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    Educação: estamos prontos para o futuro?

    Fundador do maior site de ensino gratuito do mundo, Sal Khan revela como a pandemia de coronavírus deve mudar a educação no planeta

    Sal khan, um dos criadores do ensino remoto: 'Mais importante que álgebra, que escrever, é a habilidade de pensar'
    Sal khan, um dos criadores do ensino remoto: 'Mais importante que álgebra, que escrever, é a habilidade de pensar' Foto: CNN

    Priscila Manni*

    Quando deu a primeira aula pela internet para uma prima, em 2004, Sal Khan, fundador do maior site de ensino gratuito do mundo, não fazia ideia de que dezesseis anos depois, uma pandemia obrigaria a Coreia do Sul, um dos países mais avançados em educação, a adotar a plataforma que criou para mitigar o déficit dos alunos que teriam que aprender de casa.

    Duzentos milhões de seguidores depois, Khan tem na ponta da língua as habilidades necessárias para os professores que tiveram que encarar um futuro antecipado em 10 anos. “Quando falamos de professores ensinando por conferência de vídeo, as pessoas começaram a perceber rapidamente que se você fala por uma hora sem parar, você vai perder a atenção dos estudantes. É preciso tirar os alunos de suas conchas, criar sessões interativas, ter capacidade de improvisar e de ser espontâneo”, afirma.

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    Khan percebeu de antemão que a tecnologia não era apenas um meio facilitador, mas trazia consigo a modernização de um setor que não vê grandes mudanças há décadas. “Se você olhar uma sala de aula de 1960 e uma sala de aula de 2020, você vai ver que é muito parecida, não tiveram grandes mudanças. Quando a gente olha um hospital ou uma empresa, as mudanças são bruscas e muito significativas, então você percebe que o próprio âmbito educacional é o que caminha com passos um pouco mais lentos quando a gente fala de tecnologia”, explica a psicopedagoga Nathalia Pontes.

    Para aqueles que estudam as mudanças no ensino, a pandemia do novo coronavírus acelerou um novo tipo de olhar sobre a geração que já foi apelidada pela revista The Economist como “geração Zoomer” – uma referência ao aplicativo de conferências, que já vale mais que as sete maiores companhias aéreas do mundo juntas. “Os estudantes estão passando menos tempo numa sala de aula, então, em casa, eles vão ter que trabalhar no seu próprio ritmo e tempo. O ensino tradicional é baseado na quantidade de horas que você passa sentado numa cadeira e se você vai bem, você passa. No aprendizado baseado em competência, o que importa é se você obtém um nível alto de compreensão e se você consegue mostrar isso. Como você chega lá é menos importante. Algumas pessoas talvez demorem um mês, outras um ano”, explica Sal Khan.

    De todos os males que a pandemia trouxe, na educação, há um lado positivo a ser considerado. Um setor ainda com alicerces em conceitos antigos pode ter sido obrigado a empurrar professores, alunos e pais rumo a uma nova forma de pensar.

    Para o criador do termo “nativo digital”, Mark Prensky, não adianta oferecer no modo virtual o mesmo tipo de ensino que era feito presencialmente. “A diferença não vem tanto da tecnologia, porque todo mundo pode usar tecnologia em diversas maneiras. A diferença está nas crenças, a diferença está no que as pessoas pensam. Então, um ótimo exemplo é a última geração pré-internet, que pensou que as crianças não tinham nenhum poder, pensou que crianças não podiam fazer nada, então essa é razão pela qual fomos obrigados a colocá-las em escolas e dissemos: bem, se não lhe ensinamos algo por 6, 12 ou 20 anos, elas não poderão fazer nada”, afirma Prensky.

    O criador do termo 'nativo digital', Marc Prensky
    O criador do termo ‘nativo digital’, Marc Prensky, acredita que as crianças devem ser empoderadas
    Foto: CNN

    Um futuro que coloca desafios ainda maiores para um país como o Brasil. Em 2019, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), colocou o país entre os 20 piores do mundo na educação e afirmou que os últimos dez anos haviam sido de estagnação no nível de desempenho escolar dos alunos.

    Além disso, a última pesquisa do Cetic, Centro Regional para o Desenvolvimento de Estudos sobre a Sociedade da Informação, mostra que mais de 20 milhões de casas no país ainda não possuem acesso à internet.

    Para o diretor da Associação Brasileira de Ensino à Distância, Stavros Xanthopoylos, o tamanho e a diversidade do Brasil não são desculpas para a falta de modernização. “O estado do Amazonas tem resolvido muito bem esse alcance, utilizando a televisão e o satélite como meio de educação justamente por causa da distância e dos aspectos remotos. A internet e esses meios da tecnologia educacional vêm justamente para fazer com que essa desigualdade se reduza”, diz Xanthopoylos.

    Escola construtivista Sarapiquá
    Escola construtivista Sarapiquá: passou a rever seus conceitos para acompanhar a modernização no ensino
    Foto: CNN

    Entre tantas incertezas que um momento de transformação traz para um setor tão tradicional como a educação, é preciso lembrar que aprender é estar sempre em movimento, aberto ao novo, disposto a evoluir, abrindo mão de antigas crenças e de preconceitos.

    Apresentado por Evaristo Costa, o Séries Originais é exibido pela CNN aos domingos, às 19 horas. Conheça qual é o canal na sua operadora.

    *da DOC. Films, especial para CNN Brasil