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    Exposição em SP mostra pioneiros da tradução simultânea em julgamento de Nuremberg

    Tribunal que condenou nazistas ao final da 2ª Guerra marcou a estreia da interpretação simultânea

    Julgamento de Nuremberg
    Julgamento de Nuremberg College Park, MD/USA/Divulgação AIIC/APIC

    Denise Bobadilhacolaboração para a CNN

    A cena virou uma das mais icônicas da Segunda Guerra Mundial: criminosos nazistas usando fones de ouvido num tribunal, impassíveis diante dos testemunhos das atrocidades do regime do qual faziam parte.

    O Julgamento de Nuremberg, na Alemanha, no final do conflito, foi um marco da busca por justiça e da confirmação de um sistema de direito internacional envolvendo vários países. Foi, também, a primeira vez em que o mundo pôde conhecer a interpretação simultânea.

    Naquele ambiente carregado de fortes emoções, intérpretes que criavam na prática parâmetros para uma nova profissão.

    Uma exposição inédita nas Américas retrata a história desses pioneiros e o trabalho deles durante 218 dias, logo após o final da guerra, entre novembro de 1945 e outubro de 1946. Em cartaz em São Paulo até 10 de abril, a exposição “1 Julgamento, 4 Línguas: Os Pioneiros da Interpretação Simultânea em Nuremberg” tem como cenário uma locação nem sempre acessível ao público: o cinematográfico Salão dos Suspiros do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, na Praça da Sé.

    Depois de São Paulo, a exposição, gratuita, segue para o Rio de Janeiro.

    Em Nuremberg, cidade alemã que sediou o partido nazista entre 1933 e 1939, 22 alemães foram julgados pelos crimes cometidos na guerra. Entre eles estavam o militar Hermann Göring, presidente do Reichstag, e o ministro das Relações Exteriores de Hitler, Joachim von Ribbentrop.

    Levá-los a julgamento envolveu semanas de negociações entre os quatro países vencedores da guerra – EUA, URSS, França e Reino Unido. Alguns defendiam que eles fossem executados. Outros achavam que expor seus crimes e dar-lhes o direito à defesa evitaria atrocidades iguais no futuro. E foi o que aconteceu.

    Só que a tarefa era quase impossível. A Alemanha estava arrasada pela guerra, e os aliados precisavam trabalhar também pela reconstrução de seus países. Milhões de refugiados da guerra cruzavam o continente em diferentes direções, abatidos por fome, luto e doenças, pressionando os governos de cada país para soluções rápidas para inúmeras crises e pelo fim do tema guerra por um tempo.

    E nesse contexto era preciso reunir forças e pessoal especializado para o julgamento – juízes, promotores, advogados, tradutores (para as dezenas de milhares de documentos apreendidos) e secretárias.

    Então, um novo problema se interpôs: como fazer com que todos entendessem os réus alemães, as testemunhas de diferentes nacionalidades e os juízes, promotores e advogados que falariam em inglês, francês, alemão ou russo? Os tradutores dariam conta da tradução escrita – mas, e as falas? Quem poderia traduzi-las ao vivo?

    Se fosse feito do método então tradicional, de forma consecutiva – a pessoa fala um trecho, fica em silêncio, o intérprete fala, e assim por diante -, o julgamento poderia levar anos. Foi então que o coronel franco-americano Léon Dostert, intérprete pessoal do então general (e futuro presidente) Dwight D. Eisenhower, lembrou-se de um sistema criado anos antes usando fones e cabos. A mobilização foi imediata.

    Julgamento de Nuremberg / College Park, MD/USA/Divulgação AIIC/APIC

    Em poucas semanas, o equipamento chegou a Nuremberg e cabines foram montadas para que fosse possível fazer a tradução das falas simultaneamente. Ninguém sabia ao certo como iria funcionar (“Ouvir e falar em outra língua ao mesmo tempo, sem pausa? Impossível”, diziam alguns). Mas era a única solução.

    Foi então que, no Julgamento de Nuremberg, viu-se pela primeira vez um serviço de interpretação com um método de revezamento de equipes, usando cabines com isolamento acústico e trabalho organizado por combinações linguísticas – o que depois seria um padrão profissional usado até hoje.

    Eram quatro idiomas em cada cabine. Assim, quando um alemão falava, os participantes podiam ouvir a tradução em russo, francês ou inglês. Quando era a vez de um promotor inglês falar, por exemplo, os acusados alemães podiam ouvir tudo simultaneamente no seu idioma, assim como a bancada jurídica russa.

    Hoje, parece corriqueiro: a interpretação faz parte de transmissões na televisão, eventos corporativos, reuniões, cerimônias de premiação, cúpulas de países, etc. Mas foi ali, em Nuremberg, que tudo começou oficialmente, com a tradução de depoimentos, oitivas, peças de acusação e defesa e leituras de sentença.

    Em tempo: 12 dos julgados foram condenados à morte por enforcamento; três à prisão perpétua.

    Julgamento de Nuremberg / College Park, MD/USA/Divulgação AIIC/APIC

    Na exposição em São Paulo, a história desses pioneiros é contada em painéis e será discutida em mesas-redondas e palestras. O evento chega ao Brasil por meio da AIIC (Associação Internacional de Intérpretes de Conferência), que celebra 70 anos em 2023 e é organizadora da exposição original, e da APIC (Associação Profissional de Intérpretes de Conferência), que completou 50 anos em 2021.

    A exposição “1 Julgamento, 4 Línguas: Os Pioneiros da Interpretação Simultânea em Nuremberg” pode ser visitada de segunda a sexta-feira das 13h às 17h, na Praça da Sé, s/nº, 2º andar, no Salão dos Passos Perdidos