos investigadores.