Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Em 15 anos, 1,5% de operações policiais no RJ foram eficientes, aponta pesquisa

    Levantamento feito na Universidade Federal Fluminense (UFF) analisou impactos, motivações e quantidade de material apreendido nas ações entre 2007 e 2021

    Iuri Corsinida CNN

    no Rio de Janeiro

    Entre 2007 e 2021, 1,5% das operações policiais realizadas no estado do Rio de Janeiro foram consideradas eficientes, de acordo com o levantamento do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (GENI) da Universidade Federal Fluminense (UFF), produzido à pedido da CNN.

    Em 15 anos, foram 17.929 operações contabilizadas pelo Indicador de Eficiência das operações policiais.

    O indicador tem como base os impactos para os envolvidos nas ações, como o número de mortos, feridos e presos.

    Considera ainda as motivações para as operações, como o cumprimento de mandados de prisão e/ou busca e apreensão, repressão ao tráfico de drogas e armas, disputas entre grupos criminais, fuga e/ou perseguição, motivações patrimoniais, retaliação por morte ou ataque a unidade policial.

    Outro item avaliado são as apreensões de armas, drogas, cargas e veículos.

    Seguindo estes critérios, das 17.929 operações analisadas no período de 15 anos, 28,6% foram apontadas como ineficientes, 9,6% como desastrosas, 44,8% como pouco eficiente e 15,4% como razoavelmente eficientes.

    O pior ano em termos de resultados foi 2007, com 49,74% das ações policiais classificadas como ineficientes ou desastrosas.

    Depois aparecem os anos de 2021, com taxa de ineficiência de 46,4%; 2008, com 42,41%; 2009, com 41,7%; 2019, com 39,7% e 2020, com 39,66%.

    A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que “as ações da Corporação são precedidas e direcionadas a partir de informações do setor de inteligência e de órgãos oficiais, como o Instituto de Segurança Pública (ISP), sendo executadas com base em protocolos técnicos e definidos pelas legislações e determinações judiciais vigentes”.

    Na nota, a Polícia Militar acrescenta ainda que, em 2022, a corporação prendeu mais de 19.500 criminosos, apreendeu mais de 2.000 adolescentes infratores e retirou das ruas mais de 3.300 armas de fogo, sendo 187 fuzis.

    Em números absolutos, foram 1.728 operações classificadas como desastrosas e 5.122 como ineficientes.

    De acordo com os dados do GENI, houve, em média, uma operação ineficiente ou desastrosa por dia no período de 15 anos. Além disso, foram apontadas 8.035 operações policiais pouco eficientes, 2.769 razoavelmente eficientes e apenas 275 eficientes.

    Segundo consta no relatório, os pesquisadores do GENI afirmam que “as operações policiais melhor avaliadas teriam nenhum morto ou ferido, e prisões e apreensões (sobretudo armas) como resultado, além de motivações associadas a procedimentos judiciais e investigativos (como mandados de prisão ou busca e apreensão) ou ao atendimento de demandas urgentes da população residente em favelas (como as causadas por disputas entre grupos criminais).

    Inversamente, as operações com pior avaliação seriam aquelas com mais mortos e feridos, sem prisões e apreensões, e motivadas por ações reativas como retaliações e perseguições improvisadas”.

    A CNN também solicitou e aguarda um posicionamento da Polícia Civil e Forças Armadas Brasileiras sobre o levantamento.

    Operação no Complexo do Alemão

    A operação do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, realizada na quinta-feira (21), não está incluída no levantamento do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (GENI) da UFF.

    Na avaliação do sociólogo Daniel Hirata, integrante da pesquisa, tanto esta, quando a operação policial realizada em maio deste ano, na Vila da Penha, “são claramente desastrosas”.

    A operação no Complexo do Alemão foi a quinta mais letal da história do estado, com 18 mortos após mais de 11 horas de confrontos.

    Enquanto nesta ação foram apreendidos três fuzis, duas pistolas uma metralhadora .50 e artefatos explosivos, na ação policial mais letal da história da cidade, que ocorreu em maio do ano passado, no Jacarezinho, foram apreendidas 15 pistolas, 6 fuzis, 1 submetralhadora e munições antiaéreas.

    Já na operação da Penha, foram recolhidos 13 fuzis, quatro pistolas e 12 granadas.

    Quatrocentos agentes foram empregados na ação do Complexo do Alemão. O número é o dobro do contingente de forças policiais utilizadas no Jacarezinho.

    Já o saldo de apreensões de armas foi cerca de três vezes menor na comparação entre os dois confrontos.

    A quantidade de armas recolhidas no Complexo do Alemão também foi aproximadamente duas vezes menor do que a realizada na Vila da Penha, que teve 90 agentes empregados e deixou 23 pessoas mortas.

    Para o sociólogo Daniel Hirata, a quantidade de armas apreendida no Alemão é irrelevante. Ainda segundo ele, as operações no Rio costumam ter um número muito baixo de prisões e apreensões em comparação com o número de mortes.

    “É um padrão da imensa maioria das operações policiais no Rio de Janeiro: alta letalidade e baixa efetividade, e é uma distorção absoluta. As operações são, por vezes, necessárias, e devem ser feitas de forma segura e com as devidas cautelas, no intuito de ter números maiores de prisões e apreensões em relação ao de mortes. O que percebemos é que não são operações seguras para os moradores destes lugares e tem efetividade muito baixa na resolução do trabalho policial”, pontua Hirata.

    O sociólogo avalia que a operação do Alemão se assemelha mais com a do Jacarezinho, do que com a da Penha. Isso porque, segundo ele, o grande “detonador” da alta letalidade foi a morte de um policial – ponto em comum entre as ações na Penha e no Jacarezinho.

    Ele chama as ações de “operações vingança” e explica que a denominação é dada quando ocorre uma nova investida após um agente ter sido morto. Ainda de acordo com o pesquisador, este tipo de ação é até quatro vezes mais letal do que as operações motivadas por mandados de busca e apreensão.

    Em 2021, logo após a operação do Jacarezinho, o GENI fez um levantamento à pedido da CNN.

    O estudo apontou que, desde 2007, ocorreram mais mortes do que apreensões nas operações policiais realizadas na área.

    Daquele ano, até a última operação realizada em 2021, antes da que terminou com 28 pessoas mortas, ocorreram 290 incursões policiais no local. As incursões deixaram 186 pessoas mortas e outras 139 feridas. O número é maior do que o total de apreensões de armas, drogas e veículos feitas na favela no mesmo período, que foi de 167.

    Veja o ranking das operações letais:

    • 1 – Jacarezinho, 28 mortos (maio de 2021)

    • 2- Penha, 24 mortos (maio de 2022)

    • 3 – Vila Operária, 23 mortos (janeiro de 1998)

    • 4 – Alemão, 19 mortos (junho de 2007)

    • 5 – Alemão, 18 mortos (julho de 2022)

    • 6 – Senador Camará, 15 mortos (janeiro de 2003)

    • 7 – Fallet, 15 mortos (fevereiro de 2019)

    • 8 – Alemão, 14 mortos (julho de 1994)

    • 9 – Alemão, 13 mortos (maio de 1995)

    • 10 – Vidigal, 13 mortos (julho de 2006)

    • 11 – Catumbi, 13 mortos (abril de 2007)

    • 12 – Alemão, 12 mortos (agosto de 2004)

    • 13 – Vila Isabel, 12 mortos (outubro de 2009)

    • 14 – Niterói – Barreto, 12 mortos (setembro de 2010)

    • 15 – Alemão, 12 mortos (maio de 2020)