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    Especialistas apontam falhas de engenharia que causaram desmoronamento de obra em SP

    Acidente causou o desmoronamento de um pedaço da Marginal Tietê, uma das principais vias da capital paulista

    Juliana AlvesLayane SerranoVinícius TadeuTiago Tortellada CNN* , em São Paulo

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    Na manhã desta terça-feira (1º), um acidente em uma obra do metrô de São Paulo fez com que um pedaço da Marginal Tietê, uma das principais vias da capital paulista, desmoronasse abrindo uma cratera. O Corpo de Bombeiros informou que não há registro de vítimas.

    A concessionária Acciona, que constrói a linha 6-Laranja do metrô, afirmou que o acidente ocorreu por um “rompimento de uma coletora de esgoto”. O desmoronamento vem sendo analisado por especialistas que, em entrevista à CNN nesta segunda, apontaram as principais falhas de engenharia que causaram a cratera.

    De acordo com o engenheiro Vinicius Marchese, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), o desabamento “provavelmente foi movido pelo acúmulo de chuvas nos últimos dias”. O engenheiro avaliou que o desabamento ocorreu por conta da ruptura de uma adutora de esgoto.

    “É preciso de uma perícia para avaliar o solo e se nenhuma estrutura foi danificada e a partir dessa perícia montar o planejamento e recuperação da área”, considerou Marcehse.

    O especialista em gerenciamento de riscos Gerardo Portela também reforçou a importância de uma análise técnica no local do acidente para descobrir as causas exatas do acidente e apontar os responsáveis pelo desmoronamento. “O que se deve fazer agora é apurar que erros aconteceram, como aconteceram e quem deveria ter fiscalizado mas não fiscalizou”, disse.


    Na opinião de Portela, o desmoronamento é resultado de um erro de execução e de engenharia. O especialista considerou que “houve uma falha desde o projeto, planejamento, execução e conferência do dia a dia para chegar nesse ponto”.

    Prazo para reparo

    Já Marchese avalia que o rompimento da adutora do esgoto causou uma erosão que “trouxe para baixo toda essa estrutura de asfalto que estava em torno da obra”. O presidente do Crea considerou fundamental realizar uma análise técnica do laudo dos solos para avaliar o impacto nas estruturas para se ter ideia do tempo que será necessário para a reconstrução.

    Enquanto isso, Portela calcula que o atraso será de meses, visto que os danos “foram muito severos”. Segundo o especialista em gerenciamento de riscos, uma revisão completa do projeto e a realização de obras complementares podem se tornar necessários. “Tudo isso vai para a conta da população que paga impostos”, afirmou.

    Obras para recuperação trecho que desmoronou podem durar até três meses

    De acordo com Rafael Castelo, engenheiro civil e professor da PUC-SP, do início das obras até a estabilização do local podem se passar até três meses.

    Também em entrevista à CNN, ele explicou que estudos ainda precisam ser feitos, pois um acidente como este acontece por uma somatória de fatores, e que a obra será complexa, começando pela recomposição da adutora até a estabilização do solo e reconstrução do pavimento.

    “Alguns trechos devem ficar parados por causa das investigações. É possível que a obra se prolongue um pouquinho mais”, colocou.


    Castelo afirmou que os funcionários correram “risco muito grande” com a situação, mas que eles, provavelmente, estavam bem treinados em questões de segurança de trabalho, saindo a tempo.

    Ainda assim, ele pontuou que a tecnologia utilizada nas obras é segura, adotada em outros países também.

    Para reparo, é necessário desviar fluxo de esgoto

    Segundo Sergio Ejzenberg, engenheiro civil e Mestre em transportes pela USP, entende, por outro lado, que a obra de reparo é de grande porte, mas não é complexa, principalmente por não ter atingido o leito do rio.

    Conforme explicou em entrevista à CNN, é necessário desviar provisoriamente o fluxo de esgoto, refazer o coletor e tronco e aterrar o buraco.

