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    Dólar alto acelera reação via exportação e investimento, diz economista do Inter

    Rafaela Vitória vê parceria comercial entre Brasil e China e atração de capital estrangeiro como caminho para retomada da economia após a pandemia

    Fernando Nakagawada CNN

    Se a viagem para o exterior fica um pouco mais cara, também há vantagens em ter o dólar em patamar mais alto. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, acredita que o atual patamar do câmbio poderá potencializar a retomada da economia após a pandemia em duas frentes. Em entrevista exclusiva à CNN, a economista explica que a primeira consequência positiva será via comércio exterior, já que o dólar alto torna os produtos brasileiros mais competitivos no exterior e, portanto, favorece as exportações. Outro desdobramento poderá ser observado na maior capacidade de atração de investimentos estrangeiros, já que os dólares valem mais reais atualmente. A vinda do capital estrangeiro está condicionada à retomada da agenda de reformas estruturais, como a tributária e administrativa.  

    Diante do novo patamar da moeda, que recentemente atingiu a marca recorde dos R$ 5,90, a economista enxerga o comércio exterior como um dos principais vetores da recuperação brasileira após a pandemia da Covid-19, especialmente com o Brasil sendo beneficiado da intensa parceria comercial com a China. O país asiático foi o primeiro a ser afetado pelo novo coronavírus e, por isso também, é um dos primeiros a iniciar a retomada da economia.

    “O dólar apreciado ajuda nas nossas exportações. Obviamente que, ao exportar em dólar, vamos ter uma receita maior em reais”, diz a economista. “Mas também há o fato da nossa pauta exportadora estar muito focada no nosso principal parceiro que é a China, e que já está em um processo de recuperação econômica. Então, produtos ligados a matéria-prima, agrícolas e minerais poderão se beneficiar”, prevê.

    Há ainda o potencial de que os chineses optem por uma agenda de obras em infraestrutura para acelerarem o seu próprio processo de crescimento, o que levaria a uma demanda maior por matérias-primas brasileiras, como o minério de ferro.

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    A especialista vê potencial para que o saldo da balança comercial brasileira termine o ano acima das expectativas do mercado: na casa dos US$ 50 bilhões. Assim, poderia impactar em até um ponto percentual a mais no PIB brasileiro, que deve cair em torno de 4,7% em 2020 em virtude da pandemia, segundo projeção da equipe econômica do governo.

    Parte desse saldo positivo também viria de uma desvantagem, que é a dificuldade dos brasileiros em comprar produtos importados nos próximos tempos com o encarecimento dos itens cotados em dólar e a queda da renda no Brasil. 

    O setor têxtil, na avaliação da especialista, está entre os que podem ser beneficiados com a substituição de importações – isto é, brasileiros passando a consumir mais produtos locais em virtude do encarecimento dos estrangeiros.

    Cotação

    Embora o mercado ainda esteja volátil, principalmente pelas incertezas em torno da pandemia e da crise política brasileira, a economista Rafaela Vitória avalia que o dólar pode sim recuar até o final do ano, sendo cotado em um intervalo entre R$ 5,00 e R$ 5,40. Nesta quarta-feira (20), a moeda encerrou cotada a R$ 5,69. 

    Para a especialista, há algumas questões que influenciam a desvalorização acelerada do real no ano, mais até do que moedas de outros países emergentes. A principal delas é a sequência de cortes na Selic, taxa básica de juros do país, iniciada em julho de 2019. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada no início de maio, a Selic foi cortada em 0,75 ponto, atingindo o patamar histórico de 3%. O mercado avalia que a taxa pode cair ainda mais ao longo deste ano, ficando próximo dos 2,5%.  

    “Essa redução da nossa taxa básica de juros torna os investimentos no Brasil menos atrativos, o que causa parte da saída dos investidores”, explica a economista-chefe. Com menos investidores, teremos menos dólares circulando no país. Com menos dólares circulando, sobe a cotação da moeda.

    Esse efeito já seria sentido em situações normais. Com a pandemia da Covid-19 e o aumento do risco, o panorama se agrava. “Há uma aversão generalisada ao risco, mas países emergentes são mais vulneráveis em momentos como o de agora”, aponta.

    A especialista entende que um caminho para que esse investimento seja novamente atraído após o momento mais agudo da crise seja seguir com a agenda de reformas estruturais – como a tributária e administrativa – e também avançar com concessões em saneamento básico e infraestrutura. Em relação ao saneamento, Rafaela Vitória lembra da necessidade da aprovação do novo marco legal do setor, que abre o mercado para a atuação privada.

    Inflação

    Um dos efeitos potencialmente mais danosos do dólar alto é o reflexo na inflação. Os preços sobem com o encarecimento de insumos dolarizados ou importados, como o petróleo e o trigo, que são a base para a gasolina e o pão, respectivamente.

    Esse efeito, no entanto, não está sendo sentido no Brasil neste momento. Uma das razões é a baixa demanda, com a pandemia e o isolamento social. “A demanda mais fraca impede você de passar para o produto final o aumento no preço de um insumo”, diz a especialista. A outra é a queda no preço das commodities no mercado internacional, que acaba balanceando o efeito do câmbio.

    Ainda segundo a economista, os setores que mais devem ser afetados são os químicos e os de máquinas e equipamentos. Esse segundo grupo é aquele que pode ser um entrave para a retomada da economia, encarecendo os investimentos necessários para a atividade industrial.

    Política

    O mercado está atento, segundo a economista Rafaela Vitória, a um aspecto da condução da pandemia do novo coronavírus. Os gastos extraordinários do governo são compreensíveis, ela explica, mas “o grande risco é o aumento de gastos desse ano se perpetuar, ou parte dele se converter em um aumento permanente de gastos”. 

    O exemplo dado é o auxílio emergencial, benefício de R$ 600 pago a informais e desempregados. A economista explica que o programa é tido como “muito importante nesse momento” e que seria compreensível inclusive a sua prorrogação. No entanto, não é visto com bons olhos que se torne um programa permanente. “Seria melhor o governo rever os programas já existentes”, argumenta.

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