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    Evento sobre cannabis debate justiça social, sustentabilidade e geração de renda

    Mais de 40 palestrantes participam das mesas de discussão sobre o tema na quarta edição do Cannabis Thinking Legado, organizado pelo Green Hub

    Talita Amaralda CNN , São Paulo

    A quarta edição do evento Cannabis Thinking Legado, organizado pelo Green Hub, reuniu mais de 40 palestrantes de quinta-feira (15) a domingo (17) para discutir o apoio da indústria da cannabis legal às grandes mudanças sociais e ambientais propostas pela Agenda 2030, o plano de ação global das Organizações das Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento sustentável.  

    Durante a abertura, o evento contou com a presença de Pedro Abramovay, advogado e ex-secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça e ex-ministro interino da pasta. Ele participou de uma mesa de discussão mediada pela apresentadora e gerente de conteúdo da CNN, Letícia Vidica. Durante a conversa, eles falaram sobre a importância do combate as injustiças sociais que ocorrem no Brasil, em função do mercado ilegal da cannabis. 

    De acordo com ele, a política da guerra às drogas precisa ser combatida porque faz parte de um sistema que privilegia os brancos e criminaliza e pune a população negra e pobre. “Os próprios juízes falam que o critério para prender uma pessoa com pequena quantidade de maconha é o endereço dela. Dependendo de onde ela mora, se for na periferia, por exemplo, é configurado como tráfico. Isso é inconstitucional”, enfatizou Abramovay. 

    Para o especialista, a guerra às drogas autoriza a polícia a matar, por isso é importante que o Poder Judiciário garanta o que é crime e o que não é. Não cabe ao legislador julgar isso, em sua avaliação. “Por isso é necessário reconhecer esse problema e denunciar”, afirma. 

    Sobre o potencial econômico e de inovação da cannabis, o advogado explica que o mercado já existe. “A gente quer que essa riqueza faça parte da economia legal, para gerar renda e inovação. Temos uma economia da cannabis criativa e sustentável, uma indústria de alimentos de ponta com oportunidade de transformar essa ilegalidade em geração de renda e oportunidades.” 

    Abramovay enfatiza que o Brasil tem oportunidade de criar esse setor do zero e corrigir essa desigualdade social de forma sustentável. Por isso, diz, é tão importante ter a regulação desses produtos. 

    Ele afirma ver a cannabis medicinal como um caminho importante para tirar o estigma sobre o tema. “Nos Estados Unidos, a regulação dos medicamentos produzidos à base de cannabis foi a porta para que mais pessoas aceitassem o uso industrial e sustentável”, disse. 

    Para a presidente do Instituto Humanitas360, Patrícia Vilela, que abriu o evento na manhã de sexta (16), “ter um evento como esse na sua quarta edição mostra a solidez da proposta, o interesse da população cada vez maior em entender, se informar, se educar, sair do preconceito, sair da zona de conforto dos ricos privilegiados que podem ir e comprar em prol daqueles que não podem”.

    “Demonstra o nosso exercício democrático e a valorização do encontro e do reencontro”, afirmou. 

    Em relação à posição do Brasil no cenário mundial, Patrícia afirma que “infelizmente nós somos a vanguarda do atraso”.

    “Mas não estamos contentes com esse lugar. Isso que é importante. Estamos contentes em discutir isso tudo. O fato de termos demorado tanto para ter uma lei, pode ter servido como aprendizado com essa demora. Estamos resilientes, resistentes ao ‘cala-boca’ que vem em cima de todos nós, resistentes a sermos chamados de maconheiros de uma maneira pejorativa e dizendo aos nossos candidatos que nós precisamos dessas pautas. Isso é um exercício de cidadania”, disse. 

    A presidente do Instituto Humanitas360, Patrícia Vilela, que abriu o evento na manhã desta sexta (16/09). / Arquivo Cannabis Thinking

    Geração de renda

    O ministro da Pecuária e Agricultura do Paraguai, Santiago Bertoni, participou da primeira mesa de debates da sexta e falou sobre o programa de agricultura familiar que tem ajudado a acabar com a ilegalidade da produção de cannabis no país.  

    Ele explicou que a iniciativa integra a produção industrial com um projeto de agricultura familiar com famílias em situação de extrema pobreza e comunidades indígenas.

    “O programa gerou um grande impacto econômico social para estas comunidades que viviam na pobreza e na ilegalidade. O Paraguai tem 1 milhão e meio de pessoas vivendo em extrema pobreza e essa comunidade que vivia na ilegalidade, muitos acabavam sendo presos ou retirados de suas propriedades. Hoje em dia eles fazem o plantio e o cultivo da cannabis com toda a família para que o produto seja exportado para a indústria internacional”, disse. 

    Desta forma, o ministro explicou que país conseguiu acabar com a criminalidade e transformar um negócio ilegal em impacto sustentável.

    “No Brasil não seria muito diferente porque é uma potência agrícola como o Paraguai. Esse programa pode facilmente ser replicado aqui, gerando matéria-prima para suplementos, alimentos e cosméticos”, afirmou. 

    Bertoni acrescentou que atualmente o Paraguai tem 200 produtos de diferentes categorias regularizados, com todos os registros e 16 certificações internacionais. “Estamos à disposição para ajudar e contribuir como que for preciso para a Anvisa com o fim de acabar com toda essa ilegalidade.” 

    Reparação histórica

    A segunda mesa da sexta contou com a presença do cantor Marcelo D2, que disse estar emocionado de ver tantas pessoas importantes e com responsabilidades lutando pela causa. “Em 1995, eu estive em Amsterdam e percebi o quanto o Brasil estava atrasado nesse tema. Fui um jovem que sentiu na pele as dores da ilegalidade e quando resolvi montar uma banda para cantar sobre esse assunto eu não sabia onde estava me metendo”, afirmou. 

    Ele disse acreditar que o debate é importante, principalmente, para o jovem de periferia e da favela que ainda sofre muito com isso. “Pessoas são presas na comunidade por estar com 3 gramas de maconha, e eu espero que esse evento cresça e a gente consiga trazer mais setores da sociedade para debater e se comprometer com essa mudança”, disse. 

    Para Gabriella Arima, diretora da Rede Jurídica pela Reforma da Política das Drogas, o conhecimento e a educação podem libertar as pessoas. “Na discussão sobre as drogas há muita desinformação e precisamos combater esse preconceito. Atualmente, nas escolas, é um terrorismo, sem explicar exatamente quais são os benefícios da cannabis”, afirmou. 

    Ela enfatiza que a reparação histórica precisa ser o centro da discussão sobre a cannabis. “Não adianta fazer um mercado de cannabis para brancos e ricos. Precisamos incluir essas pessoas que já estão no mercado.” 

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