Entidades temem nova alta de islamofobia após PF deter suspeitos de terrorismo
Estima-se que no Brasil vivam de 1,2 milhão a 1,5 milhão de pessoas na comunidade muçulmana
Entidades e lideranças da comunidade muçulmana no Brasil temem uma nova alta de casos de islamofobia, após vir a público, nesta quarta-feira (8), uma operação da Polícia Federal com prisões e mandados de busca e apreensão contra suspeitos de ligação com terrorismo. As denúncias de preconceito já haviam crescido desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro, e o quadro foi levado ao conhecimento do Ministério da Justiça.
“Infelizmente, o início do conflito fez crescer o volume de denúncias que recebemos e creio que essa investigação faça crescer ainda mais”, disse o advogado Girrad Sammour, presidente da Associação Nacional de Juristas Islâmicos (Anaji).
Na semana passada, a entidade apresentou um panorama da islamofobia e da recente alta ocorrida após o início dos conflitos na Faixa de Gaza à secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Estela Aranha – muitos dos casos ocorrem por meio de comentários e conteúdos postados nas redes sociais, mas a Anaji também recebeu maior volume de denúncias de preconceito em transporte público e outras situações, principalmente contra mulheres.
Estima-se que no Brasil vivam de 1,2 milhão a 1,5 milhão de pessoas na comunidade muçulmana.
“Já nas primeiras semanas (após o início do conflito), recebemos mais de 200 denúncias de islamofobia, ante uma média de 30 a 40 casos por mês. Esse número já é maior e acredito que cresça mais”, afirmou Sammour.
O vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Ali Zoghbi, aponta a mesma percepção de alta dos casos de preconceito e o temor de que investigações sobre supostos brasileiros ligados ao Hezbollah e a um plano de ataques terroristas no país sirva de estopim para um aumento ainda maior de islamobofia.
“Muito disso é fruto de generalizações e desconhecimento sobre os princípios islâmicos, por isso nosso trabalho de difusão de que o Islã prega o amor e a paz”, disse Zoghbi. “Ninguém que comete atos de violência contra qualquer pessoa pode avocar para si a representação da nossa comunidade.”