Especial Eleições 2022 – Tem mais LGBTQIAP+ na política!
Nas eleições de domingo, o Brasil elegeu um número recorde de candidaturas declaradamente da comunidade. Ao todo são 18 parlamentares, incluindo as primeiras deputadas federais transexuais.
Até onde vai a nossa bandeira LGBT?
Quando a balançamos nas ruas, pedimos respeito e, principalmente, direitos – para que possamos, com segurança (eu disse segurança), viver em sociedade.
Mas o quanto essa bandeira realmente chama a atenção?
Sem dúvida vamos mais longe quando quem a carrega conquistou um lugar na política e está disposta a reivindicar até o básico, que já deveria estar garantido em lei.
Esse ano nós demos um passo importante, nessas eleições.
O país elegeu um número recorde de candidaturas declaradamente parte da comunidade para nas diferentes esferas do Poder Legislativo no Brasil.
Ao todo são 18 parlamentares – 13 deputados estaduais, 1 deputado distrital e 4 deputadas federais (essas últimas, todas mulheres).
Isso significa o dobro (eu disse o dobro) dos candidatos eleitos em 2018.
De acordo com a ONG VoteLGBT, que fez o mapeamento tanto das candidaturas quanto dos cargos eleitos, também conquistamos um novo recorde: de gênero e raça entre todas as candidaturas eleitas da nossa comunidade. 16 são mulheres. Destas, 14 são negras.
Mas você parou para pensar qual a importância de grupos minoritários, como nós LGBTs, na política?
“Sem diversidade não há democracia”
A frase curta e significativa é da Evorah Cardoso, integrante do VoteLGBT.
A gente não consegue traçar nenhum histórico mais aprofundado, mas precisamos de mais LGBTS, mulheres, negros e indígenas fazendo legislação. Quando a gente fala sobre a população LGBT isso é ainda mais grave porque o Congresso Nacional nunca aprovou nenhuma lei favorável à população LGBT. Todos os direitos foram conquistados por meio de decisões judiciais: como a criminalização da LGBTfobia, o direito ao casamento, direito ao nome.
Evorah Cardoso, integrante da ONG Vote LGBT
Ainda lutamos pelo básico. Leis que possam efetivamente nos proteger. E o caminho para conquistarmos mais direitos é um só: elegendo representantes que conheçam de perto as nossas dores.
E está sendo marcante para a comunidade.
Nessas eleições a gente teve um aumento significativo, o Vote LGBT divulgou que são 18 pessoas LGBTs que foram eleitas, sendo 5 delas mulheres trans e dois homens gays cisgêneros, então esse é um momento significativo para todo o Brasil
Renan Quinalha, especialista da CNN em direitos humanos e diversidade
E nesses números que só nos orgulham, duas mulheres trans fazem história. Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP) são as primeiras parlamentares trans do Congresso Nacional. Aliás, Erika Hilton bateu mais uma marca histórica: foi eleita entre os 20 mais votados para a Câmara dos Deputados, ocupando a 17ª posição com 256.903 votos.
Sim. Existimos e ocupamos espaços.
“A representatividade LGBTQIA+ nessas eleições demonstram a estratégia que vem se desenhando desde 2014, quando se começou a trabalhar para a campanha de 2016. A gente tinha na cabeça a ideia de que precisaria ocupar esses espaços.” A ideia que está dando certo tem a ajuda de Keila Simpson, presidente da ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
Para essas pessoas trans, eleitas para o Congresso Nacional pela primeira vez na história, não será uma atuação fácil, nada nunca foi fácil para nós. Elas sabem que vão enfrentar muitos desafios e nós vamos estar aqui no suporte. Se esse país é um país democrático, ele tem que dar chance de todas as pessoas que vivem nesse país disputar cargos eletivos e os mais altos cargos também
Keila Simpson, presidente da ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais
O número de candidaturas também fez história nessas eleições. Foram 317 LGBTs na disputa pelos cargos.
Isso também comprova que existe um espaço político sendo aberto cada vez mais e com foco nessas mudanças para ocuparmos mais e mais esse espaço: a política nacional.
Considerando todos os cargos de Legislativo, Executivo, todos os níveis federais, município, Estado e União, que são resultantes de eleições, LGBTs ocupam só 0,16% dos cargos políticos. E não vão ser 9 candidatos a mais eleitos que vão mudar essa proporção nacional. Então a gente tem um caminho pela frente.
Evorah Cardoso, integrante do VoteLGBT
O caminho é longo e cheio de dificuldades. Mas nada que supere a batalha diária que nós, da comunidade LGBTQIAP+, precisamos travar para sobreviver e sobressair nas mais diversas áreas de nossas vidas.
Então é certo que um dia a gente chega lá.
- Produção: Letícia Brito e Talita Amaral