Estudante picado por naja, familiares e mais nove são indiciados no DF
A investigação concluiu que os indiciados participavam de um grande esquema de tráfico de animais exóticos
Picado por uma cobra naja criada ilegalmente, o estudante de medicina veterinário Pedro Henrique Krambeck Lehmkuhl, de 22 anos, foi indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal, que concluiu o inquérito sobre o caso nesta quinta-feira (13).
Além dele, a mãe, o padrasto e outras nove pessoas, incluindo seis amigos e uma professora, foram indiciadas. A investigação concluiu que eles participavam de um grande esquema de tráfico de animais exóticos no Distrito Federal.
Krambeck vai responder 23 vezes pelos crimes de tráfico, associação criminosa e maus-tratos – as ações correspondem a cada cobra criada ilegalmente encontrada com ele. Ainda segundo a Polícia Civil, ele praticava os crimes desde 2017 e vendia os filhotes das cobras por cerca de R$ 500 em dinheiro vivo.
O universitário também responderá por exercício ilegal da medicina veterinária, já que chegou a fazer uma cirurgia em um dos animais em um dos estabelecimentos comerciais da família dele.
Por enquanto, todos respondem em liberdade. Krambeck chegou a ser preso temporariamente durante a quarta fase da Operação Snake, que investiga um esquema voltado à prática de crimes ambientais. Ele foi solto dias depois após ser beneficiado por um habeas corpus.
A decisão de soltar Krambeck aconteceu após pedido do advogado do estudante, que alegou que o jovem estava colaborando com as investigações, argumento que a Justiça aceitou.
Gabriel Ribeiro de Moura, de 24 anos, amigo do estudante, também foi preso e teve a prisão revogada pela Justiça. Solto na madrugada de 31 de julho, ele está entre os indiciados nesta quinta.
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As investigações apontam que o estudante estaria envolvido em uma “associação criminosa responsável, entre outras condutas criminosas, pela destruição das provas relacionadas aos crimes ambientais apurados pela Autoridade Policial”.
Recentemente, a Operação Snake levou ao afastamento de uma servidora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A polícia suspeita que ela facilitou a emissão de licenças de captura, coleta e transporte de animais.
O estudante foi multado por maus-tratos e por manter serpentes exóticas em cativeiro. A mãe e o pai dele também foram multados, em R$ 8,5 mil cada, assim como Gabriel Ribeiro.
Após ser picado pelo réptil criado de forma clandestina, o estudante chegou a entrar em coma depois da picada venenosa do animal. Ele se recuperou após a doação soro enviado pelo Instituto Butantan, de São Paulo.
Outro lado
O advogado Bruno Rodrigues, que representa o estudante, seu padrasto e sua mãe, disse que considera o indiciamento exagerado. “A defesa considera o indiciamento exagerado, incompatível com os fatos apurados, multiplica ilegalmente as acusações e envolve pessoas absolutamente inocentes”, disse.
“A defesa de Gabriel Ribeiro informa que o indiciamento não deixa dúvidas de que Gabriel nunca traficou, criou ou reproduziu serpentes. Por outro lado, a conclusão do delegado é imprecisa quanto a participação de Gabriel nos supostos crimes de maus tratos, posse ilegal, bem como na fraude processual e corrupção de menores. Os próximos passos serão decididos apenas após acesso oficial ao relatório final do inquérito”, afirmou a advogada Juliana Malafaia.
Naja transferida
Nessa quarta-feira (12), a cobra naja foi transferida de Brasília para São Paulo, onde ficará no Instituto Butantan. No mesmo transporte irão também cinco corn snakes e uma víbora.
A mudança acontece porque a cobra não é nativa do Cerrado e, de acordo com a legislação do Ibama, espécies venenosas têm que ficar onde há soro contra a picada delas, e o Zoológico de Brasília teria dificuldades em realizar uma produção do antídoto.
“Temos o antídoto aqui no Distrito Federal, a Secretaria de Saúde tem esse soro pra naja à nossa disposição. Mas estamos fazendo este manejo devido à falta de fabricação em território nacional. E isso dificulta ao Zoológico de Brasília como instituição pública para fazer parcerias para realizar aquisição de [mais] soro”, explicou Carlos Eduardo Nóbrega, diretor de répteis do zoológico.
(Edição: Leonardo Lellis)