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    Entenda por que muitas pessoas não comem carne vermelha na Sexta-feira Santa

    Pela liturgia cristã, o dia é reservado para a penitência, como um convite para refletir sobre a morte de Cristo

    Luan Leãoda CNN*

    Uma das principais datas do calendário cristão é a Sexta-feira Santa, também conhecida como Sexta-feira da Paixão. O dia marca a crucificação de Cristo após ser julgado pelo Sinédrio Judaico e o Senado Romano, e faz parte dos dias finais da Semana Santa. A semana começa no Domingo de Ramos, que põe fim a Quaresma — período de 40 dias que prepara para a celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo — com início na quarta-feira de cinzas, após o carnaval.

    A preparação permite lembrar e celebrar a via-sacra ou via-crucis, que consiste no caminho pelo qual Jesus Cristo percorreu carregando a cruz até ser crucificado. A prática teve origem no século IV, quando os cristãos iam a Jerusalém e realizavam o trajeto da Paixão de Cristo. A partir do século XVII ficou popularizado no mundo inteiro, sendo relembrado anualmente pelas comunidades cristãs durante a Quaresma e a Semana Santa.

    Por recomendação da Igreja Católica, o período é reservado para o cumprimento de penitências, principalmente nas sextas-feiras, e sobretudo voltadas à alimentação, podendo ser feito jejum ou abstinência de algum alimento. Pelo Código de Direito Canônico, conjunto de leis que regem a Igreja, o jejum é “forma de penitência que consiste na privação de alimentos”, enquanto a abstinência “consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre”. Mas, afinal, por que não pode comer carne vermelha?

    O padre José Ulisses Leva, da Capela Sion, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, graduado em teologia e filosofia, doutor em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma-Itália) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) explica o motivo pelo qual é restrito o consumo de carne vermelha nesta preparação. “A Solenidade da Páscoa, de fato, é fundamental para os cristãos. Na Igreja Católica se restringe a não comer carne vermelha: na Quarta-Feira de Cinzas e Sexta-Feira Santa. A carne vermelha recorda o corpo de Jesus Cristo”, diz o professor.

    Na liturgia católica, ressalta Leva, o número de dias também é uma referência ao período de peregrinação de 40 dias de Jesus no deserto, quando, após ser batizado por João Batista, jejuou, foi tentado pelo diabo por três vezes e resistiu. A Quaresma é o período em que a igreja se une ao mistério de Jesus no deserto, uma oportunidade de reflexão sobre a paixão e morte de Cristo.

    Em 2024, a Quaresma começou na quarta-feira, dia 14 de fevereiro, e teve fim no dia 28 de março. A sexta-feira da paixão acontece hoje, dia 29, e a Páscoa — ressurreição de Cristo — no domingo, dia 31 de março.

    Cardápio da Quaresma

    A nutricionista Maria Clara Santana, formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destaca que não consumir carne vermelha na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa não causa prejuízos à saúde e sugere alternativas. “Em termos nutricionais não existe prejuízo para a saúde dessa abstinência, uma vez que é algo pontual e que é um alimento que conseguimos alimentos substitutos que ofertam nutrientes semelhantes e podem ser consumidos nesse período”, explica.

    “A carne vermelha faz parte do grupo de alimentos proteicos, a substituição pode acontecer com outros alimentos desse mesmo grupo como o frango e o peixe, sendo o peixe o mais utilizado e orientado pela igreja nesse período”, completa a especialista.

    Para os fiéis que realizam a troca da carne vermelha por frango ou peixe, a nutricionista aponta os benefícios dos alimentos para adultos e crianças. “As proteínas, principal componente desses alimentos, têm papel fundamental no crescimento, constituição de órgão, transporte de vitaminas e até na formação de hormônios. Além de que oferecem uma gama de nutrientes importantes para o funcionamento adequado do nosso corpo, como as vitaminas do complexo B, ferro e em especial os peixes ainda oferecem óleos essenciais, como o ômega 3, tão importante na saúde cardiovascular”, ressalta.

    (*Sob supervisão de Felipe Andrade)

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