Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Especialistas apontam que recesso de 10 dias do Rio pode não ser suficiente

    Para estudiosos, medidas precisam de pelo menos duas semanas para análise de efetividade

    Entre as restrições para conter o avanço do coronavírus no estado, está o fechamento das praias
    Entre as restrições para conter o avanço do coronavírus no estado, está o fechamento das praias Foto: MICHEL FILHO/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

    Stéfano Salles e Ana Lícia Soares, da CNN no Rio de Janeiro

    O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), analisa nesta quinta-feira, em uma reunião à tarde, uma eventual prorrogação do recesso sanitário iniciado no município em 26 de março, com duração prevista até quatro de abril (Domingo de Páscoa). Especialistas ouvidos pela reportagem concordam que a adoção da medida foi importante para conter o avanço do coronavírus, mas entendem que o prazo de dez dias não é suficiente para quebrar o ciclo de circulação do patógeno. 

    Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alberto Chebabo entende que seria necessário um período maior, de pelo menos duas semanas, para que a medida seja efetiva e torne possível avaliar mais etapas.

    “O ideal é expandir mais, para ter uma avaliação melhor. Em dez dias você já conseguiria medir se houve algum impacto, pode ter alguma redução de atendimentos, um indicador muito sensível. Morte é um indicador muito ruim, porque leva tempo para análise. É um ciclo, leva tempo entre ficar doente, agravar, internar e morrer. Então, 14 dias é uma medida padrão para um ciclo”, explica o infectologista, membro do comitê científico do município. 

    Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta entende que o tempo ideal deveria ser até maior, e destaca que as características da cidade forçam a formação de aglomerações. 

    “Precisamos de 14 a 21 dias para quebrar o ciclo de ação do vírus. Isso significa que as pessoas precisam ficar em casa, porque o vírus muda diariamente. Por isso é necessário evitar interações enquanto não tivermos 80% das pessoas vacinadas. E o Rio está comprimido entre a orla e as montanhas. A população se concentra em uma faixa estreita, muito adensada, entre essas duas áreas. Além da elevada densidade demográfica das favelas”, avalia. 

    Professor da Faculdade de Estatística da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói e pós-doutor em Epidemiologia, Márcio Watanabe conduziu uma pesquisa na qual prevê, por modelos matemático-estatísticos, que o número de mortos por Covid-19 pode chegar a cinco mil por dia ainda em abril. Ele vê com preocupação o fato de a capital retomar as atividades não essenciais já na segunda-feira (5), como prevê o decreto.

    “A flexibilização tem que levar em conta como as medidas foram tomadas. Geralmente a gente leva duas semanas para medir o efeito de alguma medida. Daqui a duas semanas a gente sabe, por exemplo, os resultados de medidas adotadas hoje.  O temerário é que eles tomarem a decisão sem saber se houve ou não uma efetividade na medida”, analisa o pesquisador.

    Nesta quinta-feira, durante a inauguração de um posto de vacinação no Museu do Amanhã, no Centro, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que o município ainda analisa os dados, e que o prefeito deve se pronunciar sobre o assunto na sexta-feira, durante a apresentação do novo Boletim Epidemiológico semanal.