    “Trabalho por etapas, mas, trabalhando 24 horas por dia, com equipe e equipamento, pode ser feito bem rapidamente”, afirmou.

    Ele explica que a invasão de água provavelmente aconteceu pelas obras do metrô, pois elas acabam deslocando terra, proporcionando trincas no tronco de esgoto. Como foi uma invasão de água por solapamento, o fluxo foi menor, dando chance aos trabalhadores para saírem do local.

    Interdições na “principal artéria viária” da capital paulista

    Até as 19h horas desta terça-feira, as pistas central e local da Marginal Tietê no trecho que desmoronou estavam interditadas, gerando trânsito intenso na via expressa, segundo Hemilton Tsuneyoshi Inouye, diretor de operações da CET-SP.

    Conforme explicou em entrevista à CNN, a Marginal Tietê é a “principal artéria viária” da capital, interligando inúmeras rodovias.

    “O volume de tráfego nesse sentido da Marginal Tietê para a rodovia Ayrton Senna é de 500 mil veículos por dia”, informou.

    Inouye recomendou aos motoristas que utilizem a Marginal Pinheiros, Rodovia dos Bandeirantes e a Tancredo Neves.

    Reparar os danos o mais rápido possível é papel do poder público e da concessionária

    O diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Transportes, Marcus Quintella, declarou, em entrevista à CNN, ser necessário para o poder público e para a concessionária realizar os reparos o mais rápido possível.

    Quintella cita tanto os dados à obra do metrô, quanto os estruturais, na Marginal Tietê, que impede o fluxo da via, atrasando deslocamentos de pessoas e cargas.

    "Pagar a conta das pessoas, não é muito possível. Mas reparar esses danos fisicamente, o mais rápido possível, já é o papel do poder público e da própria concessionária, caso ela seja realmente culpada do acidente", explica Quintella.

    "Quem quer que seja, precisa atuar 24 horas por dia porque a cada minuto, a cada atraso de hora dessa recuperação, está afetando alguém, está afetando uma vida humana, uma pessoa que precisa se deslocar", complementa.

    Opções para fugir do trânsito

    O especialista em Engenharia de Transportes, Horácio Figueira, afirmou em entrevista à CNN que se as pessoas insistirem no uso de transportes individuais, "o congestionamento que estamos vendo hoje provavelmente amanhã e nos próximos dias tenderá a aumentar".

    Figueira defendeu o uso de transportes coletivos neste momento, e citou a linha vermelha da CPTM e o corredor de ônibus na Avenida Marquês de São Vicente como opções para o deslocamento. Além disso, o especialista defendeu que o fluxo na via expressa da Marginal Tietê — que está liberado — seja reservado a ônibus e caminhões.

    Como "rotas de fuga" aos motoristas, Figueira defendeu caminhos por dentro dos bairros da cidade, como a Marquês de São Vicente, Rua Clélia, na Lapa, ou cruzar a Ponte do Piqueri para fugir do trecho interditado. De acordo com o especialista, o desvio por dentro da cidade deve ser feito apenas por automóveis, e que os veículos pesados tenham prioridade na via expressa pois "sem os veículos de carga, a cidade para".

    "Se tivermos interdição total na Marginal Tietê aí será um caos", concluiu.

    "Problema de infraestrutura é generalizado no Brasil"

    Para o economista e professor do Insper Paulo Furquim, o problema de infraestrutura é recorrente no Brasil, e o acidente na obra do metrô em São Paulo, nesta terça-feira (1º), só evidencia uma área do país que necessita de reformulações.

    "O que vimos hoje é um acidente, mas o que mais chama atenção é a recorrência. Nosso problema de infraestrutura é generalizado no Brasil, muitas vezes nosso problema não é nem o acidente em uma obra, é a ausência da obra, essa é uma agenda brasileira urgente", afirmou Paulo Furquim.

    *com produção de Giulia Alecrim, da CNN

